Phil Rajzman

Longboard sem rótulo

Phil Rajzman fala o que realmente importa na hora de escolher o modelo de prancha: botar pra baixo e se divertir.

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Phil Rajzman reflete sobre a história e as origens do longboard.

Há um tempo algumas discussões sobre a essência do longboard começaram a surgir. Monoquilhas, triquilhas e madeirites são apenas pranchas diferentes, mas, no fim das contas, o que realmente importa é botar para baixo e estar em conexão com o mar. Essa é a razão do surfe: a conexão e a diversão.

Por isso, achei importante fazer uma reflexão sobre a história do esporte e nossas origens e quem sabe, tirarmos disso um olhar mais humilde sobre as nossas opiniões e rótulos. Surfar é além.

Tudo começou com os polinésios, que chegaram ao Havaí e em outros lugares do mundo, mas, foi no arquipélago havaiano onde a essência do surfe prevaleceu e até hoje é muito forte. No início, os polinésios colonizadores usavam as canoas como transporte e como precisavam sair para pescar, era importante que a canoa pudesse surfar as ondas para o retorno à terra.

A partir do momento que os pescadores começaram a desenvolver essa habilidade de domar as ondas e sair do mar com a canoa, eles descobriram o inevitável: a diversão que o surfe proporciona.

A partir daí, o surfe começou a se tornar recreativo e eles entenderam que canoas menores eram mais ágeis. E assim foram moldando seus shapes até chegarem aos longboards de madeira. O surfe crescia a todo vapor e ganhava fama.

Em 1821, quando os missionários calvinistas chegaram ao Havaí, proibiram o surfe na ilha e o esporte deixou de ser comum entre os nativos. Mesmo com as imposições, o surfe não morreria e voltou a fazer sucesso quando George Freeth e Duke Kahanamoku, conhecidos como os Beach Boys de Waikiki, expandiram os horizontes do esporte.

Bicampeão mundial, brasileiro é conhecido pela radicalidade dentro da água.

George foi para Venice Beach, Califórnia (EUA), e ficou conhecido como o homem que conseguia andar na água, chamando a atenção dos americanos para o surfe. Enquanto isso, Duke ganhou várias medalhas nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, e virou embaixador do surfe pelo mundo, levando o esporte para vários países como Austrália e Nova Zelândia.

O surfe dos Beach Boys inspirava novas maneiras de shapear pranchas, que passaram ter as vigas usadas na construção de casas como matéria-prima. Foi aí que o Hobie, um dos pioneiros junto com a Clark Foam, começou a criar a indústria do surfe. Hobie era engenheiro, então ele pegava as vigas de construção, colava, shapeava e vendia.

Nessa época o surfe começou a crescer e surgiu o poliuretano para substituir a madeira. Ele flutuava muito mais e por isso foi possível diminuir o tamanho das pranchas, até chegarem as pranchinhas que passaram a ser o “futuro do esporte”. E o longboard começou a desaparecer com essa explosão no mercado.

Em 1980, um novo movimento começou a resgatar o longboard, principalmente na em Malibu e San Diego, Califórnia. Esse movimento fez o longboard se popularizar novamente. Malibu, que já havia sido um pico exclusivo para os pranchões e perdera o posto para as pranchinhas, voltou a ser um pico de longboard.

Tudo isso porque os californianos entenderam que o poliuretano também seria bom para os 9 pés e que era possível desenvolver shapes para situações extremas, como as do Havaí.

Com a evolução, vieram as competições que mesclavam manobras clássicas e progressivas. Durante muito tempo o critério de julgamento foi metade / metade e as pranchas começaram a acompanhar essa versatilidade. Triquilhas de 9 pés começaram a aparecer e outros shapes que possibilitavam manobras mais arriscadas ganharam espaço entre os longboarders.

Phil também demonstra sintonia com o mar quando aposta no estilo clássico.

O longboard voltou a roubar a cena com manobras radicais, aéreos e outras inovações no repertório. Afinal, radicalizar num pranchão exige técnica muito apurada e força.

Na contramão desse movimento que unia o clássico ao progressivo, surge um movimento na Califórnia que começa a valorizar o surfe clássico, as monoquilhas e as logs como se fossem os únicos ícones do esporte. De repente, ou você é triquilha ou um longboarder monoquilha, mas, na verdade, essa separação não reflete o melhor cenário para o esporte e, na minha opinião, o real. Tudo é longboard! Você pode mandar um aéreo ou aquele lindo hang ten, e nos dois casos será um longboarder quebrando no pico.

A grande verdade é que as loggies funcionam para ondas pequenas e mais calmas e as triquilhas funcionam melhor para ondas mais pesadas. Dependendo da onda, você escolhe o shape ideal. Quando você limita o seu quiver a um único modelo, limita seu desenvolvimento.

Assim como o surfe, o longboard evoluiu e ampliou nossas possibilidades. Existe uma lei natural da evolução e o que servia em uma época pode não servir em outra. O importante é que o surfista saiba o que faz ele se sentir melhor na água. A natureza permite que a gente seja o que quiser e há ondas para todo mundo.

Mais do que separar o esporte em duas vertentes, vale unir para que o longboard cresça e com ele todos nós. As Olimpíadas estão aí e devem unificar os estilos na competição. Tudo voltará à verdadeira essência: domar as ondas e se divertir.