Há poucas semanas tive a oportunidade de viver um dos dias mais felizes da minha vida. Aceitei um convite da marca de pranchas Hobie para dar aula de surfe a uma turma de cegos, em Ponto Beach, Califórnia (EUA).
Este encontro acontece anualmente e vou dividir essa experiência com vocês porque acredito que o maior legado que um atleta pode deixar, além dos títulos, são os exemplos de ações que inspiram as pessoas a realizarem o que elas imaginavam ser difícil ou até mesmo impossível. Esse é um dos maiores desafios e a maior recompensa!
Senti a mesma alegria que em minha primeira vez surfando quando Luiz (cego) pegou sua primeira onda. Aquele dia me fez entender o quanto uma onda pode mudar uma vida inteira de limitações.
Lembrei do Derek Rabelo, um amigo que é referência brasileira no surfe. Ele é cego e dropou Pipeline, uma das ondas mais temidas do mundo. É uma inspiração para todos nós surfistas. Superou o desafio e foi além.
O surfe, assim como os outros esportes, está se tornando cada dia mais acessível e o Brasil já é referência no assunto. Em 2017, conquistamos o bicampeonato no Circuito Mundial de Surfe Adaptado, realizado pela ISA (International Surf Association), na categoria equipe. Nas categorias individuais, tivemos seis medalhistas entre os melhores do mundo.
O campeão Mundial de 2016, Davizinho, conquistou a medalha de prata na categoria AS-5 Assist. Davi tem 11 anos, é carioca e surfa muito. Tenho orgulho imenso de ver o Brasil se destacando também no surfe adaptado. E somos referência não só nos títulos, mas nos projetos sociais voltados à modalidade.
O projeto Adaptsurf leva deficientes físicos e visuais às praias e ao surfe, no Rio de Janeiro, todos os finais de semana desde 2007. É o único projeto no mundo que garante acessibilidade às praias todos os finais de semana.
Este trabalho merece todo respeito, não só pela inclusão social que ele promove. Por mostrar o quanto existem pessoas fortes e determinadas a superar as adversidades e doar o que têm de melhor para ajudar ao próximo. Desde o inicio do projeto, a ONG registrou mais de 1500 voluntários e mais de 4 mil horas aula de surfe.
Além do trabalho social, a ONG também é a responsável pela escolha do time brasileiro no mundial e pelo treinamento de toda a equipe feminina do evento, que já tem a data da próxima etapa confirmada para dezembro, em La Jolla, Califórnia.
Aliás, voltando à Califórnia, onde comecei o texto, o estado é a referência em acessibilidade e na quantidade de surfistas adaptados. Apesar da nossa importância no campeonato mundial, ainda temos que pensar no quanto precisamos evoluir estruturalmente para promover a inclusão social a todos.
É muito importante colocar este tema em foco e pensar no longo caminho que temos pela frente! Parabéns a todos que já fazem a diferença!
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