Levei um tempo maior do que queria pra voltar a escrever aqui na minha coluna do Waves desde o meu último texto. Será que fui eu que demorei ou foi o tempo que passou mais depressa que o normal? No meu caso, ele tá sempre voando, e não por coincidência este texto está sendo escrito dentro de um voo de volta pra casa depois de mais um show. Turbulência leve neste exato momento. No ar e na mente.
Minhas últimas semanas foram especialmente turbulentas, desde o lançamento de “Tô feliz (matei o presidente) 2”, que viralizou, polemizou, emocionou… e ainda está quente e livre de censura, pelo menos na internet – algumas TVs se recusaram a passar seu clipe, ou a me receber para cantá-la, e rádios são poucas que tocam algo assim.
Mas, na verdade, as minhas aflições recentes não estão tão ligadas ao trabalho, mas principalmente à família. Não vou entrar em detalhes, mas vocês podem usar a criatividade, imaginando certos dramas comuns a todos nós misturados num caldeirão de acontecimentos inesperados e complicados. Internação, depressão de parente muito próximo, reconciliações, separações, revelações, emoções, (in)!decisões. E mudanças, muitas mudanças.
Fim de ano é, para muitos, tempo de reflexão, e eu estava numa roda-viva tão acelerada que não conseguia me concentrar direito nos assuntos, como se fugisse inconscientemente de um problema para outro.
Um aluno olhando os problemas na prova da vida e pulando as questões sem resolver nenhuma equação. Muitos x, muitos y e muitas interrogações.
O que eu não tinha notado é que esse meu desequilíbrio tinha relação direta com a minha distância da água. Um peixe fora d’água, pisciano com ascendente em aquário, sufocado e sendo puxado por vários anzóis em cabo-de-guerra.
Foi então que eu decidi marcar uma trip de surf para me obrigar a cuidar um pouco de mim. Desde junho eu não pegava onda e não fazia nenhum tipo de exercício, com exceção de dois únicos dias em julho. Comecei até a criar uma barriguinha inédita, que serviu como um sinal de alerta. Marquei pra janeiro uma ida a Marrocos, ondas longas e desconhecidas, muita remada de long john. Emiti logo o ticket pra não mudar de ideia. “Ferrou! Tenho que me desenferrujar”, pensei. E agi.
Na falta de ondas e na minha rotina que me leva pra muitas cidades sem mar, comecei a nadar no meio de novembro, “quando dava”, mas já em dezembro, a 30 dias da viagem, passei a priorizar essa necessidade, nadando quase todo dia, mesmo cansado antes de fazer um show ou até mesmo de madrugada, depois de ver uma final e correr das bombas e brigas no Maracanã. Sem esquecer o surf noturno no Arpoador mesmo com mar ruim, quando não dava tempo de surfar de dia.
Cortei doce e carboidrato pela primeira vez na vida e em duas semanas minha barriga embrionária já está sumindo num aborto natural, mas o melhor de tudo foi a transformação mental e “espiritual” que a volta à água me trouxe. Ainda voltarei a escrever sobre natação, mas aqui fica a constatação de que a paz não é tão inalcançável quanto parece, mesmo nos momentos mais problemáticos e tensos das nossas vidas. Não devemos nos afastar nunca da busca pelo nosso bem-estar, da nossa saúde física e mental, distraídos pela necessidade de buscar outras coisas que servem apenas como bóias.
Não quero bóias, quero nadar de braçada, contra a corrente, se for. Em frente e sem medo. Não quer dizer que os problemas desaparecerão diluídos no cloro, mas com certeza terei cada vez mais força e fôlego para tentar resolvê-los.
E assim desejo a todos os leitores do Waves muito oxigênio nos pulmões e muita paz nos corações em 2018! E a mesma ideia vale também para os que não podem fazer exercícios físicos: vamos buscar sempre o “movimento”, a evolução, não deixar o caos nos congelar, não deixar a dor nos dominar, não perder a sede de abrir portas, criar caminhos, mergulhar na vida e seguir metro por metro, inspirando e expirando, inspirando e expirando, inspirando-nos e inspirando a todos que nos cercam.
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