Surf & Aventura

Mudanças drásticas à frente

Alex Gutenberg analisa as repentinas e drásticas mudanças no circuito mundial.

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Championship Tour sem Pipeline é a mesma coisa que Fórmula 1 sem Mônaco.

Muito bem, vamos lá. Na última coluna eu mandei um debate sobre o surfe participar ou não das Olimpíadas. A discussão foi boa, muita gente escreveu suas ideias. Gostei. A maioria gostou. Mas o surfe profissional, para evoluir, precisa de melhorias e correções de rumo. Eu tenho algumas ideias polêmicas sobre isso e vou colocá-las aqui. Já as discuti com amigos e muitos concordaram comigo.

O problema, antes de mais nada, é que a WSL, de repente, do nada, se perdeu. A presidente da entidade entrou em conflito com o prefeito de Honolulu e o Pipe Masters está ameaçado. A WSL quer o Pipe Masters em janeiro de 2019, provavelmente por causa dos patrocinadores (e talvez para fugir do mico de 2017, Pipeline não bombou em dezembro, apenas em janeiro), enfim, não importa o motivo, a verdade é que, segundo a prefeitura da capital do Havaí, o departamento que cuida de parques e praias não recebeu o pedido de transferência da data em tempo. E não vai conceder o desejo da WSL.

Nesse caso, as temporadas de 2019 e 2020 ficariam sem a maior das disputas do ano. Triste realidade. Vamos nos render à piscina do Kelly? Ainda ninguém sabe o que vai acontecer. Na minha opinião, é tudo questão de dinheiro. Está na cara que a prefeitura de Honolulu cresceu o olho nos patrocínios da WSL. Circuito Mundial Profissional sem uma etapa havaiana é furado. Como fazer o circuito de tênis sem Wimbledon ou o Mundial de Fórmula 1 sem Mônaco. Ou a Copa do Mundo de futebol sem o Brasil. E tem mais: a WSL está com um novo diretor de marketing. Fala pra ele que o circuito sem Pipe Masters é puro pesadelo.

Alex Gutenberg propões mudanças na função do head judge.

Sobre mudanças

Todo mundo reclama do julgamento nas diversas baterias do circuito mundial profissional. Surfistas, técnicos, jornalistas de todos os países, Austrália inclusa, reclamam principalmente da falta de critério, ou melhor, da disparidade nos critérios e também do famigerado “dois pesos e duas medidas”. Ninguém aguenta mais. Aquele menino da Austrália venceu o JJ Florence em Pipeline, mas que juiz, que corpo de juízes teria coragem de dar a vitória para ele? Ora, zebras acontecem em qualquer esporte no mundo.

Pensando nisso por anos e anos, e após conviver em palanque de centenas de campeonatos de surfe regionais e nacionais, eu cheguei a uma boa conclusão. Existe, sim, uma maneira de melhorar o julgamento. Basta apenas tirar o head judge do palanque na hora da bateria. Ops! Calma gente. O head judge é importantíssimo. Ele orienta os juízes, ele considera as condições do mar com o diretor técnico e depois traça o perfil de como deve ser o julgamento daquele dia ou daquela etapa, e ainda deixa os juízes tranquilos e confiantes, pois os enche de conhecimento e informação. Muito bem. Mas na hora da bateria mesmo, é melhor ele fora da parada. O head judge fica ali, primeiro – dando ritmo ao julgamento, fazendo os caras reconsiderarem, pro bem ou pro mal, apertando os juízes, uma pressão enorme.

Eu acho que eles, depois de toda a orientação, deveriam ficar sozinhos e aprender a julgar sozinhos, sem orientação nas costas do head judge, buzinando no ouvido que aquela onda era melhor que a outra, ou que era maior, ou que o fulano fez mais manobras, etc. Deixe os juízes em paz, deixe os juízes cometerem seus próprios erros, aprenderem a analisar por si próprios. Pode ser que um juiz, na mesma onda, considere uma nota 8.50 e o outro ofereça ao surfista uma nota 5.00. Não faz mal. É para isso que se elimina a maior e a menor nota. Olha, eu acho que os erros iriam diminuir, os juízes iriam ficar mais tranquilos e sem a gigantesca influência do head judge (e do diretor técnico) na hora da bateria. Tirem o head judge do palanque. Os juízes vão se adaptar e dar notas sem politicagem, sem influência do head, do diretor técnico, do patrocinador.

Outra mudança muito bacana, mas para isso a etapa deveria continuar sendo a última do circuito, seria dobrar os pontos do Pipe Masters. Afinal de contas é Havaí, Pipeline, o top do surfe mundial. Então, ao invés de dez mil pontos, o vencedor do Pipe levaria 20 mil pontos. O vice 16 mil pontos e assim por diante. Seria muito legal isso, pois muitos surfistas chegariam ao Havaí em condições de vencer o Mundial e as baterias no North Shore seriam emocionantes.

Além disso, a turma lá do fundo teria condições também subir um pouco, fugir do rebaixamento. Pipe Masters tem que ser diferenciado, é muito mais legal, mais emocionante, mais desafiador do que as outras etapas, mesmo comparando com Taiti e Jeffrey’s Bay ou qualquer uma da Austrália.

– Obrigado pelas mensagens na última coluna sobre o surfe nas Olimpíadas. Ainda vou voltar a escrever sobre o assunto, pois muita coisa precisa ser esclarecida.

– Parabéns ao Lucas “Chumbinho” Chianca, que venceu Nazaré com muita categoria. Monstro. A WSL deu destaque para ele, mas a Surfer preferiu escrever mais sobre o líder do ranking em ondas grandes.