Surfe e Medicina

Cuidados para uma Boat Trip

Dr. Guilherme Vieira Lima dá dicas importantes pra você está prestes a embarcar numa surf trip.

Dr. Guilherme Vieira Lima durante boat trip para as Maldivas.

Todo surfista antes mesmo de aprender a ficar de pé na prancha, já sonha em surfar em algum local paradisíaco a bordo de um barco. Sou da época das revistas impressas que se recortavam as fotos e colavam na capa do caderno, e muitos dos meus recortes eram de “boat trips”, com um mar e céu azul, ondas perfeitas e sem crowd.

Conseguir concretizar esse sonho requer recursos financeiros, tempo e principalmente planejamento. No texto deste mês falarei um pouco do último item, já que não sou nenhum expert em finanças, tão pouco um “coach” que vai te ensinar como poupar tempo. Como médico posso ajudar com o plano do ponto de vista da saúde.

A primeira dica é: estude o local da viagem; pesquise quais são as exigências sanitárias em relação as vacinas (principalmente a febre amarela e COVID-19), alimentação e costumes locais. Para pessoas alérgicas e/ou com restrição alimentar é muito importante sinalizar essa condição para tripulação antes mesmo de começar a viagem.

Esteja fisicamente preparado. Ficar “quebrado” já no segundo dia da viagem não está no plano de ninguém que tanto sonhou com esse momento. Provavelmente a demanda física que vai precisar será muito maior do que qualquer outra “surf trip”. No barco as únicas coisas a serem feitas são comer, dormir e surfar intensamente.

Conheça os pontos que serão surfados e a previsão da ondulação. Saber o tipo de fundo e o tamanho das ondas são essenciais para a escolha do equipamento correto. Botinhas e capacete muitas vezes são necessários. Lembre-se também de uma boa roupa para proteção solar.

Lesões por ouriço também podem acontecer em viagens de surfe.

Risco de Trombose Venosa Profunda (TVP) – Muitos dos destinos paradisíacos são distantes, e o tempo de viagem é longo. Para isso, pessoas com risco de TVP se atentem para o uso de meia elástica e exercícios de mobilidade durante o percurso para prevenção da trombose causado por uma jornada extensa de avião.

Medicações para levar; para este, o ideal é marcar uma consulta com um médico que possa te orientar e receitar os itens de forma personalizada. Fármacos de uso comum como analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares, podem ser compartilhados, por isso, montar um kit único com outros integrantes da viagem vai poupar espaço e dinheiro.

Kit primeiros socorros – Material de imobilização, curativos assim como um kit de sutura são só úteis se souber saber como usa-los. Profissionais de saúde na barca são sempre bem-vindos principalmente para essas situações. Hoje já existem diversos cursos que podem ajudar, como: do SID (https://www.surfinformationdata.com), da MEDEXA (https://medexa.com.br) e da SMI (https://www.surfingmed.com).

Dr. Marcelo avalia tímpano de integrante da barca.

Na minha mais recente experiência, fui numa barca para Maldivas com um grupo de 18 pessoas entre homens e mulheres (até uma gestante), de diferentes faixas etárias e níveis de surfe. A maior parte das queixas foram de dores de origem muscular, principalmente dorsolombar e ombros.

Entre os eventos agudos, ocorreram diversos pequenos traumas contra a bancada de coral, porém em duas situações, esse trauma veio acompanhado de espinhos de ouriço do mar encravilhados na sola dos pés e em outros dois momentos ocorreram o trauma crânio encefálico (TCE) sendo que um deles necessitou de sutura.

Dr. Guilherme (Guiga) após suturar a cabeça do surfista.

Tivemos também uma lesão timpânica causada por um trauma indireto do conduto auditivo. Felizmente, nenhum dos eventos necessitou de atendimento avançado e todos tiveram um bom desfecho. Essa barca foi, de certa forma, privilegiada de ter dois médicos “on board”.

A tecnologia da telemedicina para este tipo de viagem também é um grande aliado para os momentos de perrengue, mas fazer um seguro saúde pode ajudar em casos de maior complexidade.

Planejar é prevenir. O que buscamos trazer na bagagem de volta são as fotos das ondas, as lembranças memoráveis e disposição para organizar a próxima surf trip.

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