Dez anos se passaram, mas as lembranças do título mundial continuam vivas em minha memória. No dia 6 de dezembro de 2008, tive a felicidade de levantar a taça nas Ilhas Canárias e quebrar um jejum de cinco anos sem títulos brasileiros na categoria masculina – o último havia sido Guilherme Tâmega, que conquistou sua sexta e última taça em 2002.
Foi a maior realização da minha vida, apesar de ter sido um ano bem cansativo, desgastante. Cheguei a sofrer uma lesão no ombro de tanto treinar. Estava muito focado em conquistar o título e vinha de uma temporada extraordinária, vencendo a etapa em El Confital no ano anterior e batendo na trave na briga pelo título.
Em 2008, voltei a Confital para disputar a última etapa e cheguei em segundo no ranking, na cola do meu grande amigo e ídolo Guilherme Tâmega, simplesmente o maior bodyboarder de todos os tempos.
Mas o duelo pela taça não parava por aí. Do outro lado, o australiano Ben Player e o francês Pierre Louis Costes, mais dois monstros do nosso esporte. Tâmega tinha seis títulos mundiais, enquanto Player tinha dois. Pierre, assim como eu, buscava o seu primeiro.
Sabia que precisava estar muito concentrado, bastante treinado, mas estava bem nervoso. Viajei para as Canárias acompanhado do meu então treinador Márcio Torres, um cara que foi de extrema importância para a minha carreira e teve uma participação mais do que especial nessa conquista. Minha equipe estava muito afiada este ano e contava ainda com o fisioterapeuta Rodrigo “Docinho” Rocha e o nutricionista Khael Valadão, meu irmão mais velho, que não puderam viajar, mas também me ajudaram bastante a chegar afiado para disputa.
Um dia antes da grande decisão em El Confital, Márcio sugeriu que saíssemos para a praia antes de o sol nascer no dia seguinte, chegando lá ainda escuro. O objetivo era criar uma energia especial para as finais e tirar um pouco a pressão de mim, que estava gigante e ele percebeu isso.
Nunca gostei de chegar muito cedo para competir, é cansativo. Gosto de chegar pouco antes das baterias, mas segui o conselho dele e topei. Chegamos ainda escuro e não havia ninguém na praia. Ficamos no palanque analisando a transição da maré, conversando sobre cada detalhe da onda e da bancada.
Quando começou a clarear e a galera foi chegando, Márcio sugeriu que saíssemos do palanque em direção às pedras de Confital. Continuamos concentrados, analisando o mar, enquanto ele falava várias coisas positivas. Foi uma energia muito boa e jamais esquecerei disso. Era um momento de muita pressão e ele tomou a decisão certa.
A partir daí, as coisas foram fluindo e eu entrei na água mais confiante, sem aquela pressão gigante nas costas.
Guilherme e Pierre perderam nas primeiras fases, enquanto Ben Player continuou avançando. Passei pela primeira semifinal e Player estava na água competindo na outra semi. Não quis assistir e preferi me concentrar, pois achava que ele iria para a final e eu teria que destruir.
Fiquei focado nisso. Porém, no meio da bateria, a galera começou a me chamar, dizendo que ele estava perdendo. Foi o maior alvoroço e acabei me levantando para ver o fim da bateria. Quando a sirene tocou e a galera começou a gritar, não contive as lágrimas. Foi uma explosão de emoção, não conseguia parar de chorar (risos).
De lá para cá, não tivemos mais nenhum título mundial para o Brasil na categoria masculina, mas chegamos perto algumas vezes. A luta continua e temos muitos talentos de peso honrando o nosso país no Circuito Mundial. Estamos trabalhando forte para trazer essa taça de volta, podem torcer e acreditar!