Depois de lapidar grandes talentos como os ex-tops da elite mundial Raoni Monteiro, Leonardo Neves e Pedro Henrique, a cidade de Saquarema (RJ) continua mostrando a sua força no cenário internacional.
Situada a pouco mais de 1 hora e meia de distância do Rio de Janeiro, “Saquá” – como também é conhecida a surf city brasileira – caminha para receber o Championship Tour pelo segundo ano consecutivo, mas celebra também a ótima fase de dois grandes atletas: os irmãos Lucas Chumbo e João Chianca, os “Chumbinhos”.
Filhos de um amante de esportes radicais, eles começaram a surfar na capital do Rio de Janeiro, mas foi a partir da mudança para Saquarema que a dupla passou a evoluir de forma intensa.
Lucas Chumbo tem 22 anos e vive uma fase fenomenal. Além de ter várias ondas inscritas no XXL Big Wave Awards – passando por picos como Pe´ahi, Mavericks e Nazaré -, o garoto destemido brilhou em sua primeira temporada no Big Wave Tour, vencendo o Nazaré Challenge em Portugal e terminando o circuito em quinto lugar, mesmo participando de apenas duas das três etapas realizadas.
Seu irmão caçula também começou o ano de 2018 a todo vapor. Aos 17 anos, João Chianca foi ao Mundial Junior em Kiama, Austrália, e por pouco não chegou à decisão, parando numa semifinal muito acirrada contra Finn McGill (11.17 a 11.00 pontos), que acabou levando o título para o Havaí.
“Foi o melhor resultado que já tive na carreira até agora. Foi por muito por pouco. Eu me senti um pouco triste quando perdi naquela semifinal, porque é difícil chegar perto de uma coisa e não conseguir. Todos os 36 surfistas queriam muito o título. Fico feliz por ter sido um dos quatro melhores que realmente queriam a taça e se esforçaram para chegar até ali”, diz João Chianca.
Enquanto o irmão Lucas Chumbo – atualmente treinado pelo lendário Carlos Burle – persegue as maiores ondas do Planeta e luta pelo título do Big Wave Tour, João segue um caminho diferente, apostando as suas fichas no Qualifying Series, mas também com o objetivo de alcançar o topo do mundo.
“Gosto de condições pesadas, prefiro condições tubulares, mas não pretendo trilhar o caminho do meu irmão. Quero seguir o QS e tentar me classificar ao Championship Tour o mais cedo possível. O meu sonho é ser campeão mundial”, explica João.
Antes de dedicar-se ao Big Waves Tour, Lucas Chumbo também tentou encarar a maratona de provas no Qualifying Series, mas não teve tanto ânimo para seguir adiante. “O meu grande problema era que nas etapas com ondas pequenas eu não queria competir, não fazia questão, não me dava muito bem. Eu sempre fui grande, pesado, então nas ondas pequenas eu nunca fui o melhor, e quando o mar subia o buraco era mais embaixo, o mar ficava mais difícil, eu conseguia surfar melhor, conseguia colocar o meu surfe na competição, e aí ficava mais fácil pra mim”, conta Lucas.
“Só que as ondas grandes sempre foram o meu sonho, a minha paixão, sempre foram o meu prazer no surfe, desde moleque. E agora que faço parte da elite mundial de ondas grandes, estou mais apaixonado ainda”, completa.
Ao analisar o irmão, Lucas é só elogios: “Meu irmão também sempre gostou das ondas fortes, por isso ele é atirado, mas ele tem mais gosto por ondas pequenas do que eu, e ele surfa melhor as ondas pequenas do que eu. Ainda está um páreo duro, mas ele leva vantagem. O moleque está surfando muito, voando bastante. O foco dele é esse. Ele quer ser campeão mundial do CT, quer muito entrar no Tour, e acho que ele está pronto para isso. Ele só precisa continuar treinando, continuar focado, colocar os pés no chão, porque a estrada é longa, mas ele está chegando perto”, opina o mais experiente dos irmãos.
João Chianca retribui: “Sempre tive uma relação muito forte com o meu irmão. Estou muito orgulhoso dele. Ele seguiu o seu sonho. Sempre que ele competia num QS ou em outro campeonato, ele torcia por condições maiores, então realmente o talento veio a surgir daí, e agora ele faz o que ele ama, o que ele sempre queria fazer, e espero que ele conquiste o título mundial. Depois dessa vitória em Portugal, ele realmente vai sentir mais confiante e estou torcendo por isso”.
A vitória de Lucas em Nazaré, no último mês de fevereiro, atraiu ainda mais os holofotes da mídia para o jovem big rider de 22 anos, que ficou surpreso ao vencer rapidamente uma prova do Big Wave Tour.
“Quando entrei, no ano passado, eu nem acreditava que já estava dentro do circuito de ondas grandes, ainda mais vencer um campeonato no meu primeiro ano… Eu me lesionei no início da última temporada, passei quatro meses me recuperando, e quando me recuperei eu consegui retornar a tempo de competir em Jaws, ficando em nono lugar, depois eu já venci em Nazaré”, comenta Lucas Chumbo.
“Fiquei muito feliz com o meu rendimento. Eu investi muito tempo nesse lugar (Nazaré), muitas horas de treino ali naquele mesmo pico. Eu não esperava ganhar, não imaginava que seria tão rápido assim. Só agradeço a Deus, depois ao Burle, aos meus patrocinadores, à minha família, que sempre me apoiou, ao Marquinho Monteiro, que foi o meu primeiro mentor nas ondas grandes. Tenho que agradecer muito a essas pessoas, porque se não fossem elas, acho que essa primeira vitória nunca iria acontecer. Muito obrigado!”, agradece Lucas.
Enquanto muitos big riders vão para a água apenas preocupados em dropar uma onda grande e sobreviver, o garoto brasileiro direciona seu foco para a performance no outside e a evolução do esporte, mas sem esquecer de muitos que o inspiraram.
“Fico muito feliz porque a gente teve a velha guarda, a antiga geração, com o Carlos Burle, o Gordinho (Felipe Cesarano), Eraldo (Gueiros), o Pedro Scooby, o Marquinho Monteiro e todos esses caras que abriram as portas pra gente no big surf, e hoje em dia a nova geração – eu, Pedro Calado e toda a galera que está tentando entrar no Big Wave Tour, como o Lapo Coutinho -, acho que a gente quer explorar sempre os nossos limites, superar as nossas metas, sempre focando na maior onda, na melhor onda, mas nunca perdendo a performance. Acho que o big surf teve uma época em que os equipamentos não eram tão bons, não existia o colete inflável, então era mais difícil, era mais selvagem, era mais sobrevivência”, revela Lucas.
“Hoje em dia, com esses equipamentos avançados, com as pranchas muito boas, com o colete inflável perfeito, a gente pode botar mais a nossa cara a tapa e está pronto para tudo, para qualquer coisa. Nós, da geração, estamos puxando o nível, tentando o nosso máximo, e desempenhar na onda é o segredo. Acho que a gente não quer só sobreviver, a gente quer desempenhar também. E eu vejo um futuro brilhante no surfe em ondas grandes porque as competições vão ficar cada vez mais acirradas e a galera vai desempenhar mais e mais nas ondas. Esse é o futuro. A minha meta é ser campeão mundial, e quanto mais vezes, melhor. Quero continuar representando o Brasil como a velha guarda representou”, finaliza Lucas Chumbo.
Matéria produzida em parceria com a World Surf League.
Foto de capa: Bruno Lemos / Sony Brasil.