Com grande esforço do lendário Mano Ziul – um dos brasileiros mais influentes na história da extinta ASP e da WSL -, a transmissão em língua portuguesa passou a fazer parte do Championship Tour em 2005, em Fiji. Visionário e muito inteligente, o antigo diretor de tecnologia de informática da entidade viu no paradisíaco arquipélago a oportunidade de fortalecer a transmissão do Tour também para os brasileiros, mesmo que tivesse de dividir o canal de áudio com os comentaristas da língua inglesa.
O sucesso foi grande e a evolução veio na etapa seguinte, em Mundaka, País Basco, cenário da primeira transmissão exclusivamente em português, sem divisão de canal com a língua inglesa. Dali em diante, o webcast em língua portuguesa não parou de crescer e é responsável por uma grande audiência, embora a WSL não revele seus números.
Com a transmissão garantida em todos os eventos da elite mundial da WSL, muitos locutores passaram pelas cabines de transmissão da Liga, até que, em 2015, a World Surf League decidiu uniformizar a equipe, formando uma equipe definitiva para acompanhar o Circuito.
Os escolhidos foram os cariocas Pedro Muller e André Gioranelli, além do catarinense Klaus Kaiser. Em 2016, eles seguiram o Tour integralmente, indo a todas as etapas. No fim de 2017, a WSL decidiu que a partir do ano seguinte a transmissão seria realizada nos estúdios da entidade, localizados em Santa Monica na Califórnia (EUA).
“No começo foi complicado, pois perdemos muito em informação, já que estando nos locais dos eventos tínhamos contato direto com os atletas e a uma gama gigantesca de informações dos mesmos, seja em relação a seus equipamentos, seus treinos, detalhes do dia a dia e demais curiosidades”, conta Klaus. “Hoje já estamos totalmente ambientados ao estúdio, mas estas informações ainda nos fazem falta, mesmo conseguindo uma boa parte delas através dos contatos que temos nos eventos”, completa.
A mudança levou Pedro Muller a deixar a equipe, pois o carioca já havia se mudado para Portugal com a família. Em seu lugar, entrou o catarinense Icaro Cavalheiro, ex-atleta profissional e árbitro do Tour por muitos anos.
De 2018 para cá, além de Klaus e Icaro, a equipe fixa tem o carioca André Gioranelli, radicado em Santa Cruz há muitos anos. Devido a compromissos pessoais, Gioranelli ausentou-se de algumas etapas neste período, sendo substituído pelo paulista Tales Araújo. Antes disso, o substituto era o catarinense Neco Padaratz, que fez parte da equipe do webcast em português por quase um ano.
Quando acompanhavam o Tour, os locutores passaram por muitas aventuras. “Foram muitos momentos engraçados e fatos inusitados nestes anos todos, mas um que lembro com mais prazer foi quando cheguei pela primeira vez em Jeffrey’s Bay, na África do Sul, em 2009, e estava tão cansado que dormi das duas da tarde até o outro dia, e quando acordei vi as melhores ondas da minha vida, longas linhas perfeitas entre 6 a 8 pés, realmente um sonho!”, lembra Klaus. “O maior perrengue foi em 2017, quando demorei quase 70 horas para chegar à Austrália, só para acumular milhas. Fiz um trecho absurdo e com várias paradas em vários países, mas valeu a pena (risos)”, conclui o locutor.
André Gioranelli também guarda muitas lembranças das viagens. “Os momentos mais engraçados do Tour eu passei ao lado do Pedro Muller, quando viajávamos por todos os lugares do circuito. Muitas risadas. Um dos momentos mais legais que lembro foi na Gold Coast, em 2016, quando acordávamos às 5h para surfar altas ondas e sem crowd em frente ao hotel em que estávamos. Já a maior roubada foi no ano passado, quando peguei uma amigdalite violenta durante a etapa da Gold Coast e tive que me ausentar por dois dias da transmissão”, cita Gioranelli.
Depois de viajar pelo mundo como competidor e também como juiz, Icaro Cavalheiro já estreou no cargo de locutor quando as transmissões aconteciam apenas na sede da WSL, em Santa Mônica, mas também tem novas histórias para contar. “Um dos momentos mais alegres e festivos foi este ano, depois da confirmação do título mundial do Italo Ferreira. Eu e Klaus Kaiser estávamos na cabine de transmissão e fizemos tanto barulho, gritamos tanto que todo mundo que estava no escritório da WSL foi até a cabine para ver o que estava acontecendo. Os gringos não entendiam como vibrávamos tanto, falei que esse era o jeito brasileiro de ser e de comemorar”, conta Icaro. “Já o maior perrengue eu diria que não foi só um, mas vários, que são os dias de trânsito infernal que a gente pega para chegar ao escritório da WSL. Por vezes levamos horas para percorrer um trecho que normalmente levaríamos de 30 a 40 minutos. Mas faz parte, já estamos acostumados, quem mora nos Estados Unidos sabe o que é o trânsito daqui”, completa.
Depois de competir em diversas etapas do Qualifying Series, o ubatubense Tales Araújo tem representado a nova geração na cabine de transmissão da WSL em língua portuguesa. “Comecei somente este ano e sem dúvida alguma o melhor momento (não foi nem o mais engraçado) foi quando recebi um e-mail com a confirmação de que eu iria trabalhar no evento de J-Bay. Fui às nuvens, um sonho. E o perrengue foi no evento da França, que trabalhei sozinho com o Klaus por 12 horas seguidas, pois o Icaro Cavalheiro não pôde ir devido a um problema na garganta. Quando saí pela manhã da WSL, tive que dirigir até San Clemente (mais de duas horas de distância) e fui direto para o cartório, para o meu casamento. Cheguei moído pra casar, mas deu tudo certo (risos)”, lembra Tales.
Outro momento que marcou muito os locutores foi quando Klaus Kaiser caiu no “primeiro de abril” postado pela Top havaiana Malia Manuel. “Ela postou uma foto dizendo que estava grávida e ´inchou´ a barriga, fazendo com que parecesse mesmo que estava grávida. O Klaus foi na onda e falou ao vivo, só depois se tocou que era uma pegadinha de primeiro de abril e imediatamente fez a retificação ao vivo. O riso e a pegação de pé rolaram soltos (risos)”, brinca Icaro.
Com muitos internautas enviando cada vez mais mensagens para a transmissão, os locutores apontam o caminho ideal para que os recados sejam lidos. “Felizmente são muitas, mas não conseguimos ler todas. Além das mensagens pessoais que recebemos (no nosso Instagram e no WhatsApp), ficamos monitorando as mensagens postadas na página da WSL no Facebook, no vídeo transmitido em língua portuguesa”, explica Klaus. “Criamos um canal de interatividade muito legal com nossos fãs, que são realmente fanáticos e muito fiéis”, elogia o locutor.
Faltam pouco mais de dois meses para o início do Championship Tour 2020. A primeira etapa começa no próximo dia 26 de março, na Gold Coast, Austrália, com prazo de encerramento até 5 de abril.
Para acompanhar os locutores no Instagram, envie mensagem para @klauskaiserwsl, @icavalheiro, @gioranelli77 ou @talesaraujoo.
Veja as fotos dos locutores em ação no outside: