Peterson Crisanto

Urso faminto

Líder do QS depois de vencer em Ballito, Peterson Crisanto comenta o excelente momento na carreira.

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Por muitos anos, Peterson Crisanto, o “Urso”, foi apontado como uma das principais promessas do surfe brasileiro. Habilidoso, o jovem paranaense foi campeão brasileiro Sub 14 em 2006 e obteve alguns resultados expressivos na categoria Pro Junior, vencendo competições na Austrália.

Revelado em Matinhos – berço dos ex-Tops da elite mundial Peterson Rosa, Jihad Khodr e Bruna Schmitz -, Petersinho começou a dar as caras no Qualifying Series em 2011, chegando a disputar uma final com o compatriota Gabriel Medina na etapa de nível 6 estrelas em Zarautz, País Basco, terminando em segundo lugar.

No ano seguinte, não foi muito bem, terminando em 96º lugar no ranking. Em 2013, Petersinho venceu uma etapa 6 estrelas em El Salvador e foi terceiro no 5 estrelas em Lacanau, França.

Em 2014, seus melhores momentos foram a quinta posição no QS 6.000 em Sydney, Austrália, e Los Cabos, México.

Sem patrocínio, o paranaense ficou dois anos afastado do Qualifying Series e começou a ensaiar o seu retorno em 2017, vencendo um QS 1.500 em Israel e terminando o ano em 50º lugar, o que lhe deixou em situação tranquila para disputar todos os eventos importantes deste ano.

No início de março, Petersinho foi o quinto colocado no QS 6.000 em Sydney, Austrália, e no último mês de junho ele alcançou o topo do ranking depois de brilhar em Ballito, África do Sul, levando o seu primeiro QS 10.000 na carreira.

Motivado e muito mais maduro, o atleta de 26 anos está disposto a defender a sua posição com unhas e dentes. Em ritmo de treino para o QS 10.000 em Huntington Beach, Califórnia (EUA), o líder do ranking bateu um papo com o Waves e falou sobre o ótimo momento na carreira.

Peterson Crisanto em êxtase depois da vitória em Ballito, África do Sul.

Essa vitória em Ballito muda alguma coisa em sua preparação para o restante da temporada?

Com certeza. Essa vitória em Ballito me dá mais confiança. Vou manter o mesmo trabalho que venho fazendo, minha rotina de surf, treinos, sacrifícios, alimentação, etc, afinal tenho uma meta que é me classificar para a elite em 2019 e um grande passo foi dado. Não posso perder esse oportunidade.

Como foi vencer em Ballito e participar dos momentos da vitória de Filipe Toledo em J-Bay? Já está se ambientando ao Tour (risos)?

Foi irado vencer em Ballito. Um mês antes o Filipe já havia me chamado para ficar com ele lá em J-Bay. Então foi mais irado ainda poder ir para lá e poder ficar na casa com ele sendo campeão da etapa e estar ali vivendo o dia a dia dele, aprendendo com ele, como ele se prepara, o que ele faz, a forma como ele trabalha e surfa. Isso não tem preço.

Nessas condições, vê-lo ser campeão da etapa foi um privilégio. Eu ganhei o QS, ele o CT, tudo na África do Sul, os brasileiros dominaram. Fiquei muito feliz, pois o Filipe é meu amigo desde criança. Foi uma das melhores trips da minha vida, se não a melhor. Ver o Filipe surfando J-Bay é surreal, o cara domina a onda.

Paranaense de 26 anos é o atual líder do ranking do QS.

Você sempre foi apontado como uma grande promessa, ao lado de outros talentos que já estão no Tour. Teve o patrocínio de uma grande marca de surfwear por um bom tempo, mas acabou perdendo e viu esses outros talentos decolarem em suas carreiras. O que aconteceu para que as coisas tomassem um rumo diferente da expectativa que foi criada em cima de você?

Tive uma grande marca por trás de mim, a Billabong, e sempre serei grato pela oportunidade, mas os objetivos junto à empresa eram um pouco diferentes de muitos dos meus amigos que hoje estão ou já passaram pelo Tour. Eu tinha como meta, na época, ser campeão mundial Pro Junior, enquanto os demais já disputavam o QS. Tive bons resultados nestes eventos, ganhei algumas etapas, porém foi um caminho diferente do pessoal que já estava no Tour. Fico contente por eles estarem onde estão, por alcançarem os objetivos deles, afinal são merecedores.  Hoje estou com metas diferentes, alinhado à Shaperfy, empresa que gerencia minha carreira e me abraçou quando não tinha ninguém apostando no meu trabalho.

E agora, como está fazendo para disputar o QS sem um patrocinador principal?

A equipe Shaperfy me fornece estrutura em diversos âmbitos, como administrativo, jurídico e de marketing, além, é claro, da parte técnica, fisiológica e nutricional. Somos um time. Quem está me dando suporte financeiro para as viagens são 30 Pés, Apolar, Tintas Vergínia, Tecnotubos, Welcome Surtrips, FarmS e Surfview. Também é muito importante lembrar o patrocínio do Ricardo Martins, meu shaper há dez anos e com quem desenvolvi uma parceria de trabalho muito sólida.

No entanto, ainda preciso de um patrocinador principal para consolidar o projeto que estamos desenvolvendo e, sobretudo, para viajar de forma mais tranquila e estruturada. Logo, busco uma marca que queira abraçar nosso trabalho e profissionalismo para poder representá-la mundo afora. Sei que não será fácil, mas trabalhando corretamente as coisas vão acontecer, eu tenho fé.

No ano passado, Peterson venceu uma etapa em Israel.© WSL / Masurel
No ano passado, Peterson venceu uma etapa em Israel.

Como você vê surfistas como Willian, Tomas e Jessé, que batalharam muito tempo no QS e agora estão dando trabalho no CT? De alguma forma se espelha nisso?

Eu tenho esses caras como espelho, principalmente o Willian, que conheço mais de perto. Muito maneira sua história e força de vontade, principalmente porque tentou por mais de dez anos e na sua última tentativa conseguiu a vaga e ainda por cima mostrou que tem potencial para ganhar uma etapa, disputar o título. Tomas e Jessé são excelentes surfistas e estão dando trabalho no Tour. São merecedores e bons competidores, sempre um desafio vencer um desses caras numa bateria.

Caso consiga a vaga na elite, quais os eventos no CT em que tem muita confiança para obter grandes resultados e em quais você espera ter mais dificuldade?

Caso eu consiga a vaga ano que vem, provavelmente eu não tenha muita dificuldade de adaptação nos lugares, pois, graças a Billabong, eu pude viajar e surfar todas as ondas do Tour, me deixando mais preparado para essa etapa. Gostaria muito de competir nas direitas, principalmente as três na Austrália e J-Bay, por lembrarem o meu quintal de casa (Pico de Matinhos).

Você está caminhando para ser o quarto atleta de Matinhos a se classificar para o Tour. Como vê essa força da sua cidade no surf?

A cidade de Matinhos respira surf, tem altas ondas, não só no Pico de Matinhos, que é uma direita longa e perfeita, mas também tem a Praia Brava ao lado, que tem uma diversão garantida. Começou desde a época do Peterson Rosa na elite, na sequência veio o Jihad e agora pode ser a minha vez. Espero poder representar esse município que transcende gerações e revela talentos. Pode escrever aí que as gerações futuras vão dar o que falar, não só no masculino, como no feminino. Temos pequenos grandes talentos.