Dia 1º de abril de 2025, um dia que até parecia mentira ou brincadeira, trouxe um swell fora do comum, com características de uma baixa pressão e uma direção não muito usual (Sul/Sudeste com influência de Nordeste). Um swell que literalmente veio da Antártida sem obstruções e em um ângulo que atingiu Sydney, Austrália, onde encontrou águas mais quentes do que o normal (4 graus acima da média). O resultado? As ondas explodiram nas praias de Sydney.
Picos lendários e picos renomeados quebraram em suas melhores condições. Ben Buckler, pico que fica na ponta norte da praia de Bondi e que só quebra acima de 10 pés, apresentava séries de 20 pés ou mais (mais de 6 metros). Lurline Bay, na área da famosa praia de Maroubra — lar dos Braboys — quebrou em condições clássicas, de um jeito que até os locais mais experientes nunca tinham visto antes, devido ao tamanho e à direção desse swell.
Você pode encontrar muitas informações e imagens desse swell na maioria dos veículos de comunicação, como a vaca insana de Max McGuigan em Deadman, na área de Manly, entre outros registros. Mas o relato que faço aqui tem Brazucas, dramas e um dia para os livros no pico chamado Lurline.
Os brasileiros Mateus e Lucas Besort, junto com o francês Matis Jos-Rolland e os australianos Riley Pitt e Mitch New — parte da nova geração dos Braboys —, estavam monitorando o swell há dias. Tudo indicava que ele atingiria a costa com a direção do vento e das ondas perfeitas para surfar em Lurline.
Finalmente, na última terça-feira (1), chegou trazendo um swell incomum, grande e extremamente poderoso. Diferente de outros swells gigantes já vistos na região, como o que Kalani Lattanzi surfou em Cake Island — considerado o maior dia já registrado nas redondezas. Pela manhã, o swell ainda estava crescendo, então a decisão foi esperar a maré e as ondas estarem nas melhores condições. Às 14h, todos se encontraram e começaram os preparativos para a sessão.
Acompanhados pelo big rider brasileiro Marcos Costa e pelos fotógrafos Dimas Menelau, Steve Turner e Andreas Bezos, a equipe se reuniu para discutir os procedimentos de segurança e a entrada e saída do pico — que exige literalmente se jogar das pedras e escalar na volta. Com tudo decidido, era hora de botar fogo no parquinho.
Lucas e Riley foram os primeiros a se jogar. Posso dizer que foi o que chamamos de roubada… Mas, em minutos, já estavam em segurança no canal. Assim que chegaram ao pico, uma bomba entrou, e Riley não pensou duas vezes: se jogou numa montanha de 15 pés . Assistindo o amigo despencar na morra, Lucas se empolgou e já entrou em posição para a próxima bomba — outra onda de 15 pés (mais de 4 metros), morro abaixo.
Enquanto isso, Mateus e Matis ainda estavam nas pedras procurando um local para entrar. Quando viram os dois pegarem as ondas, não pensaram duas vezes: se jogaram e se juntaram aos outros dois no fundo. A sessão foi insana, com todos se jogando e surfando ondas de consequência.
Mas nem tudo são flores. O famoso waterman Jeremy Wilmotte apareceu para dar uma canja, e logo na sua primeira onda tomou uma vaca sinistra. Ele perdeu a prancha e precisou usar toda sua experiência para escapar de uma roubada séria, sendo arrastado para um shorebreak violento sobre uma laje de pedras. Conhecido mundialmente por suas façanhas e considerado um dos melhores foiling surfers do mundo, Jeremy me confessou que essa foi uma das piores vacas que já tomou.
E ele foi apenas o aperitivo para o que estava por vir. Dez minutos depois, Mitch New dropou uma bomba com uma 6’8″. Conseguiu completar o drop, mas, infelizmente, a espuma o pegou na base e partiu sua prancha ao meio, deixando-o em uma situação crítica. Ele acabou na mesma área onde, minutos antes, Jeremy já tinha enfrentado dificuldades. Mas, ao contrário de Jeremy, Mitch não conseguiu sair sozinho e não hesitou em pedir ajuda.
Lucas Besort não pensou duas vezes: entrou na área do shorebreak e ajudou Mitch a começar a sair da situação, nadando em direção ao fundo. Enquanto isso, os fotógrafos e os olheiros já tinham acionado o resgate. Em 10 minutos, o jet ski pilotado pelo salva-vidas Doobs Black chegou, tirou Mitch da roubada e trouxe um alívio para todos que estavam assistindo.
O surfe continuou com mais alguns malucos na água, mas sem novos dramas. Depois disso, foi só celebrar o dia, as performances e um momento que entrou para a história de todos os presentes.
Ficam as fotos dessa sessão e o registro de um dia que entrou para os livros locais. Agora, é esperar pelo próximo swell!
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