Costa Leste da Austrália

Páscoa de ondas sinistras

Swell gerado pelo ciclone extratropical Tam atinge costa leste da Austrália e slab Cape Solander funciona com ondas poderosas. Fotógrafo Dimas Menelau registra sessão da galera no pico.

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A Páscoa começou animada desde a sexta-feira da Paixão, com a chegada de um swell de baixa pressão gerado pelo ciclone extropical Tam, que assolou a costa oeste da Nova Zelândia. Diferente do swell que tivemos por volta de duas semanas atrás, esse veio direto da Nova Zelândia e atingiu o lado leste da costa da Austrália, mais precisamente na região de New South Wales, onde se encontra Sydney.

Esse swell veio com características diferentes do outro que documentei duas semanas atrás — não tão grande em tamanho, mas com muita força. Com isso, picos de bancada profunda não funcionaram em seu potencial total, dando espaço para as famosas lajes, slabs, funcionarem. E posso dizer que não decepcionou, já que o swell não bateu em Bells e a competição está à espera.

A conversa nas rodas de surfe tem sido sobre esse swell, se ele realmente iria gerar ondas e quais locais teriam as melhores condições. Já na quinta-feira, meu telefone começou a bombar com mensagens e ligações para começar o planejamento e a logística para surfar uma das ondas mais infames daqui: Cape Solander — mundialmente conhecida como Ours (nosso, em tradução direta).

Cape é um slab sinistro — sinistro para entrar, sinistro para sair e sinistro para surfar. Uma onda mutável que quebra de frente para uma parede de pedras, não dando muita margem para erros. Cape fica por volta de 40 km do centro da cidade e dentro de um parque nacional, na entrada da baía de Botany — local onde o Capitão James Cook pisou pela primeira vez na Austrália e a reivindicou para o trono inglês.

Bom, estamos aqui para histórias — e não a do James Cook, mas sim de James “Rooster” Adams, Nathan Florence, Lucas Besort, Richie Vaz, Kipp Caddy, Max McGuigan e muitos outros que, em dois dias de caos, surfaram ondas tenebrosas e de consequências.

Sexta-feira, 5h30 da manhã, ainda escuro, o estacionamento de Cape já estava lotado com a galera esperando a primeira luz para ver se o tal swell havia encostado ou não. O barulho das ondas quebrando já demonstrava que teríamos um dia cheio pela frente. Alguns já na missão de colocar a roupa de borracha e preparar as pranchas, e outros esperando o momento perfeito para se jogar das pedras e surfar um dos Capes mais sinistros dos últimos anos.

Max McGuigan, acompanhado pelo time dos Mad Hueys, foi um dos primeiros no pico e, depois de analisar as condições, decidiram optar pelo tow-in. Já de cara, Max foi colocado numa bomba e tomou sua primeira vaca sinistra — de muitas — para acordar. Bonito de assistir e de fotografar, com o nascer do sol ao fundo e as ondas bombando.

Como sexta era o primeiro e maior dia do swell, as ondas estavam fora de controle pela maior parte do tempo. Alguns conseguiram surfar uma bomba, outros estavam no modo sobrevivência. Com isso, parte da galera decidiu abandonar a sessão e esperar pelo dia seguinte, com condições mais “calmas” e com o swell numa direção melhor. Me encontrei com o Jesse Polock, e ele me contou que desistiram da sessão porque estava muito perigoso — comparou até ao dia do campeonato da Red Bull, Cape of Fear.

Sábado de Aleluia — e aleluia mesmo — as ondas estavam lá, com tudo o que era previsto: ângulo certo, período perfeito e um bando de lunáticos na água. Sessão de luxo essa. Com o tamanho menor e mais acertado, tivemos um crowd considerável na água: 50 bodyboarders e mais 50 surfistas, alguns deles armados com jetskis e prontos para o tow-in.

Cape Solander é o nome do local — como os bodyboarders chamam a onda. Ours é o mesmo lugar, só que ganhou esse nome pelos Bra-Boys, que por sua vez estavam lá em peso. Na disputa de “minha ou sua”, os meninos do Bra sempre vão ganhar.

A sessão começou de novo com Max sendo Max, e daí instigou a galera a botar pra dentro. Revezamento de bodyboarders e surfistas entubando. Comecei a fotografar às 5:30 da manhã e, às 9 horas, já tinha 6 mil fotos no cartão. Haja tubos e ondas — sessão sem parar por mais de 5 horas de puro surf na laje.

Tubos memoráveis de todos os presentes, como James Rooster, Lucas Besort, Kipp Caddy, Kash Brown, Evan Faulks, Jake Scott, Max McGuigan, Jimmi Hill e — não menos importante — Nathan Florence.

Nathan Florence apareceu por volta de 9h30, acompanhado da esposa, e aproveitou o evento para nos dar uma canja e gravar alguns clipes para seu canal do YouTube e a série Slab Tour. Nathan demorou um tempo para aquecer as turbinas — pode ter sido o famoso jetlag ou pro night, quem sabe… Depois de umas três vacas, ele acordou e se achou no pico: duas bombas surfadas com maestria, para o prazer de todos que estavam assistindo.
Verão de poucas ondas e outono bombando — vamos ver o que será do nosso inverno.

Próxima semana tem outra previsão de swell com tamanho e consistência. Agora é cruzar os dedos e esperar a nossa próxima aventura na caça das ondas.

Para acompanhar mais do trabalho de Dimas Menelau basta clicar aqui e aqui

 

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