Enciclopédia do Surfe

10 anos no mundo digital

Versão digitalizada da Encyclopedia of Surfing, de Matt Warshaw, completa 10 anos no ar. Confira como Warshaw desenvolve este projeto.

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Matt Warshaw, criador do livro Encyclopedia of Surfing.

O ano de 2023 marca 10 anos da versão digital da Encyclopedia of Surfing (enciclopédia do surfe, em tradução livre), do escritor norte-americano Matt Warshaw. O site é uma versão digitalizada e atualizada do livro que leva o mesmo nome e contém verbetes sobre ondas, personalidades do esporte, eventos, equipamentos, cultura e terminologia.

Sam George, editor e escritor do The Inertia, publicou um artigo onde relata os 10 anos da Encyclopedia no mundo virtual e detalha a história de Matt Warshaw. No texto, Sam fala do impacto de Warshaw na cultura do surfe e de que não há dúvida de que Matt fez uma curadoria abrangente de mais informações da modalidade e foi quem articulou riquezas de dados de forma mais eficaz ao longo da história.

A enciclopédia está com uma versão totalmente reconstruída e remodelada, lançada no primeiro fim de semana de dezembro. George aproveitou a data de uma década e conta como Warshaw conseguiu uma vasta gama de conhecimentos e depois dedicou a vida a compartilhar essas informações com todos.

Matt Warshaw é um talentoso jornalista de surfe, autor, arquivista e ex-editor da revista Surfer. Ele é considerado um dos mais importantes cronistas do esporte. Junto com seus artigos para revistas da modalidade e artigos para revistas convencionais como The New Yorker e Esquire, seus livros incluem Above The Roar; Maverick’s: The Story of Big Wave Surfing; Zero Break; Surfriders; The Rise, Fall, and Mysterious Disappearance of Surfing’s Greatest Photographer; e Surf Movie Tonite.

Mais notáveis, entretanto, são suas obras The Encyclopedia of Surfing e The History of Surfing. O site da EOS (abreviação de Encyclopedia of Surfing) foi lançado em 2013 e, em 2016, ele se tornou consultor externo do Oxford English Dictionary (considerado um dos mais conceituados dicionários da língua inglesa). Ex-morador de Ocean Beach, Warshaw atualmente mora em Seattle, Washington, EUA.

Versão digitalizada do livro Encyclopedia of Surfing em 2013.Reprodução
Versão digitalizada do livro Encyclopedia of Surfing em 2013.

Matt Warshaw foi um grande competidor nos anos 70 que cresceu surfando com a equipe de Dogtown de Santa Monica e mais tarde com estrelas de South Bay, como Mike Benevidez e Chris Barela, e não apenas ficou nas semifinais do Katin Pro-Am de 1977 em Huntington Beach, mas venceu as triagens e surfou até chegar ao nono lugar no Op Pro de 1982.

Segundo Sam George, Warshaw chocou o mundo do surfe quando, em 1988, inexplicavelmente, saiu do emprego dos sonhos na Surfer. “Depois de deixar a San Diego State, para onde fui apenas para poder surfar em Sunset Cliffs, consegui aquele emprego na Surfer e adorei por muito tempo”, diz Warshaw.

“Trabalhar com todos aqueles grandes fotógrafos e escritores, juntando histórias, gostei muito. Eventualmente chegou a um ponto em que eles queriam que eu me tornasse o editor da Surfer, e a coisa toda foi planejada para mim, presumindo que eu estaria lá para sempre. Mas aos 29 anos, embora estivesse feliz com o que tinha feito no surfe até então, ao mesmo tempo senti que tinha ignorado todo o resto. Então deixei a Surfer e consegui uma transferência para o primeiro ano na Cal State Berkeley (Universidade da Califórnia, Berkeley). Graduação em história”.

Tendo se mudado para Sunset District, em São Francisco, enquanto estudava na Califórnia, Warshaw descobriu as alegrias de Ocean Beach, onde, com mais paixão do que em qualquer uma de suas salas de aula em East Bay, se candidatou a um mestrado.

“Eu nunca seria um historiador como meus professores, ou como os outros alunos de minhas turmas pretendiam ser. Mas tive tantas aulas que acabei tendo que me formar e não sabia o que fazer a seguir. Então, simplesmente tentei e fui aceito em um programa de pós-graduação na UCLA”, relata Warshaw.

Ele comprou um apartamento no oeste de Los Angeles, comprou US$ 500 em livros didáticos e estudou cerca de duas semanas e meia.

“Eu sabia que tinha cometido um erro – não fui talhado para ser historiador. E depois de dois anos e meio surfando em Ocean Beach, eu me apaixonei por São Francisco como nenhum outro local que conheci. Era outono e eu sabia o que estava acontecendo lá em cima, a estação começando com os ventos marítimos. Não consegui voltar lá rápido o suficiente. Então eu tinha um plano, no que dizia respeito a isso. Mas eu não tive uma carreira”.

O ímpeto veio de outro lado inesperado. “Eu estava sentado em meu apartamento vazio em Los Angeles, conversando com meu pai sobre tudo isso, e ele disse: ‘O que você vai fazer?’ Eu disse a ele que não tinha ideia. Eu tinha esse diploma de história, mas qual era o sentido? E eu provavelmente sabia tanto sobre a história do surfe quanto qualquer outra pessoa no mundo, mas e daí? E ele disse: ‘Você deveria escrever uma enciclopédia sobre surfe’. Eu meio que ri e ele perguntou: ‘Existe alguma?’ Eu disse que não, e ele apenas disse: ‘Bem, por que você não faz uma?’ Então, eu fiz. Foi ideia do meu pai, o título dele, todo o negócio”.

Assim, Matt Warshaw, tendo encontrado sua vocação, começou a compilar o conteúdo de seu volume épico de conhecimento sobre surfe com 1.500 entradas em ordem alfabética e 300 ilustrações, publicado pela Houghton Mifflin Harcourt em 2003, com uma segunda edição saindo em 2005.

Os revisores ficaram, em uma palavra, entusiasmados. De acordo com Sam George, os editores da Amazon.com o selecionaram como um dos 100 melhores livros do ano. O Los Angeles Times disse que era “o antigo e o novo testamento da cultura do skate”. Salon.com o chamou de “uma obra-prima viva e que respira”.

Warshaw seguiu o sucesso da EOS em 2010 com The History of Surfing do Chronicle Book, considerado por Sam como uma obra-prima, depois digitalizado em 2013.

“A enciclopédia digital do surfe ressuscita, de muitas maneiras, o charme do livro de referência”, expõe Matt a revista The Atlantic em uma crítica de 2013. “Porque embora tenha se tornado digital da mais bela forma, ainda vem com um editor que detém as chaves do reino”.

Uma década depois, Matt Warshaw ainda detém essas chaves, ainda passa os dias adicionando recursos, entradas, imagens e vídeos, fornecendo o tipo de informação que o mundo do surfe realmente precisa. Mais recentemente, por exemplo, ele incluiu a história da australiana Phyllis O’Donnell, campeã mundial feminina em 1964, que era aos 27 anos, a competidora mais velha do evento, entre homens e mulheres, e que após sua vitória – o primeiro prêmio de um pacote de cigarros – ela voltou ao trabalho como empregada de bar no Tweed Heads Services Club, Austrália.

No artigo, Sam diz que Warshaw está profundamente envolvido não pelo dinheiro. O custo quase trivial de uma assinatura anual da EOS custa quase o mesmo que três tigelas de açaí.

“Gosto de escrever sobre o passado porque gosto de ver como ele se conecta com onde estamos agora”, conta Warshaw.

“É que eu adoro surfar tanto que tenho tentado descobrir o que nos levou a isso, não apenas quando éramos crianças, mas quando surfistas como Duke Kahanamoku eram crianças. Tentando descobrir o que significa esse fio ininterrupto e para onde ele está levando a próxima geração de surfistas”.

Fonte The Inertia