Pela primeira vez em 35 anos surfando, me senti em uma situação completamente vulnerável com respeito a minha vida. Tomei a maior série de ondas na cabeça e só subi com a ajuda de um colete flutuador.
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No domingo, dia 22 de janeiro, rolou no Hawaii um dos maiores e mais pesados swells dos últimos anos. O evento em homenagem ao surfista havaiano Eddie Aikau – The Eddie Aikau Invitational – aconteceu nesse dia. Eu decidi ir surfar nos outer-reefs já que Waimea estava rolando o campeonato, primeiro remando e depois de tow-in.
Durante minha sessão na remada em Himalayas, fui pego por uma série gigante de 40-50 pés. A primeira onda quebrou uns 5 metros à minha frente. Soltei minha prancha, dei três respirações de sobrevivência e esperei pelo impacto mais violento que já senti.
A onda me pegou tão forte que acabou fraturando minhas costelas, o que só descobri depois. A força da onda me levou tão profundo que imediatamente senti na minha cabeça a imensa pressão da água.
Tentei controlar a ansiedade me mantendo calmo, como tenho feito inúmeras vezes durante os treinos e em situações reais no surfe, mas dessa vez foi diferente, nada parecido com um dia normal de ondas grandes.
Fui tão ao fundo que minha roupa e colete com flutuadores não estavam funcionando por conta da pressão. Depois de esperar por um bom tempo para subir à superfície, focando na apneia, abri os olhos e comecei a nadar para a superfície, sem sucesso.
Percebi que eu não estava subindo e que tudo estava escuro, então fui forçado a buscar meu colete inflável, o que levou alguns segundos para encontrar o cordão e acioná-lo. Eu me recordo de falar a mim para manter a calma enquanto procurava pelo cordão. Foram 5 a 10 segundos até chegar na superfície após acioná-lo.
Tudo estava acontecendo tão lentamente e me lembro que enquanto subia, tentava me manter calmo para entender os sinais de hipercapnia que meu corpo apresentava. Sabia que poderia ser pego pela segunda onda a qualquer momento. Assim que cheguei à superfície dei de cara com a segunda onda da série, outra parede gigante de água branca.
Hiperventilei o CO2 dos meus pulmões, dei uma respiração de sobrevivência e levei outro forte impacto. Foram cinco ondas na cabeça até que o guarda-vidas me resgatou. Não consegui ser pego na primeira tentativa de resgate e tomei outra onda na cabeça. Minha prancha foi encontrada na praia.
O oceano estava enorme e poderoso. Ondas de 30, 40, 50 pés em todos os lugares.
Durante meu período submerso, me vieram à tona pensamentos como o que aconteceu com o Marcio Freire e outros tantos surfistas que morreram fazendo exatamente a mesma coisa.
Meu esforço foi no sentido de manter a calma e controlar meus pensamentos graças aos meus treinamentos em apneia. Posso dizer que foi uma das experiências mais profundas que já tive e que aprendi muito com isso. Meus treinamentos em apneia me ajudaram 100%. E o colete inflável me salvou de ficar submerso por duas ondas gigantes em sequência.
Muitos surfistas poderiam não ter subido conscientes dessa mesma situação sem a ajuda de um colete inflável. Isso veio a mim, e continua na minha mente enquanto me recupero com minhas costelas fraturadas.
Recentemente, voltei a surfar. Já ministrei alguns cursos depois do acidente e nunca me senti tão empolgado em ensinar pessoas sobre respiração e técnicas de apneia que acredito serem fundamentais em situações de risco.
A vida é muito vulnerável e pode ser tirada a qualquer momento. Aproveite!
Datas dos cursos de Respiração, Apneia e Sobrevivência Surf no Brasil
22 de Abril, curso gratuito para a comunidade afetada pelas chuvas em Cambury
29 e 30 de Abril em Maresias
06 e 07 de Maio em Ubatuba
13 de Maio, Cia Athletica Paulista em São Paulo
20 e 21 de Maio no Rio De Janeiro
27 e 28 em Balneário de Camboriú
Para obter mais informação sobre o curso acesse o blog Hawaii Eco Divers.
Ricardo Taveira é instrutor master de mergulho formado pela PADI e criador do curso Apnea & Surf Survival. Ele é proprietário da Hawaii Eco Divers e ministra cursos frequentemente no Havaí, Califórnia, Brasil e muitos outros países.