Esse ano optei por fazer minha trip anual para Mentawai, Indonésia, mais para o final da temporada. O objetivo principal era surfar com menos crowd, mas sabendo do risco que talvez não pegaria aquele swell épico.
O mês de setembro é conhecido pela incidência de ventos no quadrante sul, que proporcionam altas ondas em vários picos, mas não na minha onda predileta: Greenbush. Acho que ninguém vai se incomodar se eu usar o termo “Rainha de Mentawai”, inclusive acho difícil contestar isso. Greenbush é a mais tubular, pesada, perigosa e majestosa das ondas que conheço.
O drop é uma emoção, o tubo muito amplo e longo, e no final, onde na maioria dos picos você encontra um canal fundo que lhe dá alguma segurança, em Greenbush você só tem pedras para fora da água.
A bordo da Mentawai Surf Charters e na companhia do fotógrafo Everton Luis (@surf_capture), que também é um grande amigo e guia especialista em Mentawai, estudamos a previsão e percebemos que havia uma manhã sem vento no pico, combinado com o maior swell da trip.
Não hesitamos e amanhecemos em Greenbush. Para nossa surpresa, um leve terral de norte nos abençoou com um mar clássico. Foram horas de surfe na companhia de poucos amigos e muitos tubos.
Já cansado e com muita fome, iniciei uma remada de volta para o canal, porém meu coração apertou, como se algo especial estivesse para acontecer. Foi quando olhei pra trás e vi um amigo bodyboarder pegar uma besta quadrada, a maior do dia, e flutuar sobre o “foam ball” antes de ser engolido. Imediatamente dei meia volta e retornei com toda a minha força, pois sei que nesse lugar, quando todos os fatores se alinham, aquele momento mais esperado pode durar apenas alguns minutos.
Com esperança de pegar a minha onda da vida em Greenbush, sentei no pico mais para o fundo – praticamente sozinho e em sintonia com o mar. Foi quando a “rainha” me escolheu. Ela veio com praticamente o dobro do tamanho outras, tinha muito volume, muita água em movimento.
Remei com todas as minhas forças, dropei de cabeça pra baixo, fiz o bottom turn com calma e botei pra dentro. O tubo foi enorme e muito longo. Depois de um tempo entubando, abri os braços em agradecimento à mãe natureza, como vocês podem ver na galeria abaixo.
Quando saí do tubo já estava praticamente sobre as pedras. Desviei como pude, mas estava cercado. Olhei para trás e vinha mais uma bomba. Fiquei de pé sobre as pedras e tomei a pancada nas costas, voando deitado sobre a prancha com um monte de espuma.
No primeiro impacto já perdi a quilha de trás. Logo depois senti um puxão na cordinha, que ficou presa na pedra. Logo tirei a cordinha do tornozelo e me senti mais aliviado. Como mesmo assim não soltou, soltei ela da prancha e escapei sem a cordinha. Mais para o raso, depois das maiores pedras e com espumas menores, dei a volta por baixo e alcancei o canal.
Em segurança e muito adrenalizado, contabilizei o prejuízo: uma quilha, uma cordinha, um corte no pé e a prancha com vários buracos. Saiu barato em comparação ao tubo que havia surfado momentos antes. Meu grande parceiro Everton Luis registrou tudo e esta sequência é a maior e melhor onda que já surfei em Greenbush.
Como Mentawai é democrático, o grupo passou o resto do dia surfando em um mar clássico em Malakopa. O pico é uma direita perfeita e fácil que mais parece a Califórnia. Eu fiquei de fora por conta do corte no pé, mas tomando uma Bintang gelada e assistindo a diversão dos amigos.