Os primeiros raios de sol colorem o horizonte e apontam um dia sem nuvens. Diz a lenda que quando o dia nasce assim o vento Sudeste é predominante. Eu, minha esposa Luana e nosso fiel fotógrafo local Ardi já estávamos a mil organizando os equipamentos.
Lentes, câmeras, drones, ação! Os hóspedes vão chegando e logo em seguida o barco já está no canal rumo a NoKandui. Todos no barco quietos, com certeza com uma mistura de expectativa e adrenalina. Afinal ali começava o maior swell do ano e talvez da história nas ilhas Mentawais.
Estávamos com um time de primeira. O português Pedro Boonman, Joao Mauricio e seu filho Kailani Jabour, além do francês Sam Pitter, filho do lendário surfista Didier e seu amigo Polônes Max.
Passamos por Hideaways no caminho e vimos que a ondulação já tinha entrado, confirmando a previsão de um potente swell de Sudoeste com período de 21 segundos e tamanho de 6 a 8 pés (2 metros e meio). Ao chegarmos em Kandui, notamos que o vento ainda estava um pouco errado. Uma brisa de Noroeste ainda não deixava as condições ideais.
Esperamos um pouco acreditando na lenda sobre ver o sol nascer sem nuvens e não deu outra. Após uma meia hora, o vento começou a virar para Leste e as ondas aumentavam a cada série.
Sam foi o primeiro a entrar na água, seguido pelo seu amigo Max. Pedro, Kailani e João foram logo atras. Seria a primeira vez em Kandui para alguns deles, ainda mais nessas proporções.
Vários barcos de outros resorts chegaram logo em seguida. E com bons surfistas que dividiram tubos fortes e cada vez mais constantes. Mas apesar disso o vento voltou a virar para Noroeste. João pegou uma das melhores ondas do dia. Quase foi guilhotinado pelo lip, mas acabou atravessando a cortina de água e completou o tubo.
O resto do time também pegou boas ondas, mas o vento errado fez as ondas ficarem muito rápidas e difíceis. Kailani veio em uma bomba. Tentou passar por dentro, mas foi arremessado na afiada bancada. Acabou com uns cortes no rosto e logo voltou para o barco. A pancada foi tão sinistra que ele teve um reflexo nos dedos de uma das mãos. Gelo, repouso, mas logo estaria de volta.
Enquanto isso vários surfistas enfrentaram o desafio de surfar uma das ondas mais rápidas do mundo. Resultado: muitos tubos completados, mas muitos wipeouts.
O vento alternou muito naquela manhã, e a maré começou a baixar. Por volta do meio dia, seguimos em direção ao resort, mas ao passar por Hideaways, não resistiram. Tubos e mais tubos grandes e perfeitos quebravam sozinhos. Logo pularam na água e mais uma sessão de tubos pesados aconteceu, mas desta vez com apenas nosso grupo. Pedro Bonnman e Sam foram os destaques, demostrando muita técnica.
Voltamos para o resort quando notamos que a maré já estava seca demais e a bancada do inside ficava cada vez mais exposta. Hora de voltarmos para casa e repor as energias.
No final do dia fomos checar as ondas no pico de Ebay, mas as ondas estavam muito balançadas, apesar de ter uns momentos. Decidimos voltar para Hideaways, pois achávamos que surfaríamos sozinhos. Acertamos em cheio. Mais uma sessão de tubos insanos e com o mar ganhando tamanho cada vez mais. Um dia mais que perfeito.
O Dia D
No dia seguinte resolvemos adotar a mesma estratégia. Sair o mais cedo possível em direção das ondas que no domingo marcava 7 a 10 pés (3 metros). Pranchas e equipamentos no barco e seguimos a toda para NoKandui.
No caminho já dava para perceber que as ondas estavam ainda maiores. O sol nasceu limpo mais uma vez e estávamos confiantes que o vento Sudeste entraria novamente.
Dito e feito! No canal vimos vários charters a caminho de Kandui também. Entre eles o Sibon do nosso amigo Icaro, O Star Koat com Bruno Veiga, além de outros. Um total de 5 charters vieram atrás do que foi um dos maiores dias na história do pico. Tão grande ou maior do que o famoso Muzza Swell em 2015.
Mais uma vez as condições se confirmaram. Séries constantes e potentes corriam na longa bancada e já desafiaram vários surfistas que já estavam na agua.
A galera do nosso barco rapidamente remou para o pico e o show começou. Tubos e mais tubos gigantes, muitos deles rápidos demais. Mas também com muitos deles completados, uma verdadeira locomotiva sem freio com series que beiravam os 12 pés havaianos (3 metros e meio).
João se lesionou na primeira onda e ficou fora de combate. Kailani deu mais sorte e dropou séries enormes seguido por bons tubos. Sam e Max surpreenderam apesar de sua pouca idade, com uma linha perfeita. Pedro se encaixou em tubos difíceis, completando a maioria deles.
Diversos surfistas profissionais dividiam o line up com uma vibe incrível. Era raro ver alguém rabeando ou mesmo remando nas ondas dos outros. E o que mais se viu eram os gritos da galera nos barcos a cada tubo completado ou a cada vaca.
O surfista basco Aritz Aranburu foi convidado pelo Kandui Resort e foi um dos destaques do dia com um backside animal. Completou muitas ondas impossíveis.
Outros nomes de peso estavam por lá se misturando com os corajosos surfistas amadores que enfrentaram as difíceis condições. Quando de repente chega ao pico Kelly Slater, que veio correndo atras do swell. Resultado, um show de surfe com séries constantes e potentes e Slater mostrando uma linha que ninguém mais conseguia imitar.
Muita gente ficou se perguntando se este swell foi ou não maior que o Muzza Swell. Acredito que essa reposta é difícil. Alguma séries pareciam maiores, mas em 2015 com certeza as condições estavam muito mais limpas com o vento terral soprando o dia inteiro.
Neste swell o vento variou mais e com isso as ondas pareciam mais difíceis. Mas uma coisa é certa, foi mais um swell especial, que vai ficar na memória de todos que estiveram por aqui!