Parasurf Síndrome de Down

Paralimpíadas na mira

Confira entrevistas com mães de Jade Lie e Gabriel Paiva, vencedores da categoria Síndrome de Down do CBSurf Cabedelo Parasurf.

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Jade e Gabriel, campeões da categoria Síndrome de Down em Cabedelo.@gabrielpaiva.gabisurf / Instagram
Jade e Gabriel, campeões da categoria Síndrome de Down em Cabedelo.

A etapa do CBSurf Cabedelo Parasurf aconteceu nos dias 17 a 20 de agosto, em
Cabedelo (PB) e foram incluídas novas categorias, Surdo, Autista e Síndrome de Down. Os vencedores das categorias Síndrome de Down masculina e feminina foram Gabriel Paiva e Jade Lie.

Em conversa exclusiva para o Waves, as mães dos atletas, Ana Tanaka (mãe da Jade) e Marisa Paiva (mãe do Gabriel) contam como foi essa experiência, suas percepções no dia e perspectivas para o ISA Games e o surfe nas Paralimpíadas. Os atletas também respondem algumas perguntas por vídeo.

Confira a seguir a entrevista com a Ana Tanaka, mãe da atleta Jade Lie:

Como surgiu a ideia de inscrevê-la no Circuito Brasileiro de Parasurf?

A Marisa, mãe do Gabriel Paiva, foi quem me deu a notícia que iam abrir a categoria SD (Síndrome de Down). A princípio não ia participar, iria somente prestigiar o evento e ver quem surfava e tinha SD. Mas senti que seria legal ela participar, pelo menos para curtir. A ideia não era ganhar e sim experimentar como seria o Parasurf.

Quais foram as principais impressões em relação ao cuidado e inclusão com os atletas?

Nós (eu e o Joca) nunca havíamos ido a um evento do Parasurf, somente campeonatos de pessoas “normais”, categoria masculina e infantil. Eu fiquei impressionada com a estrutura, organização, pessoas e acessibilidade, tudo muito bem feito, com carinho e cuidado.

A categorização foi feita por médico e fisioterapeuta, com os parâmetros da ISA. Tinham três organizações que auxiliavam os cadeirantes, muitos voluntários.

Quando a Jade foi surfar no segundo dia, havia cinco voluntários a esperando na beira do mar, caso acontecesse algo. O mar estava grande, achei bem seguro e cuidadoso, tendo em vista que o surfe é um esporte que precisa ter muita cautela.

Quando o locutor falava o nome da Jade, ela entrava na personagem surfista e gostou bastante.

Como se sente ao ver sua filha competindo num circuito brasileiro?

Nós sentimos muito orgulho da Jade, parece que nós vencemos também muitas barreiras. O fato de a nossa comunidade (através da rifa) nos ajudar a ir para esse campeonato, fez com que toda a cidade sentisse orgulho dela também.

Ela foi muito bem recebida aqui em São Sebastião, via as pessoas virem cumprimentá-la. Acredito que a cidade toda ficou feliz por ela também. Nós nos sentimos muito bem porque conseguimos passar aquela mensagem de “olha… é possível, ela tem SD (Síndrome de Down) e sabe surfar de pé“.

Jade se diverte no mar.

Como acha que sua filha se sentiu nesse momento de competição? Quais foram as percepções?

A Jade estava super tranquila, mas nós como pais ficamos receosos porque o mar estava grande e ela poderia se assustar e desistir. Mas devido à estrutura e todas as pessoas que apoiavam, ela foi se sentindo inserida naquele contexto.

No primeiro dia, ela pegou uma onda grande com o Joca, seu padrasto, e se assustou, acabou saindo. Depois vieram a Malu Mendes e a Brigitte Mayer parabenizá-la. E as pessoas aplaudiram. Depois disso, ela voltou e surfou na espuma, feliz da vida. (Isso foi inclusão, as pessoas apoiaram ela). No segundo dia, ela já chegou confiante e surfou super bem.

O que considera como maiores dificuldades nessas categorias em relação aos atletas?

A categoria SD (Síndrome de Down) ainda não é reconhecido pela ISA. A SD tem hipotonia muscular e frouxidão ligamentar, e são alterações orgânicas, que deveriam ser levadas em conta.

O que acha que falta nas categorias, circuitos, quando se trata de Parasurf?

Como foi nossa primeira vez, achei muito boa a estrutura e tive uma ótima impressão, nós só temos a agradecer a experiência. O que falta são as empresas patrocinarem os atletas para competir, alguns tinham patrocínio, mas a maioria não.

Como classifica a importância dessa inclusão no surfe?

Quando a gente vê na TV uma pessoa que tem as mesmas dificuldades que você, vencer em alguma coisa, dá uma sensação muito boa. Para os pais e as pessoas SD ressoa como uma esperança de um mundo mais inclusivo, com um olhar mais atento e cuidadoso e com menos preconceito.

A vitória da Jade é apenas uma, no meio de tantas outras vitórias diárias de muitos pais que cuidam e lutam pela inclusão social.

No surfe, pareceu algo muito motivador, porque o surfe é um esporte difícil, lida com muitas variações. Amei essa atitude da CBSurf de incluir essa categoria, achei corajoso e amoroso. E foram muito responsáveis na estrutura e organização.

Gostaria que tivesse perspectiva para essas categorias no ISA Games e a inclusão do Surfe nas Paralimpíadas? Por que?

Sim. Gostaria muito que fosse incluído e que o surfe fosse incluído nas Paraolimpíadas, a luta é grande ainda.

A SD, autismo e surdo compõe uma parcela grande das pessoas que tem deficiência, e ter representação dessas pessoas nas Paralimpíadas, ver o desempenho, iria incentivar muito as pessoas a praticar esporte apesar da deficiência, ter uma vida social de inclusão, melhorar auto estima, ter saúde física. O mar não escolhe se você tem deficiência ou não, ele é o que é, e assim nos ensina muito.

Também conversamos com Marisa Paiva, mãe do atleta Gabriel Paiva. Confira:

Como surgiu a ideia de inscrevê-lo no Circuito Brasileiro de Parasurf?

Gabriel vem praticando o surfe desde 2019. Neste ano ganhou um campeonato aqui em nossa cidade e ficou muito feliz.

Passou a fazer aulas com o professor Victor Ribas já fazem 3 anos, e não parou mesmo na pandemia (com os devidos cuidados, claro).

Passamos a acompanhar os campeonatos e soubemos que a CBSurf criou novas Categorias, inclusive da Síndrome de Down. Então resolvemos inscrever Gabriel como atleta da CBSurf para que ele pudesse competir em 2023.

Quais foram as principais impressões em relação ao cuidado e inclusão com os atletas?

A CBSurf está de parabéns por incluir novas Categorias que até então, não existiam no Brasil e nem na ISA. O Brasil está sendo pioneiro. Vimos um show de inclusão e organização. Fomos tratados com muito carinho e acolhimento.

Como se sente em ver seu filho competindo em um circuito brasileiro?

Ver Gabriel competindo nos traz muito orgulho e satisfação, especialmente vendo sua alegria e desempenho na água que são sensacionais. Também a experiência de vida que vai lhe trazendo mais autonomia.

Como acha que seu filho se sentiu nesse momento de competição? Quais foram as percepções?

Gabriel se sentiu muito feliz, muito à vontade e vibrando a cada momento. Isso demonstra que estamos no caminho certo. Muitos comentaram sobre sua alegria, inclusive os narradores do evento.

Gabriel se prepara para pegar um tubo.@gabrielpaiva.gabisurf /Instagram
Gabriel se prepara para pegar um tubo.

O que considera como maiores dificuldades nessas categorias em relação aos atletas?

Os custos e a segurança do atleta para não correr riscos.

O que acha que falta nas categorias, circuitos, quando se trata de Parasurf?

Falta patrocínio para ajudar nos custos.

Como classifica a importância dessa inclusão no surfe

Todos tem direito de ser feliz. Além de todos os benefícios que o surfe proporciona o mais importante é o reforço na autoestima que as pessoas com déficit cognitivo tanto necessitam.

Gostaria que tivesse perspectiva para essas categorias no ISA Games e a inclusão do Surfe nas Paralimpíadas? Por que?

Sim. Seria o projeto de toda uma vida ser paraolímpico. É o sonho de todo atleta.