A cada ano que passa, o surfe tem se tornado um esporte cada vez mais popular no Brasil. Além disso, a modalidade agora faz parte dos Jogos Olímpicos, aumentando ainda mais as chances de medalhas brasileiras.
Mas, existe uma possibilidade de as pessoas com deficiência surfarem? Felizmente, a resposta é sim, e por isso vamos falar sobre alguns dos principais personagens do surfe adaptado no Brasil.
Escola Radical de Surfe Adaptado
No começo deste ano foi inaugurada a primeira escola pública de surfe adaptado do mundo para pessoas com deficiência. Ela fica localizada na Praia do Gonzaga (Posto 3), em Santos, litoral de São Paulo.
Através da iniciativa pública-privada, a escola foi idealizada por Cisco Araña e atende aproximadamente 80 alunos, contando com acompanhamento de seis professores, um terapeuta e um coordenador. Durante as aulas, os pais podem entrar no mar junto com os alunos, o que gera um ambiente ainda mais familiar.
Outro ponto importante: nos dias em que as condições meteorológicas não são causadas no mar, as aulas são transferidas para o espaço multifuncional, mantendo os alunos em atividade.
Felipe Kizu, tricampeão mundial
Há 13 anos, quando tinha 18 anos, Felipe sofreu uma queda e se tornou paraplégico. A lesão medular transformou sua vida e intensificou ainda mais a paixão pelos esportes ao ar livre, principalmente sobre pranchas.
Descobriu o caiaque surfe, reaprendeu a surfar e começou a praticar diariamente. Começou a competir profissionalmente e correr campeonatos, onde tornou-se o primeiro campeão mundial brasileiro no torneio organizado pela International Surfing Association. Depois disso, Kizu trouxe mais duas medalhas de ouro (2016 e 2018).
ISA World Adaptive
Entre os dias 11 e 15 de março vai acontecer o campeonato mundial de surfe adaptado organizado pela ISA em La Jolla, Califórnia (EUA). Na sua quinta edição, a expectativa dos organizadores é que o campeonato seja um show de manobras radicais, superação e inclusão.
“A ISA está orgulhosa em promover esse campeonato pela quinta vez. O crescimento e a visibilidade do evento impulsionaram um movimento global em prol do surfe adaptado, criando novas oportunidades para estes surfistas ”, comenta o argentino Fernando Aguerre, presidente da ISA.
Taiu Bueno e Alcino Neto, o “Pirata”
Taiu Bueno e Alcino “Pirata” Neto são dois nomes de peso e respeito na história do surfe nacional, com relevância e consideração internacional, além de serem ligados pela cidade de Guarujá e pela causa de pessoas com deficiência.
Taiu ficou tetraplégico aos 29 anos, em março de 1991, durante uma sessão na praia de Paúba, litoral norte de São Paulo. Caiu de cabeça e fraturou a C4, fazendo com que o ficasse completamente imobilizado. Autor de dois livros – “Alma Guerreira” e “Alma Guerreira II – Onda do Espírito”, Taiu é casado com Diana e pai das gêmeas Mariana e Isabela.
Em 2010, em parceria com amigos, construiu a famosa “Jabiraca”, uma prancha adaptada que vem sendo a melhor até os dias de hoje. Sempre que pode, conta com os amigos Jorge Paccelli, Danilo “Mulinha”, Alexandre Cebola e Rodnei Costa para curtir a adrenalina de pegar as ondas novamente.
Alcino Neto, mais conhecido como Pirata, é o pioneiro do surfe adaptado e responsável pela evolução da modalidade no Brasil. Perdeu a perna esquerda aos 14 anos em um acidente de moto, em 1986. Alguns anos depois, Pirata já estava caindo em Pipeline e outros lugares extremamente desafiadores. Em 1996, fundou o Pirata Surf Club na praia de Pitangueiras, Guarujá, onde havia aulas gratuitas de surfe adaptado para crianças e adultos, com deficiências intelectuais e visuais, além de amputados e paraplégicos.
Pirata também aulas dava para o público geral. Dentre os seus alunos esteve Adriano de Souza, o “Mineirinho”, campeão mundial em 2015.
Além da escola, Pirata mantém o Espaço Histórico do Surfe, dedica-se a preservar a história da modalidade no Brasil, contando com um acervo de objetos e equipamentos. Em 2008, através do projeto “Surfing for All”, levou o surfe adaptado para um grupo de soldados – vítimas de amputação por bombas – em um centro de reabilitação em São Diego, Califórnia (EUA). No circuito mundial, foi campeão em 2017 da categoria AS2.
Adaptsurf e Onda BGF
Essas duas ONGs realizam um trabalho fundamental para a inclusão de pessoas com com deficiência através do surfe. O Onda BGF organiza um evento de inclusão social duas vezes por ano. Nesse evento, a praia de Bertioga (SP) fica tomada por centenas de pessoas com deficiência com um único intuito: se divertir e cair no mar! A ONG disponibiliza caiaques, canoas, catamarãs e pranchas de SUP (tudo adaptado) para pessoas com qualquer tipo de deficiência capaz de terem uma verdadeira sensação de deslizar sobre uma onda.
“Nada disso seria possível sem parcerias, muito menos sem voluntários e amigos, que fazem tudo acontecer”, afirma Bruno Guazzelli Filho, criador do evento Onda BGF Praia Acessível em 2011. Em 2020 o evento tem sua 19ª edição programada para o dia 9 de maio e aguarda cerca de 400 pessoas com deficiência de diversos locais para o muito surfe adaptado.
Criada em 2007 no Rio de Janeiro, a Adaptsurf (sem fins lucrativos) foi criada “para garantir igualdade de oportunidades e acesso ao lazer, esporte e cultura através do contato direto com a natureza, divulgando o surfe adaptado e lutando pela preservação e por melhorias na acessibilidade das praias”, conforme descrição da organização. As aulas gratuitas acontecem aos finais de semana – sábado na praia da Barra (Posto 2) e aos domingos na praia do Leblon (Posto 11), sempre das 9h às 14h.
Para marcar ainda mais, desde 2010 rola o Circuito Adaptsurf, uma competição em que os alunos mostram tudo o que aprenderam durante o ano e, para concluir, lançaram o Guia Adaptsurf, que fala sobre acessibilidade nas praias do Rio de Janeiro e também sobre a qualidade das ondas para a prática do surfe adaptado.
Guilherme Rocha escreve sobre o universo adaptado no Blog da Cavenaghi.