É engraçado dizer, mas um dos programas favoritos do carioca ao ar livre é curtir uma ressaca. Tradicionalmente, quando o mar fica grande, calçadões e proximidades se tornam arquibancadas para um público vidrado na fúria do mar e na coragem dos que enfrentam as ondas. Além de tudo, é de graça e faz bem para o pulmão respirar a brisa do mar.
Antes de começar a surfar e ter um contato mais constante com o mar, para mim uma ressaca era uma ressaca. Tinham umas em dias de sol, outras chovendo e com vento, mas basicamente era tudo igual. Grandes ondas revoltas que iam comendo a areia da praia. Depois você vai percebendo que cada ressaca tem uma característica própria.
As condições de surfe tem tantas variáveis que é impossível que elas sejam iguais. Pode mudar poucos graus na direção que as ondas entram, ou o tipo de vento, a intensidade do swell e sua duração, claro, os números básicos de altura e período das ondas.
E se um desses fatores já é o bastante para criar um cenário diferente, imagina eles combinados. Existem também as variáveis do fundo e no jeito que a costa vai receber cada ondulação. Ou seja, tantas possibilidades tornam cada ressaca peculiar…
O último final de semana (20 e 21) foi um desses cenários raros. Com uma direção acentuada de leste e a presença de apenas uma ondulação primária, o que é muito difícil no Brasil, alguns picos adormecidos quebraram como há muito tempo não se via. A praia do Flamengo foi um deles, e talvez um dos destaques. A onda não é longa e nem tão perfeita, mas uma direita que quebrou em sua melhor forma no fim de tarde do domingo.
A ondulação marchava baía a dentro e, se os picos virados para o alto mar como Leme e Arpoador que normalmente recebem bem ondulações desse quadrante, tinham condições apenas boas, no Flamengo deu o clássico dos clássicos. Isso não quer dizer que estava melhor do que os outros picos, com ondas maiores e com mais pressão. Mas um acontecimento histórico desse merece registro.
Infelizmente, perdi o auge no domingo, mas na segunda-feira, sabendo que a ondulação não perderia tanta intensidade, madruguei para fotografar as ondas do “brejo”. De quebra, fiz uns estudos da “Besta”, laje de ondas gigantes que quebra na entrada da baía.
Essa onda fica no aterro do Flamengo, uma área, como já diz o nome, completamente modificada pelo homem. Faz parte da baía de Guanabara, onde normalmente não tem onda nenhuma. É uma área ultra poluída, que foi sendo degrada com o crescimento da cidade. A baía de Guanabara é um esgoto a céu aberto, infelizmente.
Essa direta do Flamengo é uma lenda entre os surfistas que moram próximo ao lugar. Já havia visto quebrando algumas outras vezes, basicamente quando tem uma ressaca tem alguém remando lá, por pior que esteja. Mas quando a ondulação encaixa e entra limpa na baía, realmente se forma um pico surfável e bonito e foi o que aconteceu.
Depois de um fim de tarde clássico na baía no domingo, o crowd chegou cedo na segunda, tanto de surfistas quanto de curiosos afinal, uma ressaca é o programa favorito do carioca, até mesmo numa segunda-feira.
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