Auêras Point

Ceará na ressaca

Cearenses desbravam pico em alto-mar de Fortaleza batizado de Auêras Point.

Auêras Point, Fortaleza (CE)

A primeira semana de março ficará para sempre marcada na memória do surfe cearense, graças à maior ressaca do mar registrada desde a popularização das previsões de ondas, em meados da década passada.

No dia 2, a costa nordestina foi atingida em cheio por uma ondulação proveniente do Atlântico Norte que trouxe as maiores ondas já surfadas em toda região. Da Ilha dos Poldrós, no Piauí, até as Urcas, no Rio Grande do Norte, passando pelo arquipélago de Fernando de Noronha, milhares de postagens e relatos pipocaram nas redes sociais para atestar a dimensão e potência deste swell.

No Ceará, praticamente todos os picos de surfe funcionaram com ondas incríveis. Até a extinta onda do Ideal, soterrada para a construção do Aterro de Iracema, voltou a quebrar depois de praticamente duas décadas. Além do Ideal, outras ondas praticamente extintas também voltaram a quebrar perfeitas.

Picos como Náutico, Jaqueline, Castanholeira e Pedra do Apito, localizados na Av. Beira Mar, bombaram como há muito tempo não se via. Contudo, alguns dos melhores registros ficaram por conta de ondas já conhecidas como Icaraí, Pico das Almas, Morro do Chapéu, Paracuru, Iguape, Caponga, dentre outras.

Essa ondulação também iniciou uma nova era no surfe nordestino: a busca por ondas em alto-mar. Quem é mais antenado no esporte ficou espantado com o tamanho e a potência de uma onda no Rio Grande do Norte, localizada a cerca de 30km do litoral, chamada Urca do Minhoto. Alguns cearenses estiveram lá, liderados pelo fotógrafo Cícero Júnior, e protagonizaram mais um capítulo do surfe brasileiro.

Swell no alto-mar de Fortaleza Em Fortaleza, a caçada em alto-mar foi comandada pelo veterano Marcelo Bibita, que juntou uma turma de amigos para encarar a fúria oceânica bem no coração da capital cearense.

O destino foi o Auêras Point, um lugar pouco explorado, mas que, segundo Bibita, há mais de três décadas vem sendo monitorado e sempre funciona com a chegada de grandes ondulações. O pico proporciona uma onda solitária no “outside” da Ponte Metálica, despertando na mente de Bibita um desejo que agora materializou-se em grande estilo.

Em 2013, o pico fora finalmente desbravado e batizado como Auêras Point. Registrado pela primeira vez pelas lentes do fotógrafo Ednardo Lima e por uma equipe do Globo Esporte Ceará, estas ondas foram surfadas por um grupo de 17 surfistas, entre longboarders, surfistas profissionais (como o atual campeão cearense profissional Arthur Silva, além das feras Icaro Lopes e Diego Mendes), bodyboarders e a equipe de surfistas repórteres da revista Beach Show. Nesse dia, excelentes ondas foram surfadas e finalmente as bancadas foram mapeadas.

Até então, o local era frequentado apenas por pescadores, que ganham seu pão de cada dia e conhecem o pico como Baixa da Véia, numa menção a uma situação inusitada do passado. E neste swell histórico o Auêras Point mostrou todo seu potencial, com ondas chegando a mais de 4 metros de face, e fazendo a cabeça de quem teve o privilégio de estar presente.

A presença de Pedro Bala, um dos grandes fotógrafos de surfe da atualidade, fez toda a diferença na trip, pois com sua disposição para encarar a zona de impacto ou competência para orientar no posicionamento da embarcação foram cruciais para o sucesso da expedição.

As ondas quebram sobre uma enorme bancada de coral com três picos principais, além de alguns intermediários. Nesse dia as maiores ondas eram das séries que vinham do quadrante Nordeste. Estas demoravam bastante, mas quando vinham, muitas vezes pegavam todos de surpresa.

Só Leonardo de Castro, que estava posicionado mais a nordeste, teve a chance de descer uma dessas bestas, mas chegou um pouco atrasado e acabou sendo massacrado por uma das maiores séries do dia. Eram verdadeiras montanhas da água em movimento. “Estava muito similar à formação que é vista na laje da Cacimba do Padre”, declara Marcelo Bibita, um veterano nas ondas de Fernando de Noronha.

Na pequena embarcação, foram os locais da Ponte Metálica Max Jouber, Flávio Macarrão e Marcelo Bibita, além dos convidados, o experiente big rider Jorge Cavalcante (Jorjão), o representante de Maranguape, Argeu Belo, Leonardo de Castro, o bodyboarder Bruno Araújo, o “Frigideira”, e os surfistas de SUP Heyner Fortunato e Paulo Marcelo, além do capitão da embarcação, o amigo “Soldado”.

Para fechar a expedição com chave de ouro, no domingo à noite, uma amostra fotográfica foi realizada na Temakeria Konni Baa. Intitulada “Um dia de São Swell no Auêras Point”, o evento contou com a presença da nata do surfe cearense, numa seleção das melhores imagens produzidas por Pedro Bala.

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