No mês de setembro, o swell que entrou de leste no sul do país trouxe boas ondas às praias de Santa Catarina. Foram cinco dias intensos, favorecendo quem curte condições pesadas.
Me lembrei do último swell de leste que entrou grande aqui em Jaguaruna. Foi em 2011, quando as séries passaram dos 20 pés de face. A diferença desse swell foi a questão dos gráficos, que apontavam ondas um pouco menores: 3,1 metros e período de 11 segundos.
Agilizamos toda estrutura, reunimos a galera e armamos mais uma investida à Laje da Jagua. Fretamos a lancha de Marcos Vinicius, pois tinha uma galera nova que estava pilhada para conhecer a Laje.
Na barca estavam eu (Thiago Jacaré), Fabiano Tissot, André Paulista, João Baiuka, Marcus Peruchi, Humberto Etges, Marcelo Predebon, Pepe Ouriques, Fábio Mia, Luiz Casagrande, Márcio Artur, Lou Meneghetti, Pepe Gomes, Luca Cohen e o carioca Gabriel Sampaio, estreando no pico. Nos registros ficaram Rafa Shot, Gabriel Gomes, André Deichmann e Matheus Henckmaier.
Foram dois dias de Laje. No primeiro, domingo 16, estávamos com uma estrutura forte, mas o swell não vingou como apontava no gráfico. Isso não impediu que um bom treino rolasse com a equipe na rasa bancada da direita. Tissot encarou mais uma vez a Laje de foilboard e dessa vez desafiou as direitas.
O resto da galera se divertiu fazendo um tow-in, pois a onda estava muito seca e perigosa para remada. Foi um dia de boas ondas, legal que estamos fazendo esse intercâmbio entre a galera que surfa as lajes no Rio e trazendo eles para conhecer a onda da Jagua. Finalizamos com um churras na base do seu Ivo, um cordeiro trazido pelo uruguaio Pepe.
Já na segunda, dia 17, aconteceu a parte ruim da história, mas ao mesmo tempo foi boa. Explico: todo mundo foi embora no domingo e o swell atrasou, quebrando gigante na segunda.
Acordei, vi o mar com os uruguaios que ainda estavam aqui e logo chamamos o João Baiuka e fomos com uma estrutura enxuta, apenas com o fotógrafo Matheus Henckmaier. Chovia muito no dia e fomos obrigados a colocar a máquina na caixa-estanque. Quando chegamos ao pico, a Laje estava enorme, bizarra e rodando tubos grotescos. Daí surgiu o misticismo da Jagua em seus dias de fúria: sempre algo acontece pra ela não ser vista nos seus melhores dias.
A caixa-estanque embaçou e apenas duas fotos foram salvas de toda sessão. Faz parte, erramos o dia, mas surfamos as ondas da vida na segunda. Dia de big surfe de verdade em águas brasileiras. Laje gigante na direita, bombando e lembrando como se fosse Todos os Santos, no México.
São anos tentando organizar uma etapa do Big Wave Tour na Laje e a WSL sempre alega que o Brasil não tem cacife para entrar no Tour. Boa parte disso também é culpa de alguns big riders brasileiros que já surfaram aqui. Viram a bruxa e ainda vão para a mídia dizendo “que o Brasil não tem ondas gigantes, mas tem boas condições para treinar”.
Treinar? Fala sério! Temos ondas grandes e gigantes, só não temos consistências de swell. Mas olha, daqui a pouco vai encaixar um swell daqueles que vai deixar muita gente de cabelo em pé!