Estava aqui em minha simples casa na Vila de Regência (ES) pensando o que escrever sobre este lugar e essa onda que eu tanto amo, em um momento tão polêmico.
Me lembrei então que não há como agradar gregos e troianos, então falarei a verdade. “Minha” verdade, como moradora, surfista, gestante e admiradora deste lugar tão peculiar.
Me chamo Isabela Mayara Cheida, mas muitos me conhecem como Belinha, talvez pelo meu tamanho. Atualmente conduzo um projeto de incentivo e empoderamento do surfe feminino no Espírito Santo, chamado Soul Surfers Brasil, onde realizamos surfe treinos, trips, eventos e ações voltadas à evolução das mulheres surfistas no estado capixaba.
A pergunta que não quer calar e que muitos me fazem por estar à frente de determinadas ações na Vila é: “está podendo surfar?”. E essa é uma daquelas perguntas que, assim como a política no Brasil, gera um frio na espinha e um imenso desconforto ao responder, pois não há certeza de nada.
A bem da verdade, venho aqui aos amigos e leitores do Waves tentar ao menos esclarecer essa situação, dois anos depois do maior crime ambiental brasileiro. A resposta para a ansiosa pergunta acima seria, ao meu ver: “Se está podendo surfar ninguém sabe, mas que muitos estão surfando, sim, estão.”
Agora, pergunto ao leitor que é surfista de alma e que já viu fotos de Regência quebrando: será possível ver essas ondas e não cair nesse mar com essa cor de água? (obs: as fotos acima são do swell dos dias 28 e 29 de janeiro no Point e na Boca do Rio aqui em Regência).
Eu particularmente não surfei, pois me encontro no nono mês de gestação, mas a vontade foi imensa de viver esse “sonho” no quintal de casa.
Diante dessa problemática, nós, surfistas capixabas (ou paulixaba como eu), estamos em um muro de Berlim. São dois anos reivindicando da Renova (empresa criada pela Samarco para administrar questões relativas ao crime) um laudo decente das águas dos points (que ficam a mais de 5 quilômetros da Boca do Rio) para entendermos a real condição da composição das águas e sedimento da praia e até hoje nada.
Empresas privadas não querem se envolver nesse tipo de análise. E qual amparo que temos? Qual a solução?
Hoje, a ASR (Associação do Surf de Regência) está reunindo fotos, documentos e depoimentos de surfistas da Vila para entrar com uma ação coletiva contra a empresa Renova) reivindicando que também fomos e somos atingidos, pois até hoje nenhum surfista foi indenizado ou amparado pelo caos gerado.
Enquanto isso, estamos surfando, sim, mas acomodados, não! Seguimos na luta e na esperança de que situações como essa nunca mais venham acontecer!
Se vier a Regência surfar e for postar alguma foto, pedimos que use a hashtag #somostodosatingidos e participe dessa reivindicação coletiva!
A reportagem do Waves entrou em contato com a Renova, que disse que a balneabilidade das praias é de responsabilidade do poder público municipal. A empresa também afirma que realiza programas constantes de monitoramento com foco na recuperação da qualidade ambiental do ecossistema local.