Auêra-Auára

Pororoca vira documentário

Pororoca da Ilha de Marajó (PA) é tema de documentário no Reino Unido, França e Canadá.

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Pororoca do Rio Amazonas recebe equipe de filmagens da Europa.

Entre os dias 28 de janeiro e 2 de fevereiro, a equipe da Abraspo (Associação Brasileira de Surf na Pororoca) coordena mais uma megaoperação. Dessa vez, o objetivo é a captação de imagens para a gravação de um documentário que será exibido no Reino Unido, França e Canadá.

A operação tem como objetivo apresentar não somente o fenômeno aos telespectadores das gigantes das telecomunicações BBC de Londres, CBC do Canadá e France5 da França. A intenção dos diretores (dois dos quais vindos diretamente da Inglaterra para coordenar a captação das imagens, que ficará sob a responsabilidade da produtora brasileira Zumbi Filmes) é mostrar a onda mais longa do mundo que acontece no Rio Amazonas, a maior bacia hidrográfica do planeta, com mais de 7 milhões de quilômetros quadrados de extensão e os aspectos culturais que criam um plano de fundo que torna toda essa operação uma experiência única, explicitando como o fenômeno influenciou na vida de surfistas ribeirinhos.

A região da Ilha do Marajó (PA) é conhecida mundialmente por sua história milenar, sua cerâmica e suas formas e estética que carregam a identidade dos povos que viveram naquela região há mais de 2 mil anos.

Região da Ilha do Marajó é conhecida mundialmente por sua história milenar.

Contudo, o principal aspecto cultural ligado ao fenômeno é o tradicional Ritual das Águas Auêra-Auára, cerimônia onde os surfistas pedem permissão para que a operação aconteça em segurança e para que a pororoca se manifeste. Parece algo eminentemente folclórico, mas a verdade é que já houve operações em que a onda só aconteceu após a realização do ritual pela tribo dos Auêra, revelando e confirmando o caráter iminentemente místico do fenômeno.

E segurança é a principal preocupação do organizador da expedição, Noélio Sobrinho. A região do Rio Amazonas onde o fenômeno da pororoca se manifesta é repleta de perigos que por si só demandam uma série de cuidados e exigirá toda a experiência de mais de duas décadas da equipe da Abraspo coordenando expedições de surfe no fenômeno.

Ao contrário de outras locações onde a pororoca ocorre, o Amazonas, por se tratar do rio mais caudaloso do planeta e conter cerca de 20% de toda água doce líquida da Terra, impõe desafios igualmente magnânimos. Basta dizer que a distância entre suas margens pode variar entre 11 a 50 km. Além disso, búfalos nas margens, piranhas, jacarés, árvores que costumam ser arrancadas pela violência da onda e o próprio risco de se perder em meio ao rio são riscos que precisam ser controlados e principalmente, prevenidos.

Final de tarde mágico no Pará.

“Durante o processo de descoberta do fenômeno vários acidentes aconteciam. Era comum equipes de reportagem perderem equipamentos completos em algumas operações. Contudo, há quase dez anos não registramos um único acidente. Tudo isso fruto da experiência que acumulamos nessas duas décadas de operações e dos procedimentos de segurança que a equipe da Abraspo vem desenvolvendo ao longo do tempo. É por isso que não abro mão de minha experiente equipe, principalmente nas operações realizadas na área do Arquipélago do Marajó e do Rio Amazonas”, declara Noélio.

A equipe escalada para essa operação será composta por alguns dos mais experientes surfistas de pororoca, como Sandro Buguelo, Nayson Costa, Walmecy Espinola, Reginaldo Beringo, Gilvandro Júnior, Franco Piserchia, Marcelo Bibita, George Noronha e Noélio Sobrinho.