Balneabilidade

Poluição domina praias nas capitais

Levantamento da Folha de S. Paulo aponta que a cada 10 praias nas capitais do Brasil, apenas duas foram próprias para banho durante 2023.

Praia do Leblon, Rio de Janeiro (RJ), teve imprópria para banho em períodos de 2023. Pedro Duran
Praia do Leblon, Rio de Janeiro (RJ), teve imprópria para banho em períodos de 2023.

A praia do Porto da Barra, em Salvador (BA), é sempre cheia e tem um dos banhos de mar mais concorridos do país. Também falta espaço para guarda-sóis em praias como a do Farol da Barra, Amaralina, Piatã, Itapuã e Stella Maris.

Mas o oásis de balneabilidade dentre as praias da capital baiana, único limpo durante todas as semanas do ano, está no limite da cidade rumo ao norte: a Praia de Aleluia. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a tarefa de encontrar uma praia limpa em todas as avaliações feitas no ano não é uma tarefa fácil nas capitais do litoral brasileiro.

Em levantamento feito pela Folha, a cada 10 praias que ficam nas capitais, apenas duas foram próprias para banho durante todo o ano.

Ainda de acordo com o jornal, o cenário leva em conta os dados de balneabilidade das 11 capitais brasileiras que ficam no litoral. Em sua maioria, são grandes centros urbanos que enfrentam gargalos históricos na coleta e tratamento de esgoto, no escoamento das águas das chuvas e no manejo de seus rios.

Ao todo, são 337 pontos de monitoramento da balneabilidade em praias de capitais brasileiras. Deste total, apenas 47 (14%) foram consideradas boas, ou seja, ficaram limpas o ano todo.

Por outro lado, a soma das praias, incluindo ruínas ou péssimas no cálculo anual, chega a 48% do total. Outros 31% foram normais como regulares, por serem próprios em mais da metade das profundidades.

Levando em conta os 1.350 pontos monitorados em todo o litoral brasileiro, os indicadores de balneabilidade indicam um cenário de estabilidade na qualidade das praias em 2023 em relação aos anos anteriores. Esses dados são coletados pela Folha com os governos locais há oito anos.

Em 2023, 32% das praias monitoradas do litoral do país foram boas, enquanto 27,2% eram regulares. As praias ruínas ou péssimas somam 31,6% do total. Outros 3,4% não tiveram os dados divulgados.

Um trecho é considerado próprio se não tiver registrado mais de mil coliformes fecais para cada 100 ml de água na semana de análise e nas quatro anteriores.

Foram apurados dados das praias de 14 estados no período de 12 meses entre novembro de 2022 e outubro de 2023. As praias do Amapá, Piauí e Pará ficaram de fora porque esses estados não medem a qualidade da água.

Para a avaliação anual, foi adotado o método da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo )Cetesb), que classifica como praias a partir de dois testes semanais. Nos dois extremos são os bons, próprios em todas as profundidades, e as péssimas, impróprias em mais da metade das profundidades.

Nadar em áreas impróprias pode causar problemas de saúde, principalmente doenças gastrointestinais ou de pele, como micoses. Outros focos de contaminação, que não são considerados nesta análise, podem ser a presença de lixo na areia e o vazamento de óleo, como o que aconteceu no litoral nordestino em 2019.

Entre as capitais brasileiras, Aracaju é a com maior proporção de praias consideradas boas. Das 10 praias monitoradas na capital sergipana, 8 delas foram próprias no ano inteiro. Outras duas foram consideradas normais e não foram consideradas ruins ou péssimas.

Por outro lado, capitais mais populosas, como Rio de Janeiro, Fortaleza e Salvador, têm a maioria de suas praias conhecidas como ruins ou péssimas. No Rio, das 58 praias avaliadas, 4 tiveram classificação anual boa, 17 regulares e 35 ruins ou péssimas —duas não tiveram medição.

Entre as praias consideradas ruins estão os três pontos de medição no Leblon, praia da zona sul que fica em uma das áreas mais ricas e turísticas da cidade. Quem vê a água cristalina não imagina que aquele mar esteve impróprio para banho na maior parte do ano.

Em Fortaleza, a maioria das praias foi considerada péssima, ou seja, imprópria em mais da metade da precisão. Ao todo, são 31 praias monitoradas na capital cearense, das quais 17 são péssimas, 6 ruins e 8 regulares. Nenhuma das praias foi excepcional como boa.

O cenário é semelhante em Salvador, que teve 25 das 37 praias com monitoramento de segurança como ruins ou péssimas e 11 entre as regulares. Entre as ruins estão algumas das praias movimentadas da cidade como a do Farol da Barra, Buracão, Penha e São Tomé de Paripe. Já praias como Porto da Barra, Piatã e Ponta de Nossa Senhora tiveram classificação regular.

O baixo índice de balneabilidade é um gargalo histórico na capital baiana, afirma o engenheiro civil Luiz Roberto Santos Moraes à Folha, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia e um dos coordenadores do estudo “Os Caminhos das Águas em Salvador”, de 2010, que se debruçou sobre as bacias hidrográficas da cidade.

Luiz destaca que quase toda a totalidade dos rios que cortam Salvador estão poluídos – a exceção é o Rio Ipitanga, afluente do rio Joanes que contribui com uma parcela do abastecimento de água da capital baiana. São esses rios que recebem o descarte irregular de esgoto e levam a poluição para o mar ao desembocar nas praias.

“A questão é que o domínio das águas superficiais no Brasil é federal e estadual. Os municípios, por não terem o domínio, não têm o menor interesse de entrar na gestão das águas e lavar as mãos. E o estado nem sempre tem interesse em atuar para fazer a despoluição e recuperação dos rios”, afirma Moraes.

Além das capitais, outros grandes centros que ficam no litoral do país também têm um histórico de praias poluídas. É o caso de Santos (SP), cidade portuária marcada por ter praias recorrentemente como ruins ou péssimas.

Em geral, contudo, o cenário no litoral paulista melhorou neste ano em relação a 2022, com o total de praias boas subindo de 44 para 54, dos 175 pontos monitorados. As péssimas, por sua vez, recuaram de 18, no ano passado, para 12.

Cláudia Lamparelli, gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb, afirma que o investimento em saneamento, como ampliação da rede de coleta de esgoto, e o regime de chuvas, são cruciais para a balneabilidade das praias. “Em anos muito chuvosos, as chuvas às vezes acabam se sobrepondo às melhorias feitas nas cidades”, justifica.

Fonte Folha de S. Paulo

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