A manhã da última sexta-feira (25) começou diferente em Nazaré, Portugal. Ao se aproximar do Farol São Miguel Arcanjo, de onde melhor se vê as ondas quebrarem, ainda de noite, só era possível escutar o barulho estrondoso do mar. O ecoar das bombas arrebentando contra o paredão rochoso já dava o tom daquele dia.
Muitas caravanas, ônibus-casas e carros já estavam parados pelas ruas que dão acesso ao maior anfiteatro do surfe. Passaram a noite ali para garantir os melhores espaços. As pessoas estavam ansiosas, todos queriam testemunhar o espetáculo previsto para acontecer. “Estou passeando por Portugal e sonhava em ver as ondas grandes de Nazaré. Então, vim bem cedo para garantir um bom lugar”, conta a turista italiana.
O possível maior swell da temporada era o que instigava tanto o público, quanto os melhores surfistas de ondas grandes do mundo, que viajaram às pressas para aproveitar as condições.
Entre os brasileiros, voltaram a Portugal Lucas Chumbo, Lucas Fink, Eric Rebiere, Michaela Fregonese e Everaldo Pato Teixeira. Já estavam no país Ian Cosenza, Michelle Des Bouillons, Maya Gabeira, Bruno Santos, Alemão de Maresias, Vinicius dos Santos e Ulisses Pereira. Todos em busca das maiores ondas da vida.
Quando o dia amanheceu, uma série enorme arrebentou bem em frente ao farol, fechando completamente o horizonte. Algumas equipes já estavam na água. Mas, pela manhã, com a maré cheia, as ondas não estavam alinhadas. Poucas oportunidades apareciam.
Depois, com a maré secando, as ondas começaram a acertar e as paredes a abrir. “Estava grande, bem grande. Peguei duas boas ondas. Agora posso dizer que surfei um Nazaré grande de verdade, os outros foram só baby Nazaré. Estava graúdo”, conta Bruno Santos.
Lucas Fink abriu a sessão pegando uma boa direita com seu skimboard. Mais tarde, Lucas Chumbo assumiu o protagonismo da sessão com drops aéreos e seu estilo agressivo de encarar as gigantes. Michelle Des Bouillons também surfou uma esquerda bem grande. “Peguei uma onda gigante, talvez a maior que já peguei na vida. Foi mágico esse swell para fechar a temporada”, vibra Michelle.
A ondulação veio para coroar uma temporada atípica. Já quando parecia que o mar não subiria mais nessas proporções, Nazaré ascendeu novamente. “Nossa, eu estava preocupado, pois uma ondulação assim bem no final da temporada, quando está todo mundo cansado é complicado. Só pedi para que ninguém se machucasse. E graças a Deus saiu todo mundo ileso e amarradão por ter surfado boas ondas”, diz Ian Cosenza.
Apesar de Ian considerar uma lesão branda para os padrões nazarenos, Vinicius do Santos tomou uma pranchada da cabeça e machucou o joelho. “Peguei as maiores ondas da minha vida, mas também tomei o pior caldo da vida. Meu colete até saiu todo arrebentado”, comenta Vini.
Maya Gabeira também representou bem o surfe feminino ao lado de seu parceiro Sebastian Steudner. O alemão surfou pela primeira vez depois de ter se lesionado e ficado, praticamente, a temporada inteira fora d’água.
Entre os portugueses, João de Macedo e Nic Von Rupp se destacaram. “Basta uma onda boa para fazer a nossa alma. Nazaré é um lugar muito especial. É um lugar brutal da natureza. Estávamos todos concentrados em fazer uma boa linha para completar a onda, pois o inside estava muito violento. Mas a vibe dentro da água estava incrível, foi um dia bem especial”, conclui João de Macedo.