Alex Botelho

Entre a vida e a morte

"O relatório oficial do hospital disse que foram 10 minutos sem oxigênio". Alex Botelho relembra acidente que quase tirou a sua vida em Nazaré.

Alex Botelho segue em recuperação do acidente em Nazaré.

Nos cinco minutos finais da última bateria do Nazaré Tow Challenge, os portugueses Alex Botelho e Hugo Vau, dois dos big riders mais experientes da competição, estiveram envolvidos em um perrengue no qual todos os surfistas de ondas grandes estão vulneráveis.

Botelho tinha acabado de surfar uma onda e foi resgatado por Vau no jet-ski. Quando eles aceleraram para fora da zona de impacto, a embarcação colidiu de frente com uma onda, lançando os surfistas a quase 5 metros de altura. 

Botelho ficou inconsciente e flutuando de cabeça para baixo. Na sequência, foi resgatado pela equipe de segurança da água, ressuscitado ainda na praia e levado a um hospital próximo.

Após 15 dias no hospital, Alex voltou para casa e conversou com o jornalista Ben Mondy, da WSL, sobre o incidente, a recuperação e os planos para o futuro.

Podemos começar com sua lembrança do incidente?

Lembro de ter visto a onda quando estava no sled. Havia uma onda vindo do lado sul, que poderia nos jogar no penhasco, então a única maneira de escaparmos era indo para o norte.

O impacto foi na água, no sled ou no jet-ski?

Foi por bater muito forte no sled com a lateral do meu peito. Acho que foi o que perfurou meu pulmão. Eu também bati minha cabeça, mas não tão duro. Acho que foi mais o impacto pulmonar que me nocauteou.

Qual a sua lembrança depois disso?

A próxima coisa que me lembro é de ouvir vozes na praia. Então, quando abri meus olhos, eu já estava na ambulância. As primeiras pessoas que vi foram minha namorada e o Hugo na porta. E eu lembro de pensar “ok, eu estou vivo”.

Qual foi o diagnóstico inicial no hospital?

A primeira coisa que fizeram depois que eu estava estável foi examinar meu cérebro em busca de danos, pois fiquei sem oxigênio por muito tempo. O relatório oficial do hospital disse que foram 10 minutos sem oxigênio. Seis minutos na água e depois outros quatro minutos na praia, até eu começar a respirar novamente. No entanto, os exames foram bons e não mostraram danos.

É um período incrível para o cérebro ficar sem oxigênio…

Absolutamente. O médico disse que geralmente depois de três a quatro minutos você está na zona de risco de sofrer danos cerebrais. Existem muitos fatores que me ajudaram a evitar ferimentos graves, mas eu definitivamente tive um anjo da guarda e muita sorte.

Quais foram as outras lesões?

Eu perfurei um pulmão e meus dois pulmões estavam cheios da água. Eu também contraí algum tipo de bactéria da água. Além disso, todos os músculos ao redor da zona afetada, perto do pulmão, sofreram espasmos e contraíram-se, sendo danificados.

Houve mais complicações?

Sim, na primeira noite subitamente fiquei incapaz de respirar. Eles me conectaram a uma máquina de respirar, me anestesiaram e tiveram que drenar a água de dentro do pulmão. Mas isso se estabilizou e depois de algumas semanas eu pude ir para casa.

E qual anda o processo de recuperação?

Os músculos e o pulmão precisam se recuperar primeiro. Ainda não consigo respirar até 100% da capacidade dos meus pulmões. Eu preciso deixar isso curar e depois começar a me exercitar apenas para voltar ao ponto morto e começar a recuperar minha capacidade pulmonar a partir daí. Isso pode levar de um mês a três ou quatro meses. Eu preciso apenas monitorar como o pulmão está se recuperando e, quando chegar a um certo ponto, posso começar a fazer exercícios e tentar expandir a capacidade novamente.

Cena do resgate dramático na Praia do Norte.

Voltando ao dia do evento, como estava para você e Hugo antes do acidente?

Eu me senti muito bem o dia inteiro. Todos estavam em sintonia, respeitando e vibrando um com os outros. Tive algumas boas ondas, sem grandes bombas, mas fiquei feliz com o dia. Fiquei muito, muito feliz até o fim.

Você acha que o dia já estar tão tarde contribuiu para o incidente?

Talvez se eu estivesse no free surf provavelmente não teria descido naquela última onda, mas quando você está competindo, está sempre um pouco motivado a tentar fazer algo a mais. Além disso, você não pode prever como será a próxima onda da série depois daquela onda que você desceu. Conhecemos os riscos em Nazaré e tentamos calculá-los, mas às vezes é impossível.

E quais são seus objetivos agora?

Tive tempo para pensar e nada mudou no que quero fazer e realizar. Quero voltar a surfar ondas grandes em Nazaré e em todo o mundo. Está em minhas mãos, preciso me esforçar para voltar à água o mais rápido possível. Para fazer isso, apenas tenho que concentrar na minha recuperação agora.

Mais alguma coisa que você gostaria de contar ao mundo do surfe em geral?

Gostaria de agradecer a todas as pessoas que demonstraram apoio. Isso realmente me tocou e me deu muita força para superar algumas das partes mais difíceis dos últimos meses. Então, eu realmente quero deixar isso explícito.

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