Que seria um dia emocionante nós já sabíamos. Tantas histórias de superação e perseverança se encontrando no mesmo lugar não poderia dar em outra coisa. Mas, quando o presidente Teco Padaratz abriu o seu coração diante do público formado por parasurfistas, amigos, familiares e visitantes, não houve quem pudesse conter as lágrimas.
“Perdoem-nos pelos anos em que a Confederação Brasileira de Surf negligenciou o parasurfe. Hoje, com este evento, me sinto uma pessoa completa, na missão que assumimos de engrandecer o surfe brasileiro como um todo”, comentou Teco Padaratz, que assumiu a presidência da confederação este ano.
“Quando o homem cego chorou”, diz o título da canção do Deep Purple que lembrei quando vi Derek Rabelo, Monique Oliveira e Roberto Pino discursando emocionados quando subiram ao palanque para representar a todos os parasurfistas. Até o tradutor de libras, com todos os discursos em tempo real, também sentiu a energia da realização de um sonho nutrido durante anos.
Foi quando o hino nacional começou a tocar e a bandeira do Brasil começou a ser hasteada que todos tivemos a certeza: somos o país do surfe e novos ventos estão soprando nessa terra para levar nossos atletas aos seus lugares de direito.
No mar, as demonstrações de eficiência física dos atletas chocou o público mais desavisado. Não faltaram aqueles que se confessaram constrangidos em ver o alto nível de resistência, equilíbrio, persistência e determinação desses atletas capazes de coisas que muita gente não consegue, mesmo tendo todos os membros e sentidos em pleno funcionamento.
O parasurfe está apenas no começo. Quando mais e mais pessoas virem imagens de eventos como o CBSURF Maracaípe Surf Adaptado, onde super humanos provam que é possível vencer seus limites, mais e mais parasurfistas começarão a treinar e daqui a cinco anos vocês vão ver só uma coisa.
Tivemos várias vitórias como a de Figue Diel sobre Derek Rabelo, numa bateria que o catarinense campeão mundial venceu na última onda. Mas eu não posso deixar de destacar o nome Thales Fild. Ele que lutou contra um mar difícil e regras que não o favoreciam de forma nenhuma, não deixou de tentar nenhum segundo sequer e ao sair do mar não esboçou nenhuma vírgula de descontentamento. Só agradeceu pela oportunidade e prometeu treinar muito mais para o próximo round.
Otavio Pino foi destaque logo na primeira bateria do dia. Ele que é filho do campeão do ISA, Roberto Pino, deixou o pai cheio de orgulho ao vencer a primeira bateria do primeiro campeonato oficial de parasurfe no Brasil.
Mas se você queria mesmo ver radicalidade, a sua bateria preferida foi a de Felipe Kizu. O campeão mundial que surfa sentado se encontrou nas ondas de Maracaípe. Muito humilde nas entrevistas, disse que não tinha ido tão bem, mas as imagens mostram a verdade.
Em paralelo às competições, Sergio Murilo, da UNINASSAU, entregou o que sem dúvida é um dos documentos mais importantes da história do surfe: O manual de regras de competições do surfe adaptado escrito em braile. Um verdadeiro artefato histórico para as futuras gerações. Teco Padaratz recebeu este documento na presença de Carlos Burle, Ricardo Bocão, Geraldo Cavalcanti, Brigite Mayer, Danilo Lins (Secretário de Esportes de Ipojuca) e Davi Oliveira (Secretário de Educação e Esportes de Pernambuco). Testemunhas da semente que foi plantada.
O CBSURF Maracaipe Surf Adaptado é uma competição dividida em três dias e os atletas vencedores são aqueles que tem a melhor soma dos dois melhores dias. Amanhã, às 9 da manhã, começam as baterias do segundo dia.
O CBSURF Maracaípe Surf Adaptado é o evento inédito no Brasil válido como seletiva para o mundial de Surf Adaptado da ISA. O CBSURF Maracaípe Surf Adaptado acontece entre os dias 14 e 18 de Setembro e é uma apresentação da Lei de Incentivo ao Esporte do Governo do Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Educação e Esporte, patrocínio da Copergás, dos apoios da Prefeitura de Ipojuca, UNINASSAU, Privê Pontal de Maracaipe, Carvalheira, Nutrella, Grupo Bimbo, Surfland Brasil, Açaí do Joca Jr., Fuwax, ONG Rodas da Liberdade, Silverbay e realização da Federação Pernambucana de Surf em parceria com a Confederação Brasileira de Surf.