O jornalista John Branch escreveu um artigo surpreendente no último dia 10 de setembro para o New York Times, uma das mais influentes publicações do planeta.
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Enviado para San Clemente, Califórnia (EUA), onde logo será consagrado o novo campeão mundial de surfe, Branch observa atentamente os movimentos de Carissa Moore e de Gabriel Medina, justamente eles que, de grandes favoritos podem ver seus sonhos desmoronar diante de uma onda mal executada ou mal finalizada numa final inventada pela WSL, como se o circuito mundial acontecesse numa “atmosfera de playoff”, ou uma imerecida repescagem de luxo para todos que ficaram atrás dos dois ao longo de toda a temporada.
“O formato de um dia não é universalmente amado. Até os melhores surfistas questionam o que está acontecendo”, escreve John Branch.
“‘Não gosto porque não acho justo’, disse Medina, bicampeão mundial brasileiro, que acumulou uma vantagem tão grande de pontos nesta temporada que já teria sido nomeado campeão mundial por antecipação sob o formato anterior. Em vez disso, ele deve vencer mais baterias para reivindicar o título”, prossegue.
“Não sei sobre negócios, não sei como funcionam”, disse Medina ao jornalista do New York Times.
“Eles tentaram fazer algo diferente”. Para o jornalista, a WSL quer intriga. O fato é que apenas em raras ocasiões, incluindo a vitória de Italo Ferreira sobre Medina no Pipe Masters de 2019, o título da temporada chega à bateria final do evento final. Mas, isso faz parte do jogo e é um detalhe a mais na decisão emocionante de um título, como também já aconteceu entre Andy Irons e Kelly Slater no Havaí.
A australiana Stephanie Gilmore, também enxerga com reservas esta nova configuração. Mas ela se lembra de ter conquistado a maioria de seus títulos enquanto estava na praia, quando as aspirantes a desafiantes perderam suas baterias.
Segundo o autor, não se trata de uma ideia nova: organizadores de outros esportes individuais, como o PGA Tour e a NASCAR, criaram eventos no estilo playoff para inventar um golpe de final de temporada, explica.
Mas surfar é diferente, sugere. “É um estilo de vida ou um esporte global? Pode (ou deve) ser ambos?”, indaga.
“Mesmo com a cultura do surfe – música, moda, vernáculo – permeando tantas facetas da sociedade, em todo o mundo, o esporte funciona para se autodenominar como anti-establishment”, filosofa.
O sucesso do surfe profissional diminuiu e diminuiu durante décadas, relata.
“No início, a International Professional Surfers, em 1976, deu estrutura às competições. A Association of Surfing Professionals, fundada em 1983, solidificou um tour mundial por trás de marcas centradas no surfe como Rip Curl, Billabong e Quiksilver. Patrocinadores e algumas marcas de surf desapareceram, algumas faliram, deixando o surfe profissional em constante busca por estabilidade”, descreve.
“As coisas mudaram rapidamente nos últimos seis anos. A Association of Surfing Professionals se reconstruiu e se rebatizou como WSL, em 2015. A tecnologia de piscina de ondas adicionou intriga e visões da onda perfeita indescritível. Em 2018, a WSL anunciou prêmio em dinheiro igual para homens e mulheres. Os dois campeões do WSL, Moore e Ferreira, ganharam medalhas de ouro na primeira competição olímpica de surfe neste verão”, analisa.
Nos bastidores, a WSL deixou de ser principalmente uma organizadora de eventos. Em 2019, ela contratou Erik Logan, presidente da Oprah Winfrey Network e vice-presidente executivo do Harpo Studios, para ser o presidente de conteúdo, mídia e estúdios.
Ele ajudou a criar o reality show da ABC The Ultimate Surfer e a série de documentários da HBO “24/7: Kelly Slater”.
Em 2020, Logan foi promovido a presidente-executivo, pouco antes de a pandemia encerrar a temporada. Isso deu a Logan e à liga a chance de re-imaginar o tour. Ele inverteu as provas havaianas do final da temporada para o início. E planejou este campeonato de final de temporada.
O detalhe, cá entre nós, é que ninguém pensou em criar um playoff em meio aos campeonatos seguidos de Mark Richards, Kelly Slater ou Andy Irons. Foi só os brasileiros começarem a ganhar, depois de uma longa jornada no tour, para ser tirado da gaveta o tal do playoff.
A ideia é mudar as finais a cada ano, da mesma forma que o Super Bowl ou a maioria dos principais campeonatos de golfe alternam os locais. “Essa amplificação resultará no crescimento do esporte, no crescimento da WSL, no crescimento da indústria”, disse Logan. “É por isso que é uma coisa boa.”
Só falta explicar tudo isso para Medina, finaliza o jornalista do New York Times. Afinal, pode ser uma decisão dentro da legalidade, e não foi por falta de aviso, mas não parece ser tão legítima.
Próxima chamada – A próxima chamada para o Rip Curl WSL Finals acontece nesta segunda-feira (13), às 11h (de Brasília), com grande potencial de o evento ir pra água, uma vez que o sinal amarelo já foi emitido.
Assista às disputas ao vivo aqui no Waves.
Fonte New York Times