Bicampeão mundial em 2018, Gabriel Medina vive o momento mais maduro de sua carreira como competidor. Prestes a completar oito anos na elite do surfe mundial, ele parece estar faminto para seguir vencendo e aumentando seus números, que já são impressionantes.
No entanto, observando a trajetória do paulista dentro do Championship Tour, um dado chama a atenção: o aproveitamento de Gabriel é 15% menor nas baterias homem a homem contra brasileiros, em relação às disputas contra surfistas de todos os outros países. Enquanto contra os “gringos” Medina venceu 70% dos confrontos, contra os brasileiros ganhou somente 55%. Um fator curioso e que pode servir de alerta para um 2019 tão importante.
Em suas sete temporadas e meia no CT (em 2011 entrou no meio do ano) Medina já disputou 209 baterias homem a homem. Destas, 36 foram contra brasileiros e Gabriel ganhou 20. O número é baixo, tratando-se de um bicampeão do mundo. Principalmente, quando os números são comparados aos obtidos pelo surfista contra estrangeiros: 121 vitórias e 52 derrotas de Medina.
Os que mais venceram Medina
Os principais algozes brasileiros de Gabriel são Italo Ferreira e Adriano de Souza. Cada um com cinco vitórias sobre o bicampeão. A diferença está no número de embates. Mineirinho precisou de oito confrontos, já Italo somente de seis – incluindo aquela fatídica bateria no MEO Rip Curl Pro Portugal 2018, em que Medina precisava ganhar para garantir o bicampeonato antecipado. Por sinal, Italo é o surfista, contando todos do CT que enfrentaram Medina mais de uma vez, com o melhor aproveitamento diante do local de Maresias, 83,3%.
Por outro lado, alguns surfistas brasileiros penam para superar o talento de Gabriel Medina. Exemplos de Alejo Muniz, Wiggolly Dantas e até Filipe Toledo.
Veja abaixo o desempenho de Gabriel Medina ano a ano:
Duelos Estrangeiros (V-D) Brasileiros (V-D)
2011 14-4 0-0
2012 12-8 3-2
2013 8-7 2-3
2014 22-7 1-1
2015 17-7 3-3
2016 13-9 5-1
2017 20-6 2-3
2018 15-4 4-3
Total 121-52 20-16
Aproveitamento 70% 55,5%
Motivos
Os motivos para tal desempenho podem variar. Há quem atribua ao fator psicológico, a uma possível desconcentração, mas a explicação mais plausível parece estar relacionada à qualidade dos surfistas brasileiros na elite. Nomes como Filipe Toledo, Adriano de Souza, Italo Ferreira, Jadson Andre, Yago Dora – todos no auge – causaram maior dificuldade. Isso somado ao fato de que Medina enfrentou alguns wildcards estrangeiros e surfistas em fase descendente da carreira – como por exemplo Bruce Irons, Kai Otton e Taj Burrow – pode ter gerado a desigualdade de 15%.
Em entrevistas passadas, Gabriel já afirmou que sentia muita dificuldade em encarar Mineirinho, pela sua parte estratégica avantajada. Fato confirmado pelo seu padrasto e técnico, Charles. Antes disso, o surfista já havia comentado que Jadson André era o competidor mais difícil de se enfrentar.
O maior “freguês”
Dentre tantos estrangeiros superados por Medina, um deles pode ser considerado o grande “freguês”: Bede Durbidge. O australiano já fez oito baterias homem a homem contra o brasileiro e perdeu todas. Entre elas, uma foi a final do Quiksilver Pro France 2015 e outra, a semifinal do Billabong Pro Tahiti 2014. Para se ter noção da disparidade nos duelos entre os dois, Medina possui média de 15.87 e Bede de 11.81 no somatório.
Para manter o foco
De qualquer forma, o rendimento inferior contra adversários brasileiros pode servir de alerta. Principalmente em um ano em que o CT oferecerá dez vagas para os Jogos Olímpicos de Tóquio, que só permite dois surfistas por país. Tendo em vista que no Tour de 2018, três brasileiros figuraram no Top-4, é algo a se atentar, pois qualquer deslize pode custar o bilhete para a estreia do surfe em um dos maiores eventos esportivos do planeta.