Ex-treinador de nomes como Mick Fanning e Julian Wilson, Andy King é o novo técnico do bicampeão mundial Gabriel Medina. Para se tornar um coach de sucesso, ele teve uma trajetória marcada pela superação e a busca de uma nova mentalidade de vida.
King passou por uma infância conturbada. Com um pai alcoólatra, encontrou no surfe um meio de manter-se longe de casa. Em 1996, entrou para o Qualifying Series da WSL e chegou a ficar entre os Top 30, mas nunca conseguiu o ingresso para a elite mundial.
Em 2004, a vida do surfista de Cronulla Beach quase teve um final trágico. Após retornar de uma confraternização com a sua esposa, ele se envolveu em uma briga e levou um soco que fez com que perdesse totalmente a audição.
De acordo com o jornal Gold Coast Bulletin, o casal voltava para casa às 2 horas da manhã e escutou um comentário desrespeitoso de um homem alcoolizado na rua. King decidiu tirar satisfação, e aquela decisão praticamente encerrou a sua carreira.
“Às vezes, o homem maior é o que vai embora, certo?”, refletiu o tricampeão mundial Mick Fanning na ocasião. Ao lado de Kelly Slater e Mark Occhilupo, Fanning organizou uma vaquinha para pagar um implante de cóclea a King.
Depois de um longo período, com cirurgia de reconstrução e aparelho, ele recuperou parte da audição e conseguiu voltar a surfar. A sua carreira como surfista profissional estava comprometida, mas para King, um apaixonado pelo esporte, poder surfar já foi uma grande vitória.
Meditação forçada
Quando jovem, King era considerado um surfista de temperamento explosivo pelos amigos e atletas da sua geração na Austrália. “Ele sempre teve um pavio curto. Costumávamos provocá-lo por causa disso”, lembra Fanning.
A perda da audição forçou King a um processo de autoconhecimento e equilíbrio. Ele descreveu o seu longo período de silêncio como uma “meditação forçada”. “Você simplesmente repassa e repassa tantas histórias”, diz. “Passei muito tempo em silêncio. Precisei descobrir quem era essa nova pessoa. Era aí que havia esperança”, conta.
Apesar dos danos irreversíveis na audição, a experiência fez King evoluir em aspectos da parte mental e no temperamento. Isto influenciou o seu estilo como técnico, marcado pela frieza e sensibilidade aguçada ao orientar os atletas sobre detalhes das baterias.
“Um estilo de paixão, comprometimento e atenção aos detalhes de uma bateria; ele tende a encorajar um grande surfista a confiar em seu instinto, mas se ele acha que um surfista não está dando isso tudo, ele não vai se conter”, descreve o jornalista especializado Nick Carroll.
King também passou sete anos na Red Bull desenvolvendo programas de treinamento para jovens surfistas, antes de assumir o cargo de técnico nacional no Hurley High Performance Center, na Gold Coast. Trabalhou ao lado de Mick Fanning, Julian Wilson, Tiago Pires e atualmente também é responsável pelos treinos de Seth Moniz na Austrália.
Velho conhecido
Não é de hoje que os caminhos de Gabriel Medina e Andy King se cruzam, mas nem sempre o saldo foi positivo para o surfista brasileiro. Em 2018, ele era o técnico que orientou Julian Wilson na vitória sobre Medina na semifinal da etapa da França do Circuito Mundial.
De acordo com o Top australiano, o papel do técnico foi fundamental para o sucesso na etapa, em que sagrou-se campeão.
“Ele é meu ala. Temos um relacionamento muito bom e estou entusiasmado em tê-lo ao meu lado. Ele traz muita confiança, conhecimento e apoio para o ambiente competitivo, que é o que funciona para mim”, comemorou Wilson à época.
Com a ajuda de seu novo técnico, Medina já avançou ao round 3 da segunda etapa do circuito mundial, a Newcastle Cup, em Merewether Beach, Austrália. O seu próximo adversário é o australiano Connor O’Leary.
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