O jantar de confraternização dos atletas após o Margaret River Pro teve uma cena que chamou a atenção no Oeste da Austrália. Campeã da etapa, Tatiana Weston-Webb teve a sua cadeira levantada por surfistas brasileiros no meio do salão, enquanto atletas de outros países olhavam surpresos e aplaudiam a homenagem.
Muito além daquela cena, surpresa e admiração são alguns dos sentimentos que a Braziliam Storm tem provocado na comunidade do surfe nesta temporada. E não é por menos. Com quatro vitórias nas três etapas do CT na Austrália (masculino e feminino), o domínio verde e amarelo nunca foi tão grande quanto no atual momento.
Gabriel Medina e Italo Ferreira abusaram das manobras progressivas para vencer com maestria as etapas de Merewether Beach e North Narrabeen. Já em Margaret River, Filipe Toledo provou que os brasileiros também estão no topo quando se trata de ondas grandes e surfe de linha. Ele deixou Jordy Smith dentro da nuvem na final e levou o caneco.
Já que a tempestade é brasileira, os estrangeiros terão que buscar um pedaço de céu aberto até o final da temporada no Top 5 do ranking da WSL. John John Florence e Jordy Smith completam a lista e se colocam como fortes adversários pelas vagas para a disputa do título mundial em Trestles, na Califórnia (EUA). Outros brasileiros como Caio Ibelli e Yago Dora também somam bons resultados.
Já entre as mulheres, Tatiana Weston-Webb ocupa a vice-liderança do ranking mundial, com um belo desempenho na perna australiana até o momento. Após o segundo lugar em North Narrabeen, a brasileira foi a grande campeã em Margaret River. Além de seu segundo título de uma etapa, Tati fez história ao protagonizar uma dobradinha verde e amarela com Toledo.
A cena de Tatiana “nos braços” dos surfistas brasileiros na confraternização em Margaret River talvez ajude a explicar parte do sucesso tupiniquim nesta temporada. Longe de seus familiares por conta da pandemia, os atletas brasileiros decidiram viajar juntos e unir forças. Pelo visto, a tempestade se alastrou.
Pão com manteiga e resenha
Peterson Crisanto foi o escolhido para subir na telhado. Filipe Toledo, Deivid Silva e Miguel Pupo davam instruções para o paranaense entrar pela janela, já que a chave ficou dentro de casa. “Se vira para arrumar essa ‘disgrama’. Tem que enfiar o dedo aí embaixo. Agora que tu subiu, vai ter que tirar”, orienta Toledo em cena gravada pelo canal People on Tour.
A zoeira não teve limites na casa que virou um ponto de encontro de todos brasileiros do Tour em Narrabeen. Muitos deles têm se hospedado juntos desde Merewether, e sempre dão um jeito de levar um pouco do Brasil para a Austrália. Do cafezinho com pão e manteiga no café da manhã ao churrasco com cerveja na comemoração de aniversários.
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Gabriel Medina é um dos mais habilidosos na altinha, e leva a sério a disputa no carteado e no videogame. Italo Ferreira tem um vasto repertório de passinhos de dança nos ritmos nordestinos, e Adriano de Souza aprova o cafezinho bem passado com pão. “Isso aqui é comida de rico”, brinca.
Deivid Silva é o mais aficionado por Big Brother Brasil e um dos alvos preferido da dupla Filipe Toledo e Miguel Pupo. Eles foram dar um tapa no visual durante a etapa de Narrabeen. “Fica a pergunta, arruma a lataria também?”, questiona Pupo ao barbeiro que atendia Silva. “Fez um milagre, eu nem achei que isso era possível”, avalia.
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No churrasco, Jadson André – o “Forrest Gump” do grupo – ganhou um apelido de Gabriel Medina, inspirado no visual que o potiguar usava na ocasião. “É o Drake”, debocha o bicampeão mundial, em referência ao rapper canadense. “Não, é o Drácula”, corrige Toledo, levando todos à gargalhada.
Além das brincadeiras, os brasileiros treinam juntos, sempre trocam informações sobre o mar, sobre os adversários e impressões sobre as baterias disputadas. O “bonde” soma as forças nos bastidores e nas praias. Vibram com cada boa onda surfada pelos amigos e comemoram como se fossem as próprias vitórias. Ninguém fica fora de casa quando perde a chave.
Reconhecimento na mídia internacional
A imagem de Filipe Toledo abraçado com Tatiana Weston-Webb antes de sair da água após a final do Margaret River Pro simboliza bem a união dos brasileiros no circuito. A camaradagem não só da dupla, mas de todos os nosso representantes vem repercutindo também na mídia especializada estrangeira, que aponta o fator como um diferencial do time verde e amarelo.
“No final, o vitorioso Filipe foi recebido por um grupo de brasileiros ao pé da escada, incluindo a também vencedora Tatiana. É muito inspirador ver a camaradagem desse grupo na praia e na zona dos atletas. Juntos, eles são uma verdadeira força a ser reconhecida, a maneira como eles se apoiam”, diz texto de uma matéria publicada no site Stab.
A reportagem ainda faz uma crítica às outras nações de surfe, que não contam com o mesmo espírito coletivo dos brasileiros no Circuito Mundial. “Você deve se perguntar por que outros países com números significativos no Tour não fazem o mesmo. Em um nível de surfe onde cada pequeno ponto percentual é importante, isso é definitivamente alguma energia na direção certa, especialmente em um esporte individual”.
A Brazilian Storm chega à quinta etapa do Circuito Mundial da WSL mais sólida do que nunca. A competição vai acontecer em Rottnest Island, entre os dias 16 e 26 de maio no pico de Strickland Bay, que oferece ondas de qualidade no oeste da Austrália. De acordo com os gráficos, a tempestade brasileira tem tudo para devastar a região, e não somos nós que estamos dizendo.
“À medida que entrarmos no evento de Rottnest Island, será interessante ver se alguém pode parar o caminho de destruição da Brazilian Storm. Sem espectadores permitidos no local do evento, sua mentalidade de torcida pode entrar em jogo mais do que nunca”, publica a Stab.
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