De olho no tri

A visão de Medina

Direto do Havaí, Gabriel Medina fala sobre as mudanças do Circuito Mundial e o que motiva a sua paixão pelo surfe em entrevista exclusiva ao Waves.

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Gabriel Medina sempre em sintonia com as ondas de Pipeline.

Há exatamente um ano, o Circuito Mundial de 2019 tinha no Havaí a sua etapa decisiva nos temidos e desejados tubos da rainha do North Shore de Oahu: Pipeline.

O que ninguém jamais imaginaria então, é que a próxima competição profissional válida pelo CT da World Surf League (WSL) aconteceria exatamente no mesmo lugar, somente um ano depois. E desta vez para disputar a abertura do Circuito Mundial de 2021.

Surpresas e mais surpresas fizeram parte da realidade de qualquer pessoa que habitou este planeta em 2020, o ano que ficará marcado para sempre na história pela pandemia que ainda estamos vivenciando.

Em Pipeline, agora, tudo pronto e armado para o início da janela do Billabong Pipe Masters nesta terça-feira (07/12), porém de uma maneira bem diferente do que estamos acostumados e com diversos novos protocolos de segurança.

Diretamente do Havaí, o nosso bicampeão mundial Gabriel Medina trocou uma ideia exclusiva com o Waves, pra falar um pouco sobre o que tem rolado por lá, contar a sua opinião sobre o novo formato do Circuito Mundial e o que motiva a sua paixão pelo surfe. Confira a seguir.

Todos sabemos que Pipeline é uma das ondas do Circuito Mundial que você surfa melhor e tem mais afinidade. Como é estar de volta ao Havaí e qual é a diferença de ter Pipeline abrindo o circuito desta vez e não fechando?

É legal estar de volta em Pipe. É uma onda que gosto muito. É diferente porque antes era uma etapa mais tensa. Querendo ou não o nosso dia a dia por aqui era pensando no título mundial, pressão, ansiedade. Agora tem sido mais tranquilo. Tenho treinado bastante e focado nesta etapa, com certeza é a minha chance de começar bem o ano, já que é uma onda boa pra mim.

Quero pensar num bom resultado, bateria por bateria, me divertir e aproveitar ao máximo, porque nesses últimos swells que tem dado por aqui é muito difícil pegar onda. Tem muita gente na água, muitos locais, muita gente treinando e não deu muitos outros swells aqui no Havaí anteriormente, então só de estar na bateria ali em Pipe com mais um cara na água, já vai ser incrível.

 

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Este ano teremos uma perna havaiana de abertura com o novo calendário do Circuito Mundial. Na sequência de Pipe você já vai competir em Sunset, que é uma onda completamente diferente. O que você espera dessa onda? Quais foram as suas melhores experiências nela?

Sunset é uma onda mais difícil. Eu não considero uma onda boa. É um outro surfe. Acho que pra quem vai assistir, não sei se vai ser uma etapa tão legal. Mas tem que enfrentar. Eu já tive bons resultados lá, já fiz semi, quartas de final e uma final que fiquei em segundo, quando o Adam Melling virou na última, em um Prime (antigas etapas de pontuação máxima do WQS).

É uma etapa que qualquer um pode vencer. Acho que não tem um favorito. Tem alguns caras que surfam bem lá, óbvio, mas qualquer porrada na junção, ou primeira manobra ali que você der forte é um high score, então acho que não tem muito segredo. Mas é isso, vou treinar bastante pra essa etapa, porque é uma etapa difícil não só pra mim, mas pra todos os surfistas. No CT é uma etapa nova, então vamos ver como vai ser.

Gabriel Medina durante a Vans World Cup of Surfing 2015, em Sunset Beach, Havaí.© WSL / Masurel
Gabriel Medina durante a Vans World Cup of Surfing 2015, em Sunset Beach, Havaí.
Gabriel Medina, de amarelo, vice-campeão da Vans World Cup 2012 em Sunset Beach.© WSL / Cestari
Gabriel Medina, de amarelo, vice-campeão da Vans World Cup 2012 em Sunset Beach.

Além da novidade de Sunset, com o novo calendário da temporada, algumas ondas já conhecidas também voltaram, como é o caso de Santa Cruz. Teria sido também com G-Land, que acabou caindo do calendário, assim como Portugal. Das que ficaram tem alguma que seja preferida tua? Qual a tua opinião sobre este novo calendário?

Neste novo calendário, acho que só Sunset de novidade no CT mesmo, o resto já surfamos todas. Tiraram a etapa que seria irada de G-Land. Em Santa Cruz eu fiquei em quinto lugar quanto teve, que o Taj (Burrow) ganhou.

É… São mais duas direitas, né!? (risos). A gente já tá acostumado com direita, agora é só se acostumar com o frio (risos). Acho que não tem muito segredo em Santa Cruz, é uma direita, point break e muito frio.

Gabriel Medina durante O’Neill Coldwater Classic 2012 em Steamer Lane, Santa Cruz (EUA).© WSL / Kirstin
Gabriel Medina durante O’Neill Coldwater Classic 2012 em Steamer Lane, Santa Cruz (EUA).

E sobre o novo formato do Tour, com as finais decidindo o campeão mundial da temporada em um único dia em Trestles, o que você achou? E o que muda na estratégia de competição agora para buscar o título dessa maneira?

Eu acho este novo formato injusto pra quem tá liderando o ranking. Ainda mais se esse alguém for como um Lewis Hamilton na Fórmula 1, que vence o circuito muito antes. Imagine, por exemplo, o Hamilton ter que esperar os outros quatro adversários dele lá no final, sendo que ele ganhou deles nas três etapas anteriores. Eu acho injusto, porque o cara mereceu, ele foi superior a todos até aquele momento.

Mas eu não sei qual que é a deles. Eu estou aqui pra fazer o meu trabalho. Vou focar em chegar entre os cinco primeiros até o final da temporada. Não tem muito o que falar. Eles fazem o que querem. Eu só estou aqui trabalhando e vou fazer o meu melhor a cada bateria, cada etapa e cada evento. Sempre vou procurar ganhar cada evento.

Gabriel Medina comemora a vitória do Lowers Pro 2012, em Trestles, Califórnia (EUA), na época válida como etapa Prime do WQS.Marcio Canavarro
Gabriel Medina comemora a vitória do Lowers Pro 2012, em Trestles, Califórnia (EUA), na época válida como etapa Prime do WQS.

Independente de competições, existe alguma coisa que você ainda não fez no surfe que você gostaria de fazer, ou de conquistar?

Eu quero conquistar o meu terceiro título mundial (risos). Depois disso eu vou estar bem satisfeito. Ainda não sei quais serão as minhas vontades, mas óbvio, acho que é difícil parar ou pensar em algo do tipo. Eu sempre vou querer continuar, porque eu sou competidor. Mas esse terceiro título é o meu principal objetivo de vida. Acho que até hoje eu dediquei todo o meu tempo na vida pra isso, então significará bastante pra mim.

Fora das competições, Gabriel Medina se diverte com a sua irmã Sophia durante o último final de semana em Off The Wall.

 

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E fora do surfe, qual é o teu maior sonho na vida?

Ter o meu filho e a minha família. Depois do meu objetivo no trabalho, esse será o meu maior sonho. Ter um filho, ter uma família e viver feliz.

O que você diria pra toda essa molecada das gerações mais jovens que se espelham e se inspiram em você?

Acho que eles têm que surfar e não falar muito. Deixar acontecer e se divertir na água. Fazer isso porque você gosta. Tem gostar mesmo, sabe?! Acho que quando você faz alguma coisa que você é apaixonado e dedicado àquilo, as coisas acontecem na sua vida. Não tem uma outra fórmula pra dar certo. E foi assim que aconteceu na minha vida, sempre amei surfar, é a minha paixão, onde eu me sinto bem e o que faz sentido de eu estar aqui na Terra.

Então eu diria pra fazerem com paixão, se dedicarem e fazerem o que for preciso para terem um desempenho melhor na água, que o resto das coisas irá acontecer naturalmente, sem pressão, nem nada. Tem que ser feliz, e como eu falei, tem que ser disciplinado com o esporte.

Gabriel Medina em 2008, ainda grommet, se divertindo e fazendo o que todo moleque que pega onda sonha em fazer.Aleko Stergiou
Gabriel Medina em 2008, ainda grommet, se divertindo e fazendo o que todo moleque que pega onda sonha em fazer.