Durante o Bali Protected em Keramas, o polinésio Michel Bourez passou a representar a bandeira francesa na World Surf League.
O atleta teve que se adequar às regras olímpicas para lutar por uma vaga nos Jogos de Tóquio, em 2020, já que a Polinésia Francesa não é reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). A mudança já vinha sendo discutida entre as federações de surfe da Polinésia e da França, que historicamente não tinham boa relação.
Além de Bourez, brigam pela classificação Jeremy Flores e Joan Duru. Apenas dois atletas por país podem se classificar em cada categoria. O primeiro critério é que eles terminem o Championship Tour 2019 entre os 10 primeiros do ranking. Caso não tenham êxito, os surfistas podem buscar a classificação pelo ISA World Games. Saiba mais os critérios clicando aqui.
No momento, nenhum francês aparece entre os Top 10 da categoria masculina, mas Jeremy Flores segue vivo em Keramas e está nas quartas de final. Já Michel perdeu para o 11 vezes campeão mundial Kelly Slater em uma bateria com resultado apertado e Duru – algoz do bicampeão mundial John John Florence – caiu diante de Wade Carmichael.
Em 1984, quando a Polinésia Francesa conseguiu autonomia interna com a Assembleia Territorial, a Federação Taitiana de Surf se distanciou da Federação Francesa, diferente da Liga da Ilha Reunião, que permaneceu mais próxima. Em 2017, Patrick Flores, pai do Top Jeremy Flores e natural de Reunião, foi o treinador da delegação francesa que conquistou a categoria por equipes do ISA World Games em Biarritz.
“Após o status de autonomia em 1984, todas as federações esportivas da Polinésia conquistaram sua autonomia. Algumas permaneceram em bons termos, outras menos. Hoje, não temos escolha a não ser garantir que nossos atletas polinésios, mesmo sob a bandeira da França, possam alcançar essa participação nos Jogos Olímpicos. O objetivo é que nossos atletas estejam no topo. A Olimpíada é o que há de melhor em esportes. Temos o exemplo de Anne-Caroline Graffe, ela carrega a bandeira francesa, mas todo mundo sabe que ela é polinésia”, diz Lionel Teihotu, presidente da federação de surfe taitiana.
Teihotu falou também sobre a expectativa para que a relação melhore futuramente e a Polinésia não seja prejudicada. “Hoje, há outro contexto, há esse desejo de levar em conta todos os países ultramarinos para constituir a melhor equipe possível da França. Os Jogos de 2020 serão em Tóquio, os de 2024 em Paris, então há realmente uma reflexão por parte da Federação Francesa de Surf para pensar em Paris. Nossos juniores de hoje poderiam tentar integrar a equipe da França para as pré-seletivas”, continua o dirigente.
Depois de anos “perdidos” pelo dirigente Tauhiti Nena na tentativa de reconhecer a Polinésia Francesa diretamente pelo COI, o novo presidente do Comitê Olímpico da Polinésia Francesa (COPF), Louis Provost, quer chegar mais perto das autoridades metropolitanas na esperança de obter a Solidariedade Olímpica, o que contribuiria substancialmente para o financiamento do esporte na Polinésia Francesa, atualmente financiado pelo governo.
“O COPF está atualmente em discussão com o Comitê Nacional Olímpico e Esportivo da França (CNOSF), e estamos aguardando uma resposta em relação à solidariedade olímpica. Esta solidariedade vem do COI através do CNOSF. Poderíamos nos beneficiar desse ganho financeiro, mas precisamos de uma convenção com o CNOSF. Destina-se a todas as federações delegadas de serviço público. É nisso que estamos trabalhando. Estamos preparando nossos atletas para o campeonato mundial, mas se fosse para as seleções francesas para as Olimpíadas, seria interessante. Com os fundos do COI, poderíamos nos preparar muito melhor e, assim, aumentar nossas chances de participar dos Jogos Olímpicos”, explica Provost.
O presidente falou também sobre a política adotada pelo seu antecessor. “Tauhiti Nena esperava obter afiliação direta ao COI através dos Comitês Olímpicos Nacionais da Oceania (ONOC). Mas os estatutos do COI são claros, é o artigo 1. Ele deve ser um país independente afiliado às Nações Unidas (ONU), e não estamos neste caso hoje. Então, nós perdemos 10 anos em uma pista que não teve sucesso. Parece-me muito mais lógico passar por uma organização reconhecida pelo COI, já que somos franceses, até prova em contrário, para obter o lucro financeiro da solidariedade olímpica. Esta é uma escolha política. Se um dia os eleitores decidirem pela independência, então revisaremos nossa posição no tabuleiro internacional de esportes. Hoje, este não é o caso”.
“Em geral, devemos saber que as federações francesa e taitiana já possuem, para muitas convenções, a especificidade de nossos estatutos. Mas eles são, portanto, distintos e autônomos. Portanto, será necessário passar pelas federações francesas, quaisquer que sejam as disciplinas, não é específico da federação de surfe taitiana. Já é o caso do taekwondo, onde temos uma polinésia que está na equipe da França”, conclui o presidente.