Silvana Lima tem sido uma das sobreviventes do surfe profissional. Ela cresceu na cidade de Paracuru, no Ceará, em uma família com poucos recursos financeiros. Em 2006, fez seu caminho para o Championship Tour.
Ela permaneceu na elite por seis anos, na maioria das vezes custeando as próprias viagens, até 2012, quando sofreu uma lesão no joelho e perdeu sua vaga na elite. O que Lima fez a seguir, no entanto, a levou a outro patamar. Não apenas trabalhou sua volta ao Tour uma vez, em 2015, mas novamente em 2017, depois de ficar fora da lista de classificadas pelo CT.
Mais recentemente, no entanto, as coisas começaram a dar certo para a brasileira, conhecida pelo power surf e as manobras progressivas acima do lip. Ela pegou alguns patrocinadores como Oi, Neutrox e Vult e em setembro ganhou sua primeira etapa na elite desde 2010.
Até agora, sua temporada parece promissora. Depois de acertar um patrocínio principal com a empresa de moeda virtual Kore, ela abriu 2018 com um quinto lugar no QS 6.000 da Flórida, e vem treinando pesado antes da etapa inicial do Tour, o Roxy Pro Gold Coast, entre os dias 11 e 22 de março, na Austrália.
Você terminou 2017 com uma vitória no Tour e resultados sólidos em dezembro. O que proporcionou essa virada?
Depois de Fiji, eu senti que estava surfando bem. Realmente amo aquela onda. Depois disso, reuni todos meus amigos, meu treinador, e disse: “pessoal, eu quero ganhar no México (QS 6.000 em Los Cabos)”. Mandei a todos uma mensagem de voz dizendo que precisaria ganhar aquele evento. As ondas são parecidas com o local onde cresci, e continuava dizendo para mim mesmo que ganharia a qualquer custo. No fim, as coisas deram certo.
Por causa daquela vitória, você ficou bem posicionada para manter sua vaga no CT pelo ranking do Qualifying Series. Uma vez que a pressão para se requalificar diminuiu, você sentiu que entrou em melhor sintonia com seu surfe?
É um sentimento terrível para o surfista. Você sente pressão que talvez seus patrocinadores não tenham um contrato para você no próximo ano, é o fim. Tenho 32 anos e não sou tão nova assim. Se não estiver no CT, todos os patrocinadores vão embora. Por isso me senti muito feliz em continuar, sinto que meu surfe está evoluindo a cada ano. Isso me mantém motivada para seguir acreditando no meu grande sonho, que é ser campeã mundial.
No lado pessoal, quem é o seu treinador e quem faz parte do seu círculo de confiança?
Tenho um no Brasil, o Leo Neves, que fez parte do CT em 2009. Nós surfamos todos os dias, experimentando pranchas, novos aéreos e manobras. Ele me instiga “Vamos, Silvana, você tem que fazer alguma coisa diferente das outras garotas, tente essa manobra aqui”. Estou com ele há três anos, sempre está ao meu lado. E também tenho amigos em todos os lugares, onde posso ficar na casa quando vou competir.
Como você mantém a concentração? E qual foi a chave para conseguir a vitória em Trestles?
Só penso em coisas positivas, como se tudo fosse dar certo. Quando venci a primeira fase em Trestles, não tinha feito nenhum free surf antes de a competição começar. Fui direto para a bateria.
Por quê?
Não sei (risos). Acho que me sinto muito nervosa quando há muita gente no outside. Por que tenho que lutar com alguém por uma onda? Então pensei: “Vamos Silvana, apenas vá pra lá quando duas pessoas estiverem no lineup”. Então todas as baterias fiz este mesmo ritual, sem free surf. Fui para a piscina de ondas do Kelly e me senti bem, então isso é igual a fazer free surf em Trestles (risos).
Quando você se sente bem, você não precisa de tantos exercícios antes. Você tem que estar ligada na sua bateria. Não é necessário gastar tanta energia com free surf e exercícios. Todas as meninas fazem isso, e isso é bom. Mas, quando estou no Brasil, trabalho muito. Musculação, corrida na areia, piscina, faço de tudo. Porém, quando estou no campeonato, costumo fazer assim.
Como você passa seu tempo no Brasil, além das competições e treinamentos?
Quando estou no Brasil, também jogo futebol na areia. Estava confusa antes de me tornar surfista profissional. Queria ser jogadora de futebol e surfista, não sabia qual. Mas o surfe abriu algumas portas e ajudou minha família. Então optei por ele.
Da onde vem a sua força?
Acredito que sou assim, porque amo o que faço. Me esforço muito e as mulheres no Tour são excelentes. Isso é uma motivação, além do surfe, claro, que é uma paixão.
Por Anna Dimond / WSL