A Federação de Surf do Estado de São Paulo (SPSurf) tem dado atenção especial a um assunto muito importante que envolve diretamente a mulher surfista. Por meio da Diretoria de Surf Feminino, comandada pela bacharel em direito e surfista Maria Carolina Fornazari Golla, a Keiks, realizou o II Segundo Encontro Online de Surf Feminino. A reunião contou com a presença da Delegada Liliane Lopes Doretto.
Também estiveram presentes Mayra Ziober (fotógrafa da SPSurf), Fabiana Rodrigues Tuffi (Canal Série Delas), Luisa Abreu (OAB Guarujá), Ana Carolina Moura Dellaretti (Associação Feminina de Surf – Bertioga), Tatiana da Mata (Sicrupt) e Diolanda Vaz (Idealizadora da Associação Brasileira de Surf Feminino).
Neste segundo encontro, além das participantes discutirem a repercussão positiva do primeiro do compromisso, que deu o start para a construção de questões entorno do assunto da violência contra a mulher no cenário do surfe paulista. Além de relatarem novos fatos, as participantes puderam dirigir diretamente perguntas à Liliane Lopes, que além de delegada de polícia é surfista e já se sentiu discriminada quando teve o seu primeiro contato com o esporte.
“Quando procurei uma escola de surfe para começar a prática, o professor na ocasião me recebeu com a seguinte frase: ‘você é muito patricinha para surfar'”, conta Liliane, que imediatamente procurou outro profissional para aprender a surfar.
A delegada esclareceu ainda que em casos de tentativa ou de efetiva lesão corporal contra as mulheres na prática do surfe, ou casos de injúrias, qualquer delegacia tem competência para registrar o Boletim de Ocorrência (B.O.) e orientou ainda que, caso a delegacia se recuse a registrar o B.O., há a possibilidade de registrar o Boletim online. Recomendou ainda que a delegacia que tenha se recusado a fazer o registro seja denunciada à Corregedoria.
Liliane trouxe ainda informações muito importantes sobre o cenário mundial da defesa da mulher, como o fato do Brasil estar muito à frente de países da Europa, tendo em vista que somente aqui há delegacias especializadas (DDM). Ressaltou que a luta é longa, mas que apesar de tudo, as leis e estrutura são referência e exemplo. “Não há falta de leis sobre o assunto, o que falta é conscientização e discernimento”, esclarece.
Contou ainda que diversas mulheres usam a lei de forma leviana, com falsos crimes de gênero para benefício próprio, que não veem como isso prejudica a elas próprias e a todas as mulheres.
Como sugestão, a delegada ainda orientou que as surfistas mulheres devem tentar evitar surfar sozinhas, procurar sempre estar em grupos para assim ter mais segurança, testemunhas e até ajuda entre si para lidar com situações desconfortáveis e acidentes. As mulheres estão em busca de um ambiente ideal no surfe, mas a igualdade e a aceitação no mar ainda não é uma unanimidade.
O consenso deste encontro foi de que a violência contra as mulheres no surfe, seja ela física ou verbal, é um fato e tem se apresentado cada vez mais presente e que o combate a essa violência depende da educação, conscientização e união de todos os surfistas por um bem maior.
O próximo Encontro ainda está sendo estudado, porém, quem tiver interesse em participar do pode se manifestar pelo Instagram pessoal da Keiks, Diretora de Surf Feminino da SPSurf.
A Federação de Surf do Estado de São Paulo repudia qualquer tipo de violência e sabe que, infelizmente, violência contra a mulher não tem data e nem local para acontecer. Mas tampouco pode normalizar e admitir que casos continuem ocorrendo, especialmente no ambiente praiano, onde há encontros para diversão e principalmente surfar. A Federação alega, ainda, estar sempre ao lado do justo e contra as desigualdades sociais, do machismo, do racismo, da homofobia e de todas as outras formas de preconceito.