Surfe Feminino

Simpósio mostra além do outside

Primeiro Simpósio de Surfe feminino reúne surfistas e proporciona experiência única em São Sebastião (SP).

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Foi realizado o Primeiro Simpósio de Surfe Feminino, organizado pela Federação de Surf do Estado de São Paulo (SPSurf), no dia 30 de setembro, no Teatro Municipal de São Sebastião (SP). Nesse evento, pode-se considerar que o surfe feminino ganhou um espaço de destaque e uniu meninas e mulheres que defendem o mesmo propósito, a mesma causa, que é promover um espaço de igualdade, equidade, respeito e união dentro do mar.

O evento, em parceria com a Prefeitura de São Sebastião, por meio da Secretaria de Esportes (SEESP), da Fundação Educacional e Cultural “Deodato Sant’Anna” (Fundass), e da Associação de Surfe de São Sebastião (ASSS), promoveu um encontro acolhedor e ao mesmo tempo agregador para surfistas, amantes do esporte e todos aqueles que vivem o surfe feminino. Estiveram presentes  o chefe da Divisão de Esportes Náuticos do município e atual presidente da ASSS, Frank Constâncio e o Rafael, Secretário de Esportes de São Sebastião.

O Simpósio reuniu cerca de 150 pessoas e teve uma programação com palestras com o formato de entrevista, feira de Surfe Feminino com estandes das marcas e empresas Sicrupt, Caeté, Salty Sisters, New Advence, Luau Vibe, Meraki Autocuidado, Ong Skate Salva, North Shore Cogumelos e Experiência Litoral, com o intuito de incentivar os empreendedores do segmento, e uma exposição fotográfica da fotógrafa Sweel Nobrega, exibindo momentos memoráveis e a evolução das mulheres no esporte ao longo dos anos, através da exposição “Preta Cura Cura Preta”.

A cerimônia de abertura começou com a emocionante chegada da Canoa Havaiana Feminina do Instituto São Sebá Va’a pelo Canal de São Sebastião, acompanhada pela surfista Tati Casória. Em seguida, teve a apresentação emocionante da escola Hula Aloha Brasil, mostrando através da dança hula, a cultura polinésia.

Após a cerimônia de abertura e apresentação, foram realizadas palestras com o formato de entrevistas, que incluíram temas como associações de surfe feminino, ministradas por Diolanda Vaz (ABSF) e Ana Carolina Moura (ASF), contando sobre suas histórias e os principais desafios.

Posteriormente, a psicologia do surfe foi abordada por Tatiana da Mata e Fabi Tuffi, que discutiram temas essenciais sobre o surfe, conduta no mar, a diferença que faz na vida de um atleta trabalhar e fazer uma preparação mental e como a Psicologia atua dentro do cenário do surfe. E a atleta Yasmin Neves contou um pouco sobre como está sendo a experiência em fazer esse trabalho na Psicologia Esportiva voltada para o surfe com a psicóloga Tatiana da Mata.

Durante o evento, também houve discussões sobre a nova geração do surfe, com apresentações de Isabela Viola, Jade Lie Tanaka e as Trigêmeas, Maria Paula Stefani, Maria Julia Stefani e Maria Eduarda Stefani, que contaram seus sonhos e desafios na vida de atleta.

A Jornalista e apresentadora Maíra Pabst também esteve presente no evento, contou sua história com o surfe, falou sobre gravidez e continuar trabalhando, o quão desafiador é ser mãe, surfar e trabalhar em grandes eventos de surfe. Maíra também entrevistou as atletas da nova geração durante o evento.

Após o almoço, as treinadores do surfe, incluindo Aline Alegro, Dalessa Carmona e Stael Martins, compartilharam seus conhecimentos e mostraram a relevância de um preparador físico na vida de um atleta ou freesurf.

No período da tarde tarde, as surfistas legends, acima de 50 anos, Aline Abad, Angela Bauer, Katia Debianchi e Tati Casória, contaram suas histórias, dificuldades, limitações, perrengues e também compartilharam história divertidas.

Empreendedoras do surfe, Virgínia Ferraz (Salty Sisters) e Paty Marins (Surf House Girls), também compartilharam suas experiências e suas histórias, contando suas formas de trabalhar com grupos de mulheres surfistas.

Por fim, teve uma cerimônia de encerramento, liderada por Cris Brosso do Projeto Corpo Oceânico, proporcionando uma experiência única e à todos que estavam presentes.

Conversamos com algumas pessoas que fizeram parte do evento, como Tiago Bulhões, surfista local de Santo, que faz parte do time da New Advance, Verônica Elis Cabral, responsável pela Hula Aloha Brasil, Escola Internacional de Tradições e Cultura Polinésias, Keiks Fornazari, Diretora do departamento de Surfe Feminino da SPSurf e Zé Paulo, presidente da SPSurf, com o intuito de ouvir algumas perspectivas desse marco histórico no mundo do surfe feminino.

Tiago Bulhões, como homem, surfista e presente em um evento de surfe feminino, comentou suas percepções:

“O Primeiro Simpósio de Surf Feminino conseguiu reunir mulheres de diferentes idades, modalidades e histórias de vida em torno do esporte que tanto amamos, o surfe. Colocou-as num belo palco e deu-lhes voz”, comenta.
“Como homem, afirmo que foi um final de semana de muito aprendizado, colocando-me no lugar delas, ouvindo suas histórias, experiências, dificuldades e conquistas. Cada participante que subiu ao palco, deu uma aula de inclusão, respeito e equidade para o público presente. Público este, que deveria ser composto por mais ouvidos masculinos dispostos a entender, compreender e não julgar”, relata.

Zé Paulo, presidente da Federação de Surfe do Estado de São Paulo (SPSurf), prestigiou o evento e contou sua visão sobre a importância de incentivar o surfe feminino:

“Queria dizer que o simpósio foi um divisor de águas e marca um momento histórico dando voz as mulheres o o espaço de fato e de direito dentro e fora d’água. Além de promover conversas que ajudam a fortalecer e fomentar a modalidade de prancha que mais cresce no Brasil e no mundo”, comenta.

“A Federação reconhece e apoia essa inciativa. Primeiro de muitos. Contem comigo por um futuro melhor para o esporte e os atletas do estado de São Paulo”, finaliza.

Verônica Elis Cabral, responsável pela Hula Aloha Brasil, contou como foi sua experiência em abrir o evento e comentou a importância de enfatizar a cultura polinésia no surfe:

“Fiquei feliz e honrada, em poder participar deste evento por intermédio da minha Querida amiga Angela Bauer, surfista Legend, foi através dela foi que aconteceu o convite”, conta.

“Como a Angela foi a primeira mulher, brasileira a ter  premiações nos campeonatos de Surf no Hawaii; muito respeitada pelos locais, ela teve a oportunidade de morar por um tempo no Hawaii e viver com os nativos, tendo uma maior  compreensão sobre o Surfe a sua conexão,  com a Cultura, Tradições e espiritualidade”, comenta.

“Ela já tinha consciência que o surf, é sagrado e sempre em nossas conversas dizia que tinha que ser, propagado da forma de sua real essência, sempre me falava que eu tinha que falar num encontro de surf sobre esta conexão”, completa.

“Aqui nossa consciência é mais inclinada a ver o surfe como esporte e lá vai além esporte. Então a oportunidade de falar um pouco sobre uma Cultura tão rica que tem tanto a nos ensinar sobre nós mesmos, o planeta em que vivemos, a conexão com o todo, natureza, mar, animais, conhecimento ancestral milenar, num Simpósio de Surfe, e ainda mais feminino, foi incrível”, relata.

“Trazer a luz do conhecimento aos atletas, a real essência do esporte e como ele era e ainda é, praticado nas Ilhas, e que a dança sempre está, no fomento da arte, esportes e Cultura. A Hula faz parte do cotidiano dos nativos, assim como o Surfe”, finaliza.

A iniciativa foi de Keiks Fornazari, que se surpreendeu com a repercussão do evento e o quanto fez diferença e uniu todas as surfistas convidas, que estavam lá, em busca do mesmo propósito, promover o surfe feminino e tornar esse espaço cada vez mais acolhedor e seguro.

Em conversa com a Keiks, ela compartilha sua visão e expectativas atingidas no evento:

“O Primeiro Simpósio atingiu todos os objetivos. E o principal objetivo era unir as mulheres, abrir um espaço para as mulheres poderem falar, sem serem interrompidas e mostrar as muitas faces do surfe feminino e as muitas histórias, com o intuito de gerar mais pertencimento”, conta.

“As meninas da nova geração tem o sonho de serem campeãs mundiais, recebem o apoio das famílias, se sentirem à vontade para trazer esse tema”, comenta.

“Foi muito importante trazer o contexto da Psicologia Esportiva no surfe, porque muitos atletas têm passado por burnout no esporte. E apesar do surfe ser uma atividade para relaxar, quando ele se torna uma atividade profissional, ele pode ser altamente estressante e o apoio psicológico é fundamental para dar suporte nesses casos”, relata a diretora.

“Treinamento de surfe evoluiu bastante e hoje temos muitas vertentes. E foi muito bonito de ver as treinadoras compartilhando ideias e mostrando união, ao invés de rivalidade, apesar de atuarem na mesma área”, ressalta.

“Temos um atraso histórico no surfe feminino, não de capacidade. Muitas mulheres possuem diversas questões acumuladas e quando podem trazer essas questões para o mundo real através da fala, ganha muito mais força. E foi isso que o Simpósio fez”, finaliza.

Realizar um primeiro Simpósio de Surfe Feminino é só o primeiro passo para abrir novos caminhos e buscar união entre as mulheres dentro e fora d’água.