Um esporte radical, conectado à natureza e muito divertido. Quem olha o surfe da areia, pode ser que o veja apenas assim. Mas quem está em cima da prancha, sabe que esse cenário pode mudar de uma hora para a outra e que sempre há a possibilidade de acidentes durante uma sessão.
No Havaí, o perigo de um wipeout fez com que os primeiros surfistas do arquipélago buscassem no misticismo a proteção necessária para escapar dessas fortes ondas. Muitos deles costumavam pedir aos seus líderes religiosos, conhecidos como ‘kahuna’, para que ungissem as pranchas e orassem por um bom surfe. Com o tempo, esse costume passou de pais para filhos, mas os havaianos também desenvolveram técnicas especiais para evitar possíveis afogamentos em situações de perigo.
Exemplo disso é o treinamento feito pela surfista e fotógrafa Ha’a Keaulana, que mergulha por 10 metros até o fundo do oceano, agarrada a uma pedra e corre por mais de um minuto. Criada em Mākaha, no oeste de Oahu, ela aprendeu a técnica bastante perigosa com seu pai, Brian Keaulana, big rider, salva-vidas e pioneiro no resgate com jet-skis.
“Era muito jovem e não sabia realmente a função deste exercício. Eu só fazia porque achava divertido, mas com o tempo percebi a finalidade e importância deste treino”, conta Ha’a. “Esse tempo embaixo d’água correndo com a pedra, ajuda a aumentar a capacidade pulmonar e te faz acostumar com a pressão da profundidade, no caso de uma onda te jogar para debaixo d’água”, explica Ha’a Heaulana em entrevista à The Red Bulletin, revista da Red Bull. Segundo a atleta, ser capaz de permanecer embaixo do mar por um minuto após um wipeout pode significar sobrevivência.
Mas também fica o alerta que, para executar esse tipo de treinamento, é importante contar com a supervisão de um profissional que o oriente de forma correta como executá-lo e que também conheça o melhor local para praticá-lo.
Conhecimento de geração para geração
Conectada à sua ancestralidade por meio do surfe, Ha’a é neta da lenda Richard Buffalo Keaulana, conhecido por apresentar o esporte aos visitantes de sua região, no South Shore de Oahu.
Buffalo consagrou-se um dos maiores surfistas havaianos e conquistou diversos títulos, além de ter sido um dos primeiros salva-vidas de Mākaha. Ele ainda foi timoneiro da ‘Hōkūle’a’, uma canoa polinésia de casco duplo, em que navegava do Havaí ao Taiti, usando métodos de navegação antigos. Há alguns anos, Kelly Slater, por exemplo, competiu utilizando esta canoa.
Buffalo ainda criou um evento histórico que se mantém até hoje, chamado Big Board Surfing Classic, que ocorre em Mākaha. “É chamado assim porque a prancha não pode ser menor do que 3 metros. Esse é meu avô, trazendo de volta a conexão cultural – não tão radical, apenas se divertindo, lendo a onda e sentindo uma conexão com o oceano”, finaliza Ha’a, reafirmando a profunda ligação entre sua família e o mar.
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