A última entrevista com os fotógrafos da collab The Line Up Project, realizada pela Green Minds com cinco fotógrafos de surfe, é com Sebastian Rojas, local do Guarujá (SP).
“Sebá”, como é mais conhecido, é referência nacional e internacional quando se trata de fotografia de surfe. Foi um dos pioneiros na fotografia aquática no Brasil e um dos principais nomes do staff da extinta revista Fluir:
Quando e como você começou a trabalhar com fotografia?
Comecei na década de 1980 no Guarujá como hobby, fotografando os amigos. Sempre fotografei dentro d’água e a partir de 1985 comecei a colaborar com a Revista Fluir e desde então não parei mais.
Quais foram os seus primeiros trabalhos?
As primeiras fotos publicadas foram dentro d’água na praia das Pitangueiras, Guarujá, encomendadas para a matéria “Fluindo no Surf” da Revista Fluir. Nessa época eu também costumava ir para o litoral norte paulista fotografar em Paúba e Maresias, que foram as grandes escolas na fotografia aquática de tubos e onde comecei a publicar matérias como “Coco Loco” e “Why not Brasil”? Fotografar na água era minha prioridade e registrar os tubos de Paúba e Maresias deram um grande impulso na minha carreira e abriram as portas para as viagens internacionais.
Até hoje, teve algo que não gostou de fotografar?
Sim, já fotografei muita poluição nas areias das praias brasileiras e na Indonésia também. Uma vez entrei para fotografar no Quebra-Mar em Santos e a água estava fedendo a esgoto e cloro, e muitos detritos estavam boiando ao redor.
A outra foi na Barra da Tijuca durante o Rio Pro, onde a poluição que saía dos esgotos do Quebra-Mar na maré baixa, fazia com que o ambiente marinho ficasse totalmente corrosivo para a saúde, além do cheiro quase insuportável e sufocante. O pior é ver que as autoridades não conseguem resolver esse câncer que nós humanos impomos aos oceanos.
Qual a sua foto favorita ou a que considera a foto da sua vida?
Tenho muitas fotos preferidas e a cada ano surgem novas, mas elas não acontecem com muita frequência. Tenho me dedicado a cada vez mais fotografar ondas vazias e tubulares. Essa de Pipeline, onde pode-se ver do outro lado, é uma delas.
Quem te inspira, seja nas lentes ou fora delas?
Muitos fotógrafos me inspiraram no passado, entre eles: “Don King” uma lenda viva da fotografia aquática e muito atirado em Pipeline. Outra grande inspiração foi o Chris Van Lennep, fotógrafo sul-africano e que estava entre os melhores do mundo na categoria “Fotógrafo Profissional de Tubos”.
Tem o Scott Aichner, do Havaí, que revolucionou os ângulos da fotografia aquática. Ele se posicionava muito no crítico das ondas em Pipeline com uma lente fisheye “super angular” e fazia fotos incríveis de ângulos até então considerados muito perigosos e impossíveis.
Me inspirei muito nas fotos dos grande Aaron Chang e Jeff Hornbaker e também nos retratos do Art Brewer, todos eles fotógrafos das Revistas Surfing e Surfer. Entre os brasileiros as minhas referências sempre foram o Alberto Sodré, Bruno Alves e das gerações mais recentes o fotografo aquático carioca Pedro Tojal, que para mim está na vanguarda da fotografia aquática brasileira.
Tem alguma foto que ainda não fez e gostaria de fazer?
Sim, tenho muitas fotos que gostaria de fazer ainda, mas eu teria que morar em lugares de águas muito claras e translúcidas, como Fiji e Taiti. Enquanto isso não acontece vamos tocando a vida entre viagens ao Havaí, Indonésia, etc, e o nosso dia a dia no Brasil.
Quais imagens atualmente gosta mais de trabalhar?
Hoje meu trabalho se divide entre a fotografia de ação e lifestyle para surfistas comuns e também continuo produzindo campanhas para empresas ligadas à indústria do surfe com seus surfistas patrocinados.
Existe o que chamo de free style, que são fotos ligadas a natureza, paisagens aquáticas e onde tiver rolando tubos. As fotos que mais me inspiram a trabalhar sempre serão as aquáticas, onde a motivação é sempre maior.
Qual viagem marcou sua carreira?
A viagem que marcou minha carreira foi no Taiti, onde fotografei um swell gigante em Teahupoo.
Quais conselhos daria para quem está iniciando ou pensando em seguir a carreira de fotógrafo?
Pensem na fotografia como arte, inspiração e criatividade. Coloque um olhar novo, a natureza é um studio gratuito e permanente. Trabalhe bem as luzes e apure sua técnica e não economize nas melhores óticas, elas trazem a excelência nos resultados. Quando a qualidade do seu olhar treinado se revela em fotos que tocam o coração das pessoas o retorno financeiro virá incessantemente.
Quais são as atitudes e pensamentos “Green Minds” que todo fotógrafo deveria ter?
Todo fotógrafo deveria ter em mente que somos parte viva da natureza e devemos vigiar e proteger nossos mares, evitar protetores solares que poluam o ambiente marinho, usem apenas os orgânicos.
Uma transformação se faz necessária nesse momento, sejamos guardiões das nossas praias, vamos retirar toda forma de lixo que pudermos e estiver ao nosso alcance.
Denunciem se necessário. Recolham plásticos do mar e das areias. Não achem que essa é uma tarefa para os outros. Sejam surfistas ou fotógrafos, vamos todos fazer a nossa parte e influenciar os nossos amigos via redes sociais a fazerem o mesmo.