Sasha Jane Lowerson

Surfista trans gera controvérsias

Torneio na Califórnia deve incluir mulheres trans em competição feminina.

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Sasha Jane Lowerson é excluída da divisão feminina pela American Longboard Association.

Um torneio de surfe na Califórnia foi informado pelas autoridades do Estado americano que deve incluir uma mulher trans na competição feminina — ou, caso contrário, a administração do evento terá violado a lei estadual.

A decisão foi tomada pela Comissão Costeira da Califórnia (CCC), uma agência estatal responsável pela administração das praias nos 1.800 quilômetros da costa estadual.

Segundo a entidade, o campeonato “não pode discriminar pessoas com base no gênero”.

A organização do torneio havia anunciado que a australiana Sasha Jane Lowerson não teria permissão para competir no Huntington Beach Longboard Pro.

A decisão dividiu opiniões e gerou reações na Califórnia.

Lowerson havia entrado na divisão feminina da competição no sábado (04) em Huntington Beach, ao sul de Los Angeles.

Ela disse que se apresentou porque as regras estabelecidas pela Associação Internacional de Surf (ISA) permitem que mulheres transgênero possam competir se atenderem a certos critérios em relação aos níveis de testosterona.

“Fiquei realmente desapontada e surpresa por ter sido excluída”, disse ela à BBC.

“Você não pode escolher as regras a dedo no manual de regras. Se for usar o manual, use-o inteiro”, ressalta Sarah.

Todd Messick, diretor da American Longboard Association, associação que organiza a competição, anunciou em 25 de abril que a competição não permitiria que mulheres trans participassem na divisão feminina, dizendo que queria “oferecer condições iguais para todos os atletas”.

Ele disse à BBC que ficou “surpreso com a quantidade de raiva” que a decisão gerou, mas acrescentou: “O que descobri também é que muitas pessoas ficaram muito gratas por eu ter falado abertamente”.

“Eu estava tentando fazer a coisa certa. Não era algo com que eu realmente esperasse ter que lidar, não em nossa pequena comunidade de longboard”, disse ele.

Lowerson, uma australiana que já venceu campeonatos masculinos em seu país natal, disse que encontrou atitudes positivas no mundo do surfe profissional quando começou a viver como mulher.

“Três anos atrás, eu tinha acabado de começar minha transição e fiz uma ligação para o Surfing Australia, organização de surfe do país”, disse ela.

“Fui muito bem recebida. Eles foram muito abertos em serem inclusivos e progressistas”, acrescentou.

Desde a transição, ela contribuiu para o desenvolvimento de novas diretrizes adotadas pelo órgão governamental da Austrália, permitindo que surfistas transexuais competissem em eventos femininos.

Nos Estados Unidos, a questão revelou-se mais controversa. A questão também está sob os holofotes na Califórnia porque Los Angeles será sede dos Jogos Olímpicos dentro de quatro anos, em 2028.

No ano passado, a Liga Mundial de Surf (WSL) anunciou uma nova política sobre a participação transgênero, que permite mulheres trans competirem em eventos femininos se mantiverem um nível de testosterona abaixo de um determinado limite por pelo menos 12 meses.

Alguns surfistas profissionais, incluindo a conhecida Bethany Hamilton, criticaram a nova regra, que se baseia em uma política criada pela Associação Internacional de Surfe.

“Muitas das garotas atualmente em competição não apoiam esta nova regra e temem ser condenadas ao ostracismo se falarem”, disse Hamilton na época.

“O nível hormonal é uma representação precisa de se alguém é homem ou mulher?”

Referindo-se às declarações de Hamilton, Todd Messick, organizador da competição de longboard, acrescentou: “90% das surfistas com quem conversei estão de acordo, mas muitas não comentam.”

Surfistas como Hamilton, que se opõem à participação de mulheres transexuais no evento feminino, argumentam que estas têm uma vantagem injusta em termos de força.

Lowerson diz não acreditar que esse seja seu caso.

“Não é uma corrida, trata-se de estilo, fluidez, graça. Como longboarder, é mais como um balé sobre uma onda”, disse ela, acrescentando que pode provar que seus níveis de testosterona estão abaixo do limite exigido.

A surfista afirma que, apesar das críticas, continuará participando de eventos femininos.

“Inadvertidamente, me tornei uma figura-propaganda das mulheres trans no surfe”, aponta.

“Não que eu quisesse fazer isso, mas simplesmente aconteceu.”

“O esporte é uma questão de comunidade. Trata-se de compartilhar e se divertir com outras pessoas que pensam como você, e o fato de estarmos perdendo isso de vista é muito triste.”

De acordo com a Comissão Costeira da Califórnia, os eventos desportivos locais que não permitem a competição de mulheres transexuais em categorias femininas poderão ser encerrados.

“As competições de surfe em águas estaduais devem ser realizadas de maneira legal e sem discriminação de gênero”, disse o porta-voz da entidade, Joshua Smith, à BBC News.

Uma carta da agência costeira aos organizadores da competição, vista pela BBC, diz que a proibição de mulheres transexuais “não é consistente com as políticas de acesso público, recreação e justiça ambiental da Lei Costeira”.

Já Messick conta ter sido informado de que “isso chegou até a mesa do governador da Califórnia”.

A BBC entrou em contato com o gabinete do governador Gavin Newsom para obter um posicionamento, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.

Não há consenso entre os diferentes organismos desportivos sobre quais regras devem ser implementadas para os competidores transexuais, e alguns estão estabelecendo políticas.

O órgão internacional de natação, World Aquatics, proibiu efetivamente mulheres transexuais de competir nos principais eventos de natação feminina.

O órgão regulador do ciclismo mundial, a UCI, também decidiu que as mulheres transexuais serão impedidas de competir em eventos femininos internacionais.

Fonte BBC News