Gerry Lopez inspira gerações com seu estilo clean, tranquilo e sempre no pocket. Foto: Reprodução.
Acho incrível o quanto as pranchas de surfe se desenvolveram, mas, às vezes, as mudanças são de certa forma tão sutis que, aos olhos de um leigo, pode tudo parecer a mesma coisa.
Aviso, esse é um post mais sobre a alma de uma prancha do que seu design.
De todos os esportes hoje praticados com pranchas, as de surfe, de onde todas as outras surgiram, devem ser as que menos mudaram sua maneira de construção ou mesmo muito de suas formas básicas.
Ele se tornou o rei da “Rainha dos Tubos”. Gerry Lopez e o raio em sua prancha influenciaram muita gente.
Claro, hoje temos Firewires, Powerlights, Tomos e outras poucas variações, mas 90% das pranchas são de espuma, resina e fibra, aliás, inclusive as acima citadas que tratam esses materiais de forma diferente e agregam madeira à fórmula. Por falar em madeira, a longarina também mudou seu lugar clássico, central, ou sumiu.
Concaves, double concaves, reverse Vs, mais rocker aqui, menos ali, wide point que passeou de cima para baixo e vice e versa, bordas mais amistosas, tamanho das pranchas e o principal: quilhas.
Jamie O’Brien, um especialista em Pipe, carrega o DNA dos anos 1970 em sua postura. Foto: WSL / Cestari.
Sim, essas mudanças transformaram o surfe para muito melhor, mas quando você olha uma onda como Pipeline / Backdoor, que pede uma prancha especial, me vem à cabeça uma imagem: a Lightning Bolt de Gerry Lopez.
Nos anos 1960 era quase impossível dropar os canudos de Pipeline com os longboards disponíveis. A revolução dos shortboards ampliou as possibilidades.
Lopez e suas pranchas colonizaram os corações da geração de sua época e a mente de muita gente. Foto: Reprodução.
Mas, entre as semiguns de uma quilha só cravada no V Bottom, do Gerry Lopez, vindas direto da era dos longs, com bordas quinudas, muita flutuação e seus 7 pés plus e as pranchas que vemos hoje no Pipe Masters, que começou nos anos 70, há uma similaridade assustadora. Lógico, especialmente quando as ondas estão grandes em Pipe.
Aquela forma de foguete, round pin e o raio talvez estejam tão marcados na minha memória que me fazem enxergar muito daquilo tudo nas modernas tri ou quadriquilhas. Hoje os drops, especialmente de backside, são mais críticos. As curvas na base, quando executadas, seguem outra linha. Os tubos são normalmente mais profundos…
As semiguns surgiram nos anos 70, dando muito mais mobilidade ao surfista nas ondas, em qualquer onda. No vídeo acima, Gerry Lopez em Ala Moana (1972).
As pranchas de Lopez e sua turma modificaram o surfe e permitiram que os caras entubassem de pé, com controle. Acho que é isso. No fundo essas pranchas, antigas e modernas, servem para o mesmo fim. Dropar, fazer a curva e traçar uma linha perfeita dentro de um tubo. Muitas vezes, ou quase sempre para alguns, é tudo que se quer.
Bom, creio que não sou o único a ver a alma daquelas semiguns da LB nas pranchas de hoje, em Pipe. Tenho visto muitas pranchas ostentando o tal raio, logotipo da Lightning Bolt, mesmo que em pranchas de outras marcas e não desenhadas para Pipe ou algo parecido. Tudo bem, de certa forma é uma bela reverência. Uma maneira a mais de criar uma ligação com aquilo que ficou na memória ou àquilo que nos conecta com uma época e seu significado.
Rory Russell, além de Pipe Master, também era shaper. Aliás, ele continua fazendo réplicas dessas pranchas icônicas. Foto: Reprodução.