Metal Box Volume I

Refúgio da rebeldia

Metal Box Volume I reúne a primeira leva de vídeos com a evolução do rock pesado a partir dos anos 60.

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Sempre gostei de rock pesado. Fiquei completamente viciado depois de ouvir Black Sabbath pela primeira vez, álbum Paranoid, o segundo, uma pedrada que marcou, mudou e trouxe alegria à minha vida.

Eu tinha 12 anos no começo dos anos 70 e já ouvia Led Zeppelin, meu pai deu o primeiro. E fiquei completamente biruta ao perceber que se os Beatles eram foda, não tinham nem metade da atitude do Led Zeppelin.

Mas, ouvir Black Sabbath foi uma experiência irreal. Aquela afinação grave, a guitarra distorcida, os temas diabólicos, aquele clima de fim de mundo era muito sedutor e eu mal sabia, na época, que os caras iriam revolucionar o rock para sempre, mexendo com a cabeça de tantas gerações de rebeldes.

Sim, porque os Beatles, Stones, Hendrix e toda aquela turma psicodélica dos anos 60 influenciou demais até hoje, mas o Black Sabbath foi além dos túmulos, da bruxaria e da magia negra, acabou por parir as bases e rituais do heavy-metal, a parada mais louca na vida de um eterno adolescente, a sonzera mais peso pesada que se pode ter para deixar os tímpanos alegremente em frangalhos.

Afinal, só pode ser bom um tipo de som que é detestado por mães, avós, irmãs, namoradas idiotas e chatas de nascença!

O termo heavy metal foi criado por um certo jornalista de rock chamado Lester Bangs para descrever a música do Led Zeppelin, mas nenhuma banda foi tão heavy como o Black Sabbath.

Gosto demais do primeiro álbum até o Sabotage. Depois, não curto, principalmente com Ronald James Dio. Mas, isso não importa, porque Black Sabbath, Paranoid, Master of Reality, Volume 4, Sabbath Bloody Sabbath e Sabotage são todos muito sensacionais e até as faixas mais ou menos são muito, mas muito foda!

O metal é tão ou mais subversivo que o punk e o hardcore. Mais revolucionário ainda quando o crossover do metal, punk e hardcore se unem numa monstruosidade sonora indescritível, com uma pegada bem suja para agredir o sistema e suas caretices.

Algo que não combina com os roqueiros mais certinhos, acostumados às melodias suaves, previsíveis e imbecilizadas destas para tocar no rádio.

Não que eu não curta um troço pop, principalmente se for anos 60, 70, 80, quando eu ainda ouvia rádio e gostava de músicas comerciais como Carole King, Steely Dan e muita coisa de black music – um capítulo muito especial e saboroso da música pop e que vamos tocar em breve.

Nesta primeira leva de playlist de rock pesado tem algumas bandas que influenciaram essa loucura toda do mundo metal, com Helter Skelter, dos Beatles, ou Tales of Brave Ulysses, do Cream, o ponto alto do blues psicodélico e pesado do rock inglês no final dos anos 60.

Nos anos 60, as letras falavam de amor, viagem de ácido, injustiça social e de gatinhas gostosas, entre outros temas que deixavam os pais escandalizados. Já as bandas do metal apostavam em temáticas mais infernais, satânicas, de fim de mundo e de outro mundo de cruzes invertidas, covas rasas, morte horrível e morte lenta, uma coisa mais para assustar do que propriamente seguir como modo de vida, ou seja, tudo uma grande gozação dentro do espírito de porco do rock nem aí com nada, a não ser a diversão de meia dúzia de chapadões.

Isso não tem muito a ver com onda, tubo e mar perfeito. Mas, quando você tem 15 anos e as melhores garotas só namoram os caras mais velhos, não tem muito o que fazer a não ser ouvir o Black Sabbath até o disco ficar todo riscado.

Enfim, levei a pauta mais para lado B do metal, mas a playlist não tem só metal, mas várias coisas pesadas e que não necessariamente se tratam de metal no sentido musical, psíquico e estético da coisa.

Como a página fica muito pesada com muitos vídeos, a saga da paulada mais moderna continua amanhã, no link Bagulho fica violento.

Ouça de fone, no talo, assim ninguém vai te encher o saco ou pedir pra abaixar. É impossível.

E não espere ver aqui metal de boy tipo Iron Maiden, Bon Jovi e outras frescuras. Sim, porque até os Monkees tem mais atitude que Scorpions. É a atitude que vale. O Kiss, por exemplo, é um troço bem aparício, bem poseur, mas eles tem atitude, são autênticos naquela palhaçada toda.

No vídeo do S.O.D. é legal prestar atenção ao stage diving do vocalista Billy Milano, um fascista do Speak English Or Die. Mas, o cara é bem foda. Roadie do Anthrax, ele montou essa banda mil vezes melhor que o seu emprego, simplesmente um Pelé do hardcore X metal e que me foi apresentado pelo João Gordo, vocalista do Ratos de Porão, no tempo em que era empresário deles nos anos 80.

Também tem Angel of Death, do Slayer, para mim o melhor riff da história do metal. O  grupo de rap Public Enemy sampleou numa experiência doida deles – She Watch Channel Zero.

Enfim, espero que apreciem algumas pedradas que eu venho adorando ao longo dos últimos 50 anos, Deep Purple, Humble Pie, AC/DC, Van Halen, Motorhead, Metallica, Rage Against The Machine, White Zombie, entre tantos outros grupos irados, de modo a contar a evolução do som pesado, das antiguidades dos anos 60 aos dias atuais.

Enfim, esta é mais uma matéria para endeusar o rock sub satânico do Black Sabbath. Eu até gosto mais do Led Zeppelin, que é da mesma época e tem uma levada mais psicodélica, blues pesado e tal. Mas, o Black Sabbath tem que ser reverenciado no altar do sacrifício da perda de tempo mais útil da vida. Os caras são muito malvados naquele riff medonho, dá licença, Black Sabbath reinventou o rock e, para muitos, só não é melhor que os Beatles.