Brasileiros sofrem com depressão

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#Um problema grave atinge um número considerável de surfistas brasileiros que disputam o circuito mundial de surf profissional: a depressão.

Segundo matéria publicada no site do Jornal da Tarde, na última quarta-feira (30/01), a barreira da língua, o afastamento da família e a rotina estressante do tour são as principais causas do problema, que já afetou o catarinense Neco Padaratz (foto) entre outros atletas.

Para que imaginava que vida de surfista é só alegria, viagens a lugares paradisíacos, milhares de fãs, prestígio e ondas perfeitas, parece que não se trata exatamente de um mar de rosas…

Segundo depoimento do carioca Guilherme Herdy ao JT, 28 anos, há dez disputando o WCT (World Championship Tour), a discriminação com os brasileiros também é um dos problemas mais freqüentes.

“Ninguém tem idéia do que um surfista do terceiro mundo sofre. As competições são longe do Brasil, e às vezes ficamos fora nove meses por ano. A rejeição aos brasileiros é assustadora. Muita gente não fala inglês e fica mais isolada ainda. A solidão é enorme. A pressão dos patrocinadores por resultados não tem tamanho. Nem gosto de falar nisso, mas é duro fugir da depressão”, confessou o Top 45 à reportagem.

#Outro que sofreu os efeitos da depressão foi o catarinense Neco Padaratz, de 26 anos, há sete disputando o circuito. Na época, em 98, ele era o quinto colocado no ranking mundial quando decidiu abandonar tudo por problemas pessoais e de saúde.

“Não tinha condições de seguir. Tinha gastroenterite aguda e problemas pessoais”, resume Neco, que diz também não ter conseguido se separar do filho recém-nascido Nicolas.

Porém, Neco foi um surfista preparado desde pequeno para ser um competidor profissional. Ele e seu irmão mais velho, Teco, que também disputa o mundial e já conquistou duas vezes o título do WQS (World Qualyfing Series), a segunda divisão do surf mundial, foram treinados pelo shaper Avelino Bastos e tiveram todo o tipo de instrução necessária para tanto, incluindo temporadas no exterior e inglês fluente.

A mesma sorte não teve o cearense Fábio Silva, de 30 anos. Fabinho, como é conhecido, é natural da favela do Titazinho, em Fortaleza, e vem de uma realidade totalmente diferente dos irmãos Padaratz. Com muito talento e garra, ele foi considerado uma das revelações do fim da década passada e se classificou para disputar o WCT em 98, mas acabou abandonando o circuito no mesmo ano, deixando perplexa toda a mídia e torcida nacional.

Segundo ele, foi impossível agüentar a pressão imposta pelo circuito, com inúmeras viagens e muita dificuldade em se comunicar, por não falar uma palavra em inglês, e a depressão foi inevitável.

Ainda de acordo com o JT, é justamente das viagens que surge a depressão, pois além dos gastos serem altíssimos (cerca de US$ 15 mil em média por ano com passagens, alimentação e hospedagem), apenas 15% dos brasileiros têm patrocínio.

Os demais acabam tendo que se virar como podem para pagar inscrições e outras despesas, como vender as pranchas no exterior. A falta de estudo também atrapalha na hora de negociar um bom contrato ? muitos apenas terminaram o colegial.

De acordo com a reportagem do jornal, os sintomas básicos dos depressivos são o choro, isolamento e desânimo. As conseqüências são catastróficas, pois sem bons resultados há renovação de patrocínios e namoros e casamentos são desmanchados.

“Nós somos do terceiro mundo, não temos ondas de qualidade como os estrangeiros e ainda estamos crescendo ano a ano. A rejeição é imensa. Eles não nos ajudam em nada. E para piorar a imprensa especializada coloca os estrangeiros num pedestal. Muitas vezes dá a impressão de que somos desprezados por tudo e todos”, revelou Herdy ao JT.

Segundo a matéria, uma das soluções encontradas pelos competidores foi a de viajar em grupos. “Passamos a viajar juntos. Precisamos dar força um para o outro. Quando alguém está com problema, os outros procuram ajudar. Não é o ideal, mas alivia”, analisa Neco.

#Outros atletas, como o baiano Jojó de Olivença, que disputou o tour mundial nos início dos anos 90, buscaram força na religião e se tornaram evangélicos praticantes.

Um aspecto interessante e que mostra o contraste de culturas entre as nações é o fato de que os atletas brasileiros ainda não investem em tratamento psicológico. Segundo o jornal, apesar de os salários dos surfistas da elite chegarem aos R$ 15 mil livres/mês, não há quem invista em psicólogo. Bem ao contrário dos australianos e dos norte-americanos.

Quem tem sorte de ter uma família estruturada, como Guilherme Herdy, cujo pai, Dr. Ciro D.C. Herdy, é médico cardiologista e dá o suporte necessário ao filho em casa. Os demais acabam apelando para atividades como power yôga e capoeira, carregam livros de auto-ajuda e de gurus como Paulo Coelho.

“Ser surfista no Brasil é ser gladiador. É lutar sozinho contra tudo e todos”, desabafou Herdy à reportagem.