Tenho visto muita gente com o famoso raio das Lightning Bolt estampado em sua prancha, de outro fabricante. Talvez elas não saibam, mas trata-se de um logo, uma marca registrada.
Concordo, o desenho é incrível. O problema é que, se não for muito estilizado para não se caracterizar como original, parece bem estranho como conceito. É o mesmo que você ter um carro e pintar a marca de outro no capô.
Entendo que tenha gente que pode nem saber do que se trata o raio. Por isso fiz esse post.
A marca, que está presente em mais de duas dezenas de países, no Brasil tem como licenciado oficial (só pranchas) “Thyola” Chiarella, desde 1975. O famoso logo passou por várias transformações, mas há muito tempo as pranchas deixaram, em sua maioria, de usar o nome Lightning Bolt escrito no logo, utilizando apenas o raio no deck de seus foguetes.
Um pouco de história No final dos anos 60 houve uma rápida transição dos longboards para shortboards. A galera deixou de ir para o bico para fazer curvas inéditas a partir da rabeta. Essas “pranchinhas” permitiam tubos mais profundos e manobras de lip/base impensáveis até então.
Com as pranchinhas, na verdade semi-guns (tipo 7 pés), evoluindo rapidamente, não era possível criar modelos com seis meses de antecedência. As grandes empresas estavam produzindo e estocando pranchas que ficavam obsoletas antes de chegarem às lojas. A clássica Hobbie, em Honolulu, estava afundando.
A revolução do shortboard deu aos shapers locais uma oportunidade. Foi essa evolução na indústria das pranchas que deu início à Lightning Bolt, no Havaí.
E surge o raio Gerry Lopez e Jack Shipley começaram a Lightning Bolt Surfboards no verão de 1972, em Honolulu. De acordo com Gerry, foi apenas um nome estúpido que eles inventaram, mas criaram um símbolo legal. Esse logo, o famoso raio, se tornou muito mais. Tudo porque Gerry Lopez e Rory Russell estavam comandando Pipeline com as Lightning Bolt.
Gosto de ressaltar que não há outro logo que ocupe tanto espaço e tenha tanto destaque numa prancha. Para quem entende o logo, sozinho, já diz: essa é uma Lightning Bolt.
Lopez desempenhou um papel importante na indústria de pranchas comerciais. Ele, junto com outros shapers, iniciou a marca de shortboards de alto desempenho. Todo surfista dos anos 70 queria uma dessas pranchas com o raio no deck.
A ideia de Jack Shipley era patrocinar os surfistas da equipe, fornecendo pranchas gratuitas, para o desalento de Gerry Lopez. Assim, a Lightning Bolt se tornou a primeira marca a fazer isso, em parte porque muitos dos Tops, como Wayne “Rabbit” Bartholomew, Shaun Tomson e Mark Richards não tinham dinheiro para comprá-las.
Por que fazer algo assim? Chama-se publicidade. Jack Shipley estava certo. A LB tornou-se uma das maiores campanhas publicitárias underground na história do surfe.
As pranchas Lightning Bolt estavam sendo usadas pela maioria dos melhores surfistas do mundo e tornou-se o ícone mais conhecido do surfe, aparecendo em quase todas as filmagens e revistas especializadas da época.
Ainda hoje, as pranchas da Lightning Bolt são um tipo de produto diferenciado, especialmente no mundo dos colecionadores. Algumas, raras, chegam a valer US$ 15 mil. A marca em si ainda é reconhecida em todo o mundo, como uma das marcas genuínas de surfe, com uma herança real no surf de base.
Eu, como tantos outros, sempre quis ter uma Lightning Bolt, mas nunca tive coragem de colocar o raio no deck, pois mesmo usando shapes feitos na Lightning, por Mark Jackola ou Ricardo Wendhausen “Wanderbill”, laminava essas pranchas em outro lugar. Faltava grana, mas não consciência. Afinal, a LB sempre foi conhecida, também, pela qualidade de seu glass e acabamento, como até hoje.