Yago Dora está cada vez mais próximo do retorno à elite mundial do surfe. Ele deu um passo importante em seu processo de recuperação na última quinta-feira (17), e poderá reforçar o Brasil na etapa de G-Land, Indonésia, entre 28 de maio e 6 de junho.
Yago retirou um equipamento que limitava seus movimentos da perna esquerda, que precisou usar desde a cirurgia que sofreu no tornozelo em dezembro de 2021. Ele já deu os primeiros passos e poderá treinar no mar nos próximos dias.
De acordo com Daniel Cortez, empresário e amigo do atleta, a previsão é que Yago esteja habilitado para o retorno ao CT da WSL na etapa da Indonésia. O evento é o sexto do Circuito Mundial e primeiro da segunda metade do calendário de 2022.
Entre os atletas que estão fora do Tour por conta de lesões, Yago é o primeiro da lista para receber uma vaga da WSL e retornar ao Tour após o corte no meio da temporada. Os critérios da entidade para o convite são: grau da lesão, posição no ranking e evolução dentro da WSL. Dora terminou na nona colocação no ranking do Tour em 2021.
No entanto, caso Gabriel Medina opte por retornar ao Tour na mesma etapa, pode ter prioridade e receber esta vaga – por ser o atual campeão mundial. Neste caso, Yago receberia a vaga destinada a atletas lesionados somente no início da temporada 2023 do CT.
“Yago está super tranquilo, a gente não tem pressa. Se ele não voltar no meio do ano, a vaga para o ano que vem está garantida. Ele está aguardando e se preparando para ficar pronto em G-Land. Caso contrário ele espera e volta no ano seguinte, ainda mais preparado”, acredita Cortez.
Mesmo que não consiga a vaga, Daniel afirma que a participação do atleta na etapa brasileira do CT, em Saquarema (RJ), está garantida, já que Yago é o primeiro colocado no ranking do QS da WSL na América Latina e terá direito a um wildcard.
Recuperação impressiona médicos
Yago Dora sofreu a lesão durante um treinamento no último dia 23 de dezembro, após a prancha escapar de seus pés ao tentar completar um aéreo reverse de frontside. Ele rompeu ligamentos do tornozelo esquerdo e precisou ser submetido a uma cirurgia.
Após o procedimento, ele precisou utilizar um equipamento conhecido como robofoot, que limitou os movimentos da região afetada pela cirurgia. O atleta ficou quase dois meses sem poder apoiar no chão ou colocar peso no pé esquerdo, com o intuito de preservar a área.
Após uma consulta médica na última quinta-feira (17) com o doutor Raphael Remor, que realizou a cirurgia, Yago foi liberado a retirar o equipamento e dar os primeiros passos. “Fez todo um trabalho de fisioterapia e preparação física para não sentir tanto, não tem muita perda de massa muscular. Então está super bem. Muito bem condicionado. Ontem foi um dia muito bacana”, celebra Daniel.
Segundo Daniel Cortez, o catarinense já poderá começar a realizar treinos no mar nos próximos dias, porém com toda a cautela que a situação exige e acompanhado de muita fisioterapia. “Agora é um processo de recuperação. Tem uma perda de massa na parte da panturrilha”, diz o empresário.
“Ele está nadando todos os dias, fazendo trabalho na piscina e vai poder surfar logo mais. Mas é um profissional de alto nível, não dá para correr o risco de sofrer outro tipo de lesão. Está tudo cicatrizado, maravilha. Mas como a musculatura está fragilizada, pode sofrer lesões em outras áreas, como panturrilha. Ele está se sentindo super bem. Não tem pressa para voltar, sabe o valor dele”, completa.
Graças ao excelente preparo físico e a seriedade com que Yago cuidou de sua recuperação, Daniel conta que até mesmo os médicos mais experientes ficaram “abismados” com a evolução do atleta.
“A mentalidade está excelente, com toda a tranquilidade. Todos os médicos ficaram abismados com a recuperação dele. Tirou ontem (o robofoot), já saiu andando e sem dor”, comemora o empresário.
Saiba mais sobre a lesão e a cirurgia
“Aconteceu em um aéreo reverse de frontside. A prancha escapou dos meus pés e na hora que aterrissei, foi só com o pé de trás e no meio da prancha, por isso torci o pé”, definiu Yago Dora em entrevista exclusiva ao Waves.
“Fomos ao hospital fazer todos os exames para detectar a lesão. Também tivemos consulta com o Dr. Raphael Remor, que é nosso médico de confiança e especialista em pés e tornozelos. Para esse tipo de lesão, a melhor saída geralmente é a cirurgia”, conta o brasileiro.
O médico que fez a cirurgia, Dr. Raphael Remor, deu detalhes sobre o procedimento.
“O Yago sofreu uma lesão ligamentar em uma região de transição entre o médio-pé e antepé, onde existe um complexo ligamentar chamado complexo ligamentar de Lisfranc. Nesse complexo ligamentar existe um ligamento propriamente dito chamado ligamento de Lisfranc. O Yago fez uma ruptura exclusiva desse ligamento”, comentou o Dr. Raphael, que também revela o motivo da cirurgia ter sido necessária. “A ruptura desse ligamento pode resultar em uma instabilidade articular nessa região do pé, que faz a transferência da energia do 2º para o 3º rolamento durante a marcha, incapacitando o caminhar, correr e saltar, e muitas vezes até mesmo ficar de pé. O Yago tinha uma grande instabilidade articular entre o 1º e o 2º raios do pé esquerdo”.
Durante a cirurgia foi utilizada uma nova tecnologia. “Devido à presença da instabilidade apenas do ligamento de Lisfranc, com os restantes ligamentares componentes do complexo íntegros, a técnica utilizada na cirurgia foi a reconstrução ligamentar com botões de sutura com fios de alta resistência, de polietileno e poliéster. Uma tecnologia muito atual desenvolvida por uma grande empresa americana situada em Naples (Flórida – EUA)”, conta o Dr. Raphael Remor.
Yago ficou sem apoiar o pé esquerdo no chão por algumas semanas, mas seguiu mantendo o preparo físico em dia com uma equipe multidisciplinar. “Desde 2020 eu tenho feito um trabalho bem sério com uma equipe completa, pra me deixar o melhor preparado possível para o circuito. Trabalho com o Rafael Maldonado (preparador físico), Paulo Viteritte (nutricionista), Kaue Mariano e Atef Yassin (fisioterapeuta), Dr. Franz Burini (medicina esportiva e preventiva), Leandro Dora (meu pai e treinador), Daniel Cortez (manager) e agora o Dr. Raphael Remor, que monitorará a minha recuperação”, explicou o top da elite mundial.
O Dr. Raphael também falou sobre o trabalho pós-cirurgia. “A cirurgia foi realizada com essa técnica exatamente para proporcionar a mais alta estabilidade articular, permitindo que os treinos funcionais não fossem interrompidos. Obviamente, o educador físico Rafael Maldonado, e os fisioterapeutas Kaue e Atef, adaptaram uma série de treinos para o Yago de modo que ele mantivesse o condicionamento físico, entretanto, sem pisar com a perna esquerda no chão por seis semanas. Também foi adaptada uma nova dieta pelo nutricionista Paulo Vitterite, pensando na manutenção da massa muscular”.
“Esse complexo ligamentar de Lisfranc ocorre em uma região do pé de alto estresse mecânico, e o ligamento de Lisfranc é um ligamento embebido em líquido sinovial. Isso significa que são ligamentos de lenta cicatrização. O tempo estimado para a cicatrização completa é de 12 semanas, sendo seis sem pisar no chão”, explicou o Dr. Raphael. “Nosso atleta tem uma mente muito equilibrada e estava no auge do condicionamento físico, portanto deve tirar de letra esse obstáculo, que é apenas mais um na sua trilha de campeão”.
“Meu foco principal virou me recuperar da lesão da melhor maneira possível, sem me apressar para retornar ao circuito, porque quero fazer tudo bem feito nessa recuperação. Voltarei assim que me sentir preparado para voltar e fazer bonito”, explicou Yago.
O surfista também deixou o seu recado para os fãs: “Agradeço a todos que estão mandando boas energias para a minha recuperação! Podem ter certeza de que estou dando tudo de mim e logo vou estar 100% para voltar para onde amo estar, que é surfando no circuito mundial”.
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