Um monitoramento aéreo feito pelo Instituto Baleia Jubarte confirmou a recuperação da população brasileira da espécie, estimada em 25 mil animais na temporada 2022, comparável ao total existente há 200 anos, que era de 27 mil a 30 mil animais.
O censo é realizado a cada três anos e cobre 6,2 mil quilômetros entre a divisa do Ceará com o Rio Grande do Norte até o litoral norte de São Paulo. O trabalho confirma que a população brasileira da espécie se encontra perto da recuperação total.
Márcia Engel, bióloga e coordenadora dos Censos Aéreos do Instituto Baleia Jubarte, explicou que o estudo ocorre desde 2001. Segundo ela, o monitoramento é um dos mais extensos do mundo.
“Percorremos 6.204 quilômetros, sobrevoando a plataforma continental brasileira desde a linha de praia até o talude, entre os estados de São Paulo e Rio Grande do Norte”, informa Márcia Engel, bióloga do Instituto Baleia Jubarte.
O censo aéreo, realizado no pico da temporada reprodutiva das baleias jubarte, é como uma fotografia do momento em que praticamente toda a população brasileira da espécie migrou para nossas águas e nenhuma ainda iniciou a migração de retorno para a Antártida.
O trabalho, destaca a pesquisadora, permite identificar os locais de concentração, sobrepondo essa informação às atividades humanas, como rotas de navios e pesca, e propondo medidas para reduzir o risco de impactos negativos como a colisão com navios e o emalhamento em redes de pesca.
Em 2022, o censo registrou o recorde de animais, com uma estimativa de cerca de 25 mil baleias jubarte em nossas águas. Este número se aproxima do tamanho original dessa população de baleias antes da caça comercial, que era entre 27 mil e 30 mil animais. Mas essa população foi reduzida a cerca de 500 a 800 por causa da caça predatória.
“Este achado é motivo de muita comemoração, uma vez que está na contramão da extinção em massa de espécies que o planeta vem experimentando no momento atual”, ressaltou.
A bióloga explicou a Ecoa que a moratória internacional, estabelecida pela Comissão Internacional da Baleia em 1986 e decretada no Brasil em 1987 por meio do Decreto-lei 7643, proibiu a captura comercial de baleias nos oceanos do planeta, permitindo, assim, sua lenta, mas gradual, recuperação.
O Brasil, continua Márcia Engel, atua junto à Comissão Internacional da Baleia para a manutenção dessa moratória. Os esforços diplomáticos dos países conservacionistas têm sido bem-sucedidos e os países ditos “caçadores”, como Japão e Noruega, não conseguiram, ao longo desses anos, restabelecer a caça comercial de baleias.
“Com isso, espécies como a baleia jubarte e a baleia franca estão se recuperando. Existem outras ações, como por exemplo o estabelecimento de rotas de navegação de barcaças nas áreas de menor concentração de baleias, principalmente filhotes, no grande berçário reprodutivo no Brasil, que é o banco dos Abrolhos. Isso também é importante para manter a saúde dessa população de baleias”, disse.
O censo aéreo, que os pesquisadores consideram ser o mais extenso do mundo para o estudo de baleias, acontece há 21 anos. O acompanhamento da população de jubartes abrange a linha de costa até uma profundidade de cerca de 500 metros, já que as jubartes preferem ficar sobre a plataforma continental quando chegam ao país para se reproduzir.
Segundo a pesquisadora, a realização do censo na primeira quinzena de agosto, que corresponde ao pico da temporada reprodutiva, permite obter uma “fotografia” adequada da presença das jubartes no Brasil, em um momento em que praticamente todas as que migraram das áreas de alimentação nas águas subantárticas já chegaram, e nenhuma ainda iniciou a migração de volta.
Foram avistados nos sobrevoos 643 grupos de baleias jubarte. Um dos fundadores do Projeto Baleia Jubarte que acompanhou todo o esforço de proteção da espécie nesses últimos 34 anos, Enrico Marcovaldi relembra que quando o trabalho começou, durante a implantação do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, meados da década de 80, nem sequer sabia que as jubartes ainda existiam por lá.
“A sensação é do dever quase cumprido. Quase, porque sempre temos que atuar para evitar que elas voltem a ser ameaçadas por impactos das atividades humanas”, diz Enrico Marcovaldi, fotógrado do Instituto Baleia Jubarte.
Com a constatação de que havia uma população sobrevivente de talvez umas 500 baleias na região é que se iniciou o Projeto Baleia Jubarte. “Depois dessas décadas de atuar na proteção delas, ver agora essa população quase totalmente recuperada dá uma enorme alegria”, completa ele.
O censo aéreo também permite identificar e avaliar as áreas onde atividades humanas possuem mais potencial de interagir com presença das baleias.
Fonte Portal UOL