Os baiacus têm uma toxina letal chamada tetrodotoxina, presente em sua pele, carne e órgãos internos, que bloqueia a ação dos nervos. Se consumida, essa substância é mortal para seus predadores, inclusive para os seres humanos. A ideia de que os golfinhos usam essa toxina para ficarem “drogados” começou com o documentário Dolphins: Spy in The Pod de 2014 da BBC One.
Gravado pelo cineasta John Downer, o documentário mostrou golfinhos mordendo um baiacu e, depois de algum tempo, soltando-o e passando para outro golfinho. De acordo com o documentário, pequenas doses da tetrodoxina presente na pele, carne e órgãos internos dos baiacus têm efeito narcótico e podem ser usadas como recreação pelos golfinhos.
Rob Pilley, um zoólogo e produtor na série, disse ao Sunday Times que “este foi um caso de golfinhos jovens experimentando propositalmente algo que sabemos ser intoxicante”. Segundo o documentário, após mastigarem levemente o baiacu, os golfinhos começaram a agir de uma forma peculiar, nadando com o nariz para a superfície como se estivessem fascinados por seu próprio reflexo.
Essa interação entre golfinhos e baiacus também foi observada em 2017, na costa oeste da Austrália. Krista Nicholson, pesquisadora da Universidade Murdoch, observou o mesmo comportamento: golfinhos segurando um baiacu na boca e depois o jogando ao redor para os colegas.
Por mais que pesquisadores de golfinhos nunca tenha observado esses animais intoxicados na natureza, Jason Bruck, pesquisador da Universidade de Chicago, que estuda as memórias dos golfinhos, disse à NBC News que acredita ser possível, uma vez que outros animais tenham comportamentos parecidos, como os elefantes que se embebedam com frutas fermentadas.
Contudo, enquanto alguns biólogos marinhos acreditam que os golfinhos estejam usando os baiacus para ficarem drogados, outros discordam, incluindo Nicholson. De acordo com a pesquisadora, essa teoria não é cientificamente comprovada. Para Nicholson e outros cientistas, a tetrodotoxina apenas faz com que os golfinhos se sintam se sintam entorpecidos (dormentes), não chapados.
“Eles são criaturas muito brincalhonas. Muitas vezes os vemos brincando com qualquer objeto que tenham como ervas marinhas e muitas vezes os vemos brincando com caranguejos”, disse Nicholson ao The Huffington Post Australia.
Christie Wilcox, blogueira do Discover Science, também não vê muito sentido em usar a toxina do baiacu para ficar chapado. Segundo ela, “toda droga ilícita tem uma coisa em comum: ela altera a mente. Está bem aí na definição de narcótico. A tetrodotoxina, no entanto, não atravessa a barreira hematoencefálica, não altera a percepção ou aumenta a sensação.” .
Wilcox acredita que, em pequenas doses, a tetrodotoxina pode causar dormência e uma sensação de formigamento. O mesmo pensamento de Nicholson. Sobre ficarem fascinados por seu reflexo na água, como indica o documentário da BBC, Diana Reiss, pesquisadora de cognição de golfinhos no Hunter College, disse à NBC News que “quando não estão intoxicados, também ficam fascinados por seu reflexo”.
O fenômeno da interação entre golfinhos e baiacus também foi observado em uma pesquisa de 1995 que notou o comportamento com golfinhos-nariz-de-garrafa em Portugal, de acordo com New York Post.
As informações são de Nicole D’almeida, do portal UOL.