Em maio de 2018, o pescador britânico Mark Berryman, 21, foi levado ao hospital após o ataque de um tubarão anequim, espécie nativa das águas temperadas do Atlântico e comum em ambos hemisférios. O tubarão anequim pode ultrapassar os 2,5 metros de comprimento e é um dos mais comuns encontrados por pescadores nas Ilhas Britânicas.
Neste caso específico, a mordida chegou até o músculo e não ameaçou a vida de Berryman. Normalmente, o tubarão anequim – como quase todas as outras espécies de tubarão – sai do caminho para evitar humanos, e os ataques são raros.
A diferença aqui é que o tubarão foi pego em uma rede de pesca do barco de Berryman, e o ataque aconteceu a bordo do navio, não em alto-mar. Indiscutivelmente, o ataque não foi um ataque feito por um predador, mas sim em uma tentativa desesperada de sobrevivência de um animal preso.
De acordo com o Museu da Flórida (EUA), em 2017 houve 88 ataques de tubarões a seres humanos com cinco fatalidades. Enquanto isso, um relatório de 2013 publicado na revista Marine Policy estima que entre 63 milhões e 273 milhões de tubarões são mortos por humanos todos os anos. Assim, cerca de 11.417 tubarões são mortos por humanos a cada hora, muitos na busca ilegal por suas barbatanas, como no caso do anequim que atacou Berryman.
No entanto, nem todas as mortes de tubarão são para fins comerciais. De dezembro de 2014 a março de 2017, o governo do oeste australiano implementou o “Shark Cull” (abate de tubarões) depois de sete mortes humanas entre 2010 e 2013. Durante o abate, 72 linhas de tambor foram colocadas no oceano para enganchar os tubarões. O projeto custou 20 milhões de dólares australianos e gerou muita polêmica entre governo e civis que eram contra o abate.
Foi este abate autorizado pelo governo australiano que deu o lampejo para o observador britânico Collin Brooker, de 56 anos, que decidiu vender todos os seus negócios em Cardiff, no Reino Unido, para apostar em uma solução viável de como manter seres humanos e tubarões em harmonia, sem prejudicar o ecossistema dos bichanos.
Depois de quatro anos de pesquisa e desenvolvimento, Brooker acredita que conseguiu encontrar uma solução a partir de um método inusitado. “Pensei que se nós pudéssemos criar um cheiro que o tubarão não goste, nós teríamos algo. E os tubarões geralmente não são canibais, então pensei que o cheiro de um tubarão podre poderia assustar outro”, conta Brooker.
O conceito não é novo. Pescadores rebocam carcaças de tubarões mortos atrás de seus barcos há anos com objetivo de proteger suas capturas. Mas Brooker queria transformar isso em uma solução mais prática para banhistas e surfistas.
Brooker ligou para a empresa farmacêutica CatSci, com sede em Cardiff, que começou a minerar quimicamente amostras de tubarão e mapear 60 componentes químicos possíveis responsáveis pelo cheiro desagradável de suas carcaças. Em seguida, ele reduziu isso a seis possíveis “repelentes”.
Apoiado pelo filho, Brooker recrutou mergulhadores para testar os repelentes nas águas infestadas de Fish Hook Bay, África do Sul. Os mergulhadores liberaram uma variedade de misturas diferentes e, na segunda das seis tentativas, nenhum tubarão foi visto por cinco minutos, sem afetar a vida marinha ao redor.
Agora, depois de investir 250 mil libras do seu próprio dinheiro, Brookers se diz pronto para lançar o produto em um futuro próximo. E ele ganhou apoio de entidades como o Centro de Gestão de Riscos de Tubarão das Ilhas Reunião, departamento francês, que prometeu testar de forma independente o repelente, juntamente com outras soluções inovadoras, incluindo drone, sonar, barreiras físicas e outros dispositivos repelentes.
Brooker acredita que seu repelente está a apenas 18 meses de ser concluído. “Há um ano nós comandávamos um café. Agora estamos dizendo às autoridades francesas como fazer as coisas ”, diz Brooker. “Gastamos 250 mil libras até agora, dinheiro gerado pela venda dos nossos negócios no Reino Unido, das minhas pensões privadas e da venda da nossa casa. Estamos arriscando tudo por isso”, completa o britânico.
Matéria originalmente publicada na revista Wired.