Guarda do Embaú

Dragagem divide opiniões

Trabalhos de recuperação emergencial nas margens do Rio da Madre causam divergências entre moradores da Guarda do Embaú (SC); comitê gestor da Reserva Mundial de Surf se posiciona a favor da obra.

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Rio da Madre é um dos cartões-postais da Guarda do Embaú.

Os trabalhos de recuperação emergencial nas margens do Rio da Madre, Guarda do Embaú, vêm causando divergências entre moradores da paradisíaca praia do litoral catarinense, de acordo com matéria publicada no jornal Palhocense.

Segundo a Prefeitura, a reparação dos danos causados por eventos climáticos é necessária para prevenir perdas humanas e materiais, além de promover a recuperação de margem do corpo hídrico para fixação de postes de distribuição de energia e acesso às casas, além da recomposição de duna afetada. Com orçamento de R$ 350 mil, as obras começaram em 28 de julho e devem ir até o mês de outubro.

Desde o início do ano, moradores das margens do Rio da Madre têm visto as sucessivas ressacas encurtarem a faixa de areia, colocando à prova a estrutura das casas locais. Uma cartilha, compartilhada por moradores da comunidade nas redes sociais, expõe justificativas para a execução da medida emergencial para a recuperação do trecho erodido.

Uma delas seria justamente a ocorrência frequente de ciclones subtropicais e ressacas que o território catarinense vem enfrentando nos últimos meses. De acordo com o texto, esses processos fazem com que as restingas sejam reduzidas, causando insegurança aos residentes que vivem às margens do rio.

Segundo informações da Prefeitura, a recomposição não trará prejuízos ambientais, colocando o rio em seu lugar de origem com materiais extraídos da própria praia. A obra faz parte de um projeto de mitigação e prevenção da Defesa Civil e demais órgãos.

Ressacas e ciclones subtropicais causam insegurança aos residentes que vivem às margens do Rio.

Apoio da RMS

Em nota divulgada na última segunda-feira (10), o comitê da Reserva Mundial de Surf (RMS) Guarda do Embaú se posicionou a favor da obra emergencial de desassoreamento. Apesar de considerar a questão ambiental envolvida, o comitê afirma que a medida é necessária para contribuir para o turismo, profundamente afetado desde o Carnaval, quando uma ressaca gerou grande movimentação de areia na foz do rio, mudando o curso da água.

Na ocasião, segundo o comitê, houve deposição de areia numa das margens, provocando erosão na margem junto à vila. “É um dos principais produtos da comunidade e foi muito abalado pela pandemia da Covid-19 e por este fenômeno climático”, explica a nota.

O comitê sugere que a próxima meta do Poder Público seja a realização de pesquisas aprofundadas com especialistas e com a comunidade sobre as condições históricas e hidrodinâmicas do local: “A situação atual na foz do rio é reincidente, e, por mais de uma vez, já nos deparamos com ela e muito provavelmente estaremos lidando ainda em vários momentos da história deste ambiente e da comunidade que o ocupa”.

Já o presidente da Associação de Surf e Preservação da Guarda do Embaú, Nodin Silveira, explica que o processo de desassoreamento é importante para a qualidade das ondas, que tendem a ficar mais longas e tubulares: “Sempre foi um diferencial para nossa praia”.

Obra emergencial vai até outubro e está orçada em R$ 350 mil.

Nem todos concordam

Sandra Jovelina Laurindo, moradora que vive na Guarda do Embaú há 30 anos e uma das administradoras da página no Instagram “Guarda Soul”, relata que, para ela, um dos problemas é a falta de transparência do Poder Público. De acordo com Sandra, o rio não sofreu assoreamento. “A última vez que o rio fechou foi em 2018, e foi cíclico, devido à falta de chuva e maré baixa”, relembra. Ela conta que, com a chegada da chuva, o rio tende a se abrir naturalmente: “O aterro é para salvar casas que avançaram área públicas e encheram a margem de entulho”.

O grupo SOS Rio da Madre, por meio de suas redes sociais, também se manifestou a respeito dos trabalhos de recuperação da orla. Eles defendem que obras de desassoreamento e de engordamento das praias deveriam ser fundamentadas por estudos técnicos rigorosos, a fim de que não haja aumento nos eventos causados pelas ações climáticas. “Nesse ponto, deparamos com o caráter emergencial em que essas obras são concebidas e desvinculadas da prevenção”, afirma o grupo, em publicação.

O posicionamento é baseado em dados do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, que assinala que a adoção estratégica seria a conservação e recuperação de ecossistemas naturais como medida de adaptação e mitigação desses impactos: “Nas margens dos rios e praias, construímos estruturas rígidas, que intensificam os processos erosivos a montante e a jusante do fluxo de água”.

Imagem de 1970 do Rio da Madre: paisagem foi sendo alterada nas últimas décadas.

Esclarecimento da Prefeitura

A Prefeitura explica que a obra de desassoreamento tem caráter emergencial, a pedido da Defesa Civil, por conta dos riscos estruturais das moradias locais. A reconstituição da faixa de areia vai acontecer em frente à vila, em 20 metros à frente das residências, ao longo de 350 metros da orla esquerda do Rio da Madre.

A Prefeitura assegura que a areia utilizada será retirada do próprio local. “O único acesso dessas pessoas, para suas residências, é por ali”, informa. As obras de desassoreamento buscam também retomar o curso natural do rio, alterado pela grande quantidade de fenômenos climáticos ocorridos neste ano.

De acordo com a Prefeitura de Palhoça, não haverá danos ou prejuízos ambientais durante o trabalho recuperação da orla. O município garante também que as atividades pesqueiras, turísticas, de travessia de barcos e de segurança voltarão à normalidade, sem perigo de queda de postes e desabastecimento de água.

A possível criação de uma rua na orla também é preocupação de alguns munícipes. Segundo as equipes responsáveis, no entanto, não haverá construção de vias, e os entulhos serão retirados do local. “Haverá apenas mais escoamento da água que atingiu as residências, e aterramento com material local”, informa a Prefeitura.

Fonte Sofia Mayer / Palhocense