Os esportes relacionados ao oceano desempenham um papel crucial no avanço da economia azul, promovendo inovação, inclusão e conscientização ambiental. Para Stewart Sarkozy, diretor do World Ocean Council (WOC), essa conexão vai além da prática esportiva, ajudando a moldar um futuro mais sustentável para os mares e as comunidades costeiras.
Sarkozy está no Brasil para participar do Tomorrow.Blue Economy, maior evento global sobre economia azul, que ocorreu nos dias 4 e 5 de dezembro em Niterói (RJ). Promovido pela empresa pioneira em cidades inteligentes, iCities, em parceria com a Prefeitura de Niterói e a Neltur, o evento é chancelado pela Fira Barcelona e traz para o público debates e experiências que destacam a importância da economia das águas para a sociedade.
A programação incluiu painéis sobre resiliência costeira às mudanças climáticas, economia azul e esportes, portos sustentáveis e tecnologias inovadoras. Além disso, uma área destinada a negócios e inovações apresentou soluções que já estão transformando a qualidade das águas.
Em conversa exclusiva com o Waves, Sarkozy compartilhou suas percepções sobre o impacto dos esportes na economia azul, as oportunidades para o Brasil nesse contexto e a importância de uma abordagem multissetorial para equilibrar crescimento econômico e preservação ambiental. Confira a seguir.
Waves: Em sua opinião, qual é o papel dos esportes, especialmente os relacionados ao oceano, no desenvolvimento da economia azul?
Stewart Sarkozy: Essa é uma excelente pergunta. Na verdade, comentei sobre isso durante o painel. Os esportes, particularmente os relacionados ao oceano, podem ter um impacto significativo no avanço da economia azul. Pense em como os barcos são construídos: os materiais utilizados, as tecnologias incorporadas e como são navegados. Tudo isso está diretamente ligado à inovação e à sustentabilidade.
Em um nível mais pessoal, como alguém que já ensinou crianças a velejar, vejo que essas atividades vão além do esporte – elas ensinam ciência, física e consciência ambiental. Velejar, por exemplo, faz você se tornar altamente consciente das forças naturais, como o funcionamento do vento, das correntes e das marés. Também ajuda a compreender a física, como a interação do vento com as velas, e destaca questões ambientais, como a poluição por plásticos ou a contaminação da água.
Além disso, os esportes estabelecem precedentes. Eles podem liderar o caminho na promoção da equidade, diversidade e inclusão, envolvendo mulheres, jovens e até gerações mais velhas. Ao ensinar com materiais e práticas sustentáveis, podemos construir uma base sólida para o futuro. O impacto dos esportes na economia azul é imenso, e eu poderia falar sobre isso por horas!
Waves: Quais oportunidades econômicas e ambientais você enxerga para o Brasil no contexto do desenvolvimento sustentável dos oceanos?
Stewart Sarkozy: O Brasil está em uma posição única para aproveitar seu vasto potencial no desenvolvimento sustentável dos oceanos. Como discutimos durante esta conferência, a extensa costa brasileira e seus abundantes recursos naturais oferecem uma vantagem significativa. Já existem esforços relevantes em andamento para gerenciar e proteger o ambiente marinho.
No entanto, há espaço para melhorias, especialmente na formulação de políticas e no financiamento de iniciativas que enfatizem a sustentabilidade. As universidades brasileiras têm historicamente estado na vanguarda da pesquisa sobre oceanos e podem continuar liderando nesta área. A enorme extensão territorial e os recursos naturais do Brasil fazem do país uma potência global no desenvolvimento de soluções sustentáveis para a economia azul. As oportunidades são imensas, mas exigem ações coordenadas entre os diversos atores.
Waves: Quais são os principais desafios enfrentados pelas empresas que buscam implementar práticas de “Responsabilidade Corporativa Oceânica”?
Stewart Sarkozy: Na nossa organização, observamos que os desafios variam de acordo com a empresa. Startups focadas em soluções baseadas na natureza, como cultivo de algas ou outras inovações oceânicas, enfrentam obstáculos diferentes em comparação com grandes corporações. Essas startups precisam de apoio para integrar a sustentabilidade em suas operações.
Para muitas empresas, o maior desafio é a transição de modelos tradicionais para abordagens mais sustentáveis e inovadoras. A colaboração e a inovação são fundamentais para superar essas barreiras.
Waves: Como governos, setor privado e comunidades locais podem trabalhar de forma mais eficaz para equilibrar o desenvolvimento econômico e a conservação dos recursos marinhos?
Stewart Sarkozy: Durante o painel, discutimos uma iniciativa que chamamos de “Blue Glue” (Cola Azul). Esse conceito gira em torno da criação de um framework coeso que conecta diferentes stakeholders na economia azul. A iniciativa se concentra em quatro pilares: educação, colaboração, políticas públicas e inovação.
Trata-se de envolver tanto os atores tradicionais quanto os menos usuais – governos, ONGs, corporações e comunidades locais. Por exemplo, as instituições educacionais desempenham um papel crítico, desde o ensino de crianças pequenas sobre o oceano até a oferta de programas avançados em nível de pós-graduação.
Um futuro azul para o Brasil
A entrevista com Stewart Sarkozy ressalta que os esportes oceânicos são mais do que lazer ou competição: são uma porta de entrada para inovação, inclusão e conscientização ambiental. Mais do que nunca, essas práticas desempenham um papel estratégico na conscientização sobre o impacto humano nos oceanos e no desenvolvimento de soluções sustentáveis para a economia azul.
Com sua vasta costa e recursos naturais, o Brasil tem um enorme potencial para liderar essa transição global. No entanto, como Sarkozy destacou, o sucesso dessa jornada depende de esforços coordenados entre governos, setor privado, comunidades locais e instituições educacionais, além de investimentos sustentáveis e políticas públicas eficazes.
Iniciativas como o Tomorrow.Blue Economy mostram que o país está no caminho certo, promovendo debates, conexões e avanços que já estão transformando a qualidade das águas. A educação e a colaboração entre os diversos atores são os alicerces de um futuro onde desenvolvimento econômico e preservação ambiental caminhem juntos.
Para saber mais sobre o trabalho do World Ocean Council e sua abordagem multissetorial para os desafios dos oceanos, acesse o site oficial.