Em 2024 acontecerão as eleições municipais em todo o país. Talvez esta seja a derradeira oportunidade de salvar o que resta do litoral de São Paulo. São visíveis os estragos na paisagem, na biodiversidade, e na qualidade de vida dos municípios costeiros.
O jornalista João Lara Mesquita retomou as gravações do Mar Sem Fim no YouTube e visitou atentamente a zona costeira paulista. A impressão que ficou é de terra arrasada. Paisagens desfiguradas, qualidade de vida descendo a ladeira, ecossistemas como manguezais, restingas, praias, e até costões, degradados.
Por que não participar mais ativamente das eleições?
João acredita que os municípios mais visados pela especulação imobiliária não aguentem mais quatro anos de abusos. Como municípios ‘mais visados’, entendam-se as estâncias balneárias.
Simultaneamente, percebeu um grande desalento e revolta dos próprios moradores, como nunca antes havia sentido. Caiçaras, há anos desprezados pelos prefeitos, reclamaram quase que unanimemente. E não se acanharam em usar palavras e expressões fortes para descrever o abandono em que vivem suas cidades, e a queda na qualidade de vida.
Ao mesmo tempo, depoimentos de turistas, e proprietários de casas de segunda residência, decepcionados e amargurados com o futuro dos locais que escolheram para descansar ou passar suas férias. Da mesma forma que os caiçaras, as reclamações são quase generalizadas.
Ilhabela, Ubatuba, São Sebastião, Caraguatatuba e Ilha Comprida – Estes não são os únicos municípios costeiros maltratados, mas estão entre os piores, justamente por serem os mais visados pelo flagelo da especulação. Além disso, nesta nova temporada de documentários, foram neles que João esteve por mais tempo.
1967: litoral entre Rio e São Paulo – João começou a frequentar aos 12 anos de idade. Naquela época, o litoral entre São Paulo e Rio de Janeiro era praticamente prístino. Com pai pescador apaixonado, ambos navegavam de Santos ao Rio todos os anos.
Com exceção de uma dúzia de construções em São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba, todo o resto era formado por uma pujante mata atlântica, com vistosas restingas e manguezais. As praias, quase a totalidade, desocupadas, ou ocupadas apenas por caiçaras que souberam manter as paisagens e os ecossistemas.
O equilíbrio dinâmico das praias – Porque as praias estão assentadas sobre o que os especialistas chamam de equilíbrio dinâmico. Ou seja, praias se mexem, e assim devem permanecer se quisermos conservá-las. Em outras palavras, este espaço de transição entre o mar e a terra é extremamente frágil, formado por bilhões de grãos de areia, e fustigado por ventos, correntes, ressacas e, agora, pelos eventos extremos como o que soterrou 65 pessoas em São Sebastião. Por isso as praias se mexem.
Ao construir na areia, ou muito próximo dela, quebra-se este encanto. Ou seja, impede-se o equilíbrio dinâmico que faz com que partes da praia, tragadas naturalmente de tempos em tempos, sejam repostas pelas das dunas, ou as areias anteriores às da praia, ou até mesmo por sedimentos dos rios que deságuam no mar e que, depois, as ondas constantes os levam novamente à orla.
Desse modo, o embate antes equilibrado entre mar e terra passa a ser desequilibrado. Como consequência, aumenta a natural erosão da costa.
Verticalização e corte de ecossistemas adjacentes – Uma vez esgotados estes espaços, começam os processos de verticalização, ao mesmo tempo em que os ecossistemas adjacentes, todos protegidos pela legislação ambiental, passam a ser decepados pelas prefeituras e empreendedores inconsequentes para mais construções: assim grande parte dos manguezais e restingas do litoral desapareceram.
Fonte Mar Sem Fim