A busca por fontes de energia renovável ganha um novo capítulo com a energia das ondas. Em Newport (EUA) um ambicioso projeto está transformando o poder do oceano em eletricidade. Localizada a poucos quilômetros da costa, uma série de dispositivos flutuantes, semelhantes a boias gigantes, capta a energia cinética das ondas e a converte em energia elétrica.
Com um investimento de US$ 100 milhões (R$ 581 milhões), esse empreendimento, financiado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, tem como objetivo gerar até 20 megawatts de energia limpa, o suficiente para abastecer uma pequena cidade. Essa iniciativa coloca Newport na vanguarda da pesquisa e desenvolvimento de tecnologias marinhas.
Com o objetivo de descarbonizar a matriz energética, os EUA investem cada vez mais em fontes renováveis alternativas ao sol e ao vento. A energia das ondas, constante e abundante, surge como uma promessa promissora. Diferente da eólica, que enfrenta forte oposição, os projetos de energia das ondas são menos controversos.
Em setembro, o governo Biden destinou US$ 112,5 milhões (R$ 653,97 milhões) para o desenvolvimento dessa tecnologia, o maior investimento federal em energia marinha até o momento. Segundo Matthew Grosso, do Departamento de Energia, o potencial das ondas americanas é capaz de abastecer um terço de todas as residências do país.
Abrangendo uma área de 686 km² e situado a 11 km da costa, o local de testes do PacWave é considerado um marco para o futuro da energia marinha. Submersos, conectores aguardam para serem conectados aos conversores de energia das ondas, permitindo testar sua eficiência, durabilidade e impacto ambiental em condições reais. O projeto, liderado pela Universidade Estadual do Oregon, é fundamental para viabilizar a produção comercial de energia das ondas.
“A pesquisa que foi feita nos últimos 15 anos está chegando ao ponto do que podemos fazer apenas em laboratórios ou na teoria”, diz Grosso. “Temos que começar a testar algumas dessas coisas e ver o que funciona e o que não funciona”.
Como funciona – Ao contrário da energia eólica, que se padronizou em turbinas de três pás, a conversão de energia das ondas ainda é um campo em constante evolução. Diversos modelos de conversores estão sendo desenvolvidos, cada um explorando diferentes formas de transformar o movimento das ondas em eletricidade. A energia das ondas, embora poderosa e abundante, apresenta desafios únicos devido à sua natureza complexa e não linear.
A variedade de conversores de energia das ondas é uma resposta à diversidade de ambientes marinhos. Cilindros giratórios, boias oscilantes e dispositivos articulados são apenas alguns exemplos dos designs em desenvolvimento. A escolha do modelo mais adequado depende de fatores como profundidade da água, altura das ondas e características do fundo marinho. Embora os princípios básicos sejam os mesmos (converter o movimento das ondas em energia elétrica) a forma como essa conversão ocorre varia significativamente entre os diferentes dispositivos.
Todos esses dispositivos usam o movimento oscilante ou orbital de uma onda para gerar uma corrente elétrica, explicou o cientista-chefe da PacWave, Burke Hales, da mesma forma que as turbinas usam rotações para gerar uma corrente.
O local de testes, equipado com quatro ancoradouros, permite a instalação e o teste simultâneos de diferentes tecnologias de conversão de energia das ondas. Cabos submarinos, com um trajeto de 12 milhas, transportam a energia gerada até a rede elétrica, evitando um recife rochoso. Em terra, um local de operação mede a produção de energia e a envia para a concessionária de energia Central Lincoln. Embora a presença dos conversores seja esperada para o final do ano, seu impacto visual nas praias de Newport deve ser mínimo.
Coexistência com a pesca – A área do PacWave, tradicionalmente utilizada por pescadores para capturar caranguejo Dungeness, um dos principais frutos do mar da Costa Oeste norte-americana, agora abriga um projeto de energia das ondas. Diferentemente de projetos eólicos que geraram grande oposição, a iniciativa da PacWave tem encontrado apoio da comunidade local, em parte devido ao seu porte limitado e à baixa probabilidade de impactar negativamente a pesca, principal atividade econômica da região.
Newport foi escolhida como local para o projeto PacWave devido à sua proximidade com a Oregon State University e à receptividade da comunidade pesqueira local. A cidade também abriga o Centro de Operações Marítimas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) para o Pacífico, o que facilita a colaboração e o acesso a recursos.
A PacWave também trouxe a promessa de empregos, disse Belinda Batten, que conduziu a divulgação da PacWave quando dirigiu o Northwest National Marine Renewable Energy Center do Departamento de Energia. Muitos na região se lembram de como a mudança da NOAA para Newport em 2011 criou oportunidades de emprego.
Talvez o mais importante seja que a OSU já tinha um relacionamento sólido com a comunidade, devido ao centro marinho da cidade, de acordo com Charlie Plybon, que mora em Newport e é gerente sênior de políticas do Oregon da Surfrider Foundation, uma organização sem fins lucrativos.
Fonte Estadão